O primeiro passo é dos pais
Muito se critica a atual geração de adolescentes. Também fui uma crítica contumaz do adolescente de hoje e confesso: mais por influência dos outros do que por conhecimento próprio sobre o novo perfil. Assim, repetindo opiniões alheias sem conhecimento de causa vivi pífio relacionamento com filho adolescente “de hoje”.
Para completar a caótica dinâmica dentro de casa, justificava minha incompetente atuação culpando toda uma geração dita “doente” por ser, antes de tudo, diferente de tudo o que conhecia. O que não sabia é que sabia muito pouco sobre a fase e o mundo atual.
Assim a profética fase se confirmava difícil em família e validava a opinião pejorativa sobre a adolescência. Juntos e distantes, o relacionamento ficou, de fato, doentio. Das barreiras evoluímos para uma completa desconexão até que criticar a nova geração pelas diferenças entre passado e presente passou a não mais justificar tanto conflito.
Desarvorada me senti sem saída senão me embrenhar no universo do que então chamavam “adolescente de hoje”. Precisava saber com quem afinal estava lidando. Decidida, comecei pelo começo: desvendando primeiro o perfil desta nova geração com estudiosos no assunto. Depois, quebrando paradigmas há décadas construídos e que tanto atrapalhavam minha relação com filho adolescente.
Dar o primeiro passo – e o segundo, terceiro e muitos outros – foi o começo de uma historia diferente da habitualmente assumida como normal Derrubou barreiras… me devolveu a filho adolescente… e ele, a mim para aprendermos – e crescermos – juntos na fase que é nova para os dois.
Filho adolescente de pais (in)conscientes
Na adolescência, pais e filhos invariavelmente vivem conflitos. Costumamos creditar aos distintos gostos e interesses a razão dos frequentes desencontros e, na maioria das vezes, lidamos com tais diferenças até com certa graça. Afinal, tudo muda na adolescência a ponto de passar a conviver com o insistente mantra adolescente do atual “saco, mãe!“.
Lembro de muitas situações similarmente vividas com meus pais e que hoje até me consolam como mãe de adolescente. Outras, por outro lado, me afligem: as duras críticas endereçadas ao que se denomina “adolescente de hoje”.
A fim de justificar nossa dificuldade de lidar – prefiro dizer conviver – com o jovem “de hoje”, nos tornamos seus algozes. Repetimos padrões de educação hoje ineficazes, insistimos em práticas de liderança ultrapassadas e, incompetentes na função acabamos por depreciar nossos jovens.
Desapercebidamente, incutimos neles nossa inabilidade de relacionamento com o diferente. Seja por preguiça ou por arrogância, o rotulamos por uma lente embaçada por deméritos. Cegos às suas qualidades, induzimos a doença entre nossos jovens. Nutrimos uma geração doente.
Facilmente absorvemos – e reproduzimos – discursos e opiniões perniciosas sobre o adolescente de hoje que naturalmente nos distanciam de quem mais precisa de nossa presença, ajuda e apoio para crescer saudável. O mundo mudou; disso já sabemos. O adolescente de hoje também e isso não é demérito: é fato que, com a lente certa, pode ser oportunidade de crescimento também para os pais e a sociedade.
Acompanhar e se atualizar de tais mudanças é mais do que trabalhoso e até assustador: é necessário. Conhecer o adolescente de hoje ágil, dinâmico e digital não é opção: é dever de pais conscientes de seu papel formativo e educativo neste mundo, sim, mais complexo e, por isso mesmo, ainda mais necessitado de adultos saudáveis.
As gerações
Costumava-se determinar as diferentes gerações a partir de um intervalo usual de vinte anos: dependendo do ano de seu nascimento, portanto, nos “enquadramos” em uma geração. A velocidade das transformações das ultimas décadas tem mudado esta convenção de modo que este espaço de tempo tem encurtado progressivamente a “classificação” das novas gerações subjacentes.
De qualquer modo, lidar com diferentes perfis a cada nova geração não é novidade. Foi assim também com as três últimas gerações (as chamadas “X”, ‘Y” e “Z”): diferentes entre si nos forçou a aprender novas competências para uma convivência minimamente saudável.
Portanto, conhecer as diferenças entre gerações ajuda não só a explicar mas também a entender os padrões de comportamento e “funcionamento” de determinado grupo etário. (Cons)ciente do novo perfil, conviver com o adolescente de hoje e e lograr na formação de adulto saudável para o mundo potencializa resultados por também aperfeiçoar nossa capacidade de relacionamento como seres humanos sociais que somos.
