Pensei ter perdido filho adolescente
É fato: vivemos na era digital. Bobagem ignorar os inúmeros e incríveis recursos disponíveis. Aliás, por que os ignoraria sabendo que o mundo evolui continuamente? Nada melhor do que usufruir daquilo que pode tornar a vida mais prática e, por que não, mais prazerosa. Apesar disso tudo, pensava ter perdido filho adolescente para a tecnologia.
Na verdade, o desconhecido amedronta. A agilidade das mudanças apavora. Por causa disso, nos apegamos a experiências passadas como meio de estabelecermos nossa zona de conforto. Respaldados por nossas verdades, vivemos a falsa segurança de ter resposta para tudo. Até que nos tornarmos pais de adolescente; somos, então, colocados à prova.
A culpa da tecnologia
Como eu, você provavelmente viveu o tempo em