Geração X
Por exemplo: como eu, nascidos entre 1960-1980 viveram ideais e fizeram carreira no mercado. Eu mesma vi o surgimento do computador e de outras ferramentas digitais. Adulta, larguei sonhos em busca de emprego seguro e bens materiais duráveis. Mais tarde, rompi alguns paradigmas para ganhar liberdade e direitos. Minha geração, sem dúvida, zelou e valorizou a qualidade e durabilidade como bens desejáveis e de sucesso na vida.
Geração Y (ou Millennials)
Assim chamados os nascidos entre 1980-2000. A partir deles, o cenário começou a mudar mais significativamente. Livres e inovadores, os jovens desta geração viveram enorme exposição à internet e desenvolveram incrível habilidade com a máquina. Por consequência, também raciocínio lógico diferenciado em meio a imenso avanço tecnológico e prosperidade econômica.
Cresceram com mais “facilidades” propiciadas por pais atentos em lhes prover o que nunca tiveram. Em era globalizada, o perfil desta geração multitarefa usava a tecnologia com a destreza de quem cresceu neste habitat. Conectada, é geração ágil e prática: busca e encontra informação facilmente; digita em vez de escrever, lê em telas de dispositivos móveis, se relaciona virtualmente por redes sociais e, por fim, lida com várias e diferentes informações ao mesmo tempo naturalmente.
Geração Z
Os nativos digitais são, por exemplo, meus adolescentes, hoje jovens nascidos entre 2000-2010. Como a própria denominação sugere é geração nascida e familiarizada com a internet e sua enorme gama de possibilidades. Enquanto eu, “antiga e ultrapassada” luto para me adaptar a tais mudanças, estes estão muito além.
Não por acaso especialistas e estudos alertam sobre a direta relação de toda esta dinâmica extremamente veloz com o alto grau de ansiedade visto e vivido nos dias atuais. Sem dúvida, algo a mais para nos preocupar além das habituais questões que a adolescência por si só nos apresenta como desafios.
Mediante tanta informação, agilidade e dinamismo, o adolescente de hoje é isca vulnerável neste mundo diferente. Por conseguinte, mais propenso à doença do século: depressão. Aliado a tudo isso: é desapegado do material, preza por liberdade de pensamento e comportamento. Não quer ser tachado tampouco se limitar a seguir paradigmas passados. Nutre opinião própria e espera te-la respeitada e considerada.
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Adolescente de hoje, adulto de amanhã
Diante de tão significativas e profundas diferenças de perfis hoje não me espanto de ter vivido tamanha desconexão com filho adolescente de hoje. Justificar o descompasso por meio de clichês como o conhecido conflito de gerações foi frágil bengala usada para disfarçar meu desconhecimento e desinteresse por filho na fase de natural – e nas últimas décadas também rápidas e novas – mudanças.
Tamanha transformação do adolescente de hoje e do mundo nos trouxe também novas angústias. A ameaça de casos extremos de ansiedade, fobia social, cyber bullying e depressão na adolescência são algumas de nossas maiores preocupações e que nos exige atenção e vigilância redobradas no dia a dia.
Explicar o alto índice de tais doenças com respostas simplistas culpando a era digital definitivamente não ajuda tampouco resolve: nos distancia de filho e da solução que, particularmente vivida em casa, começou por conhecer o mundo de hoje junto com filho adolescente.
Também demonizei este mundo digital. Não só me perdi de filho como reforcei minha ignorância e negligência como mãe. Conhecer e entender o adolescente e o mundo de hoje de perto foi vital para a reconexão familiar e também social.
Parei de jogar a conta do mau relacionamento com filho adolescente de hoje para a atual geração doente. Em vez disso, decidi cumprir com propriedade e responsabilidade o dever de conhecer, entender e ajudar filho a ser adulto saudável para o mundo… apesar das mudanças e diferenças.
O adolescente por uma lente diferente da habitual
Conhecemos e nos dedicamos bem pouco a conhecer sobre o mundo e o adolescente de hoje. Somos ágeis em categorizar gerações uniformizando e generalizando indivíduos, inclusive filho. Continuamos a cair na cilada de recorrer a clichês adolescentes para justificar nossa ausência na vida de filho.
Lidar , melhor, conviver com filho adolescente é mesmo trabalhoso e hoje, mais complexo do que antes; mas não precisa ser ruim – como aliás, curiosamente, foi no passado: é diferente e demanda pais conscientes e competentes na busca de soluções diferentes das respostas simplistas e imediatistas de hoje.
De fato, formar adulto saudável para o mundo ficou mais desafiador … e a jornada de desenvolvimento humano ainda mais incrível e instigante a quem se propuser a enxergar e aprender a se relacionar por uma lente diferente da dura e habitual crítica ao adolescente de hoje.
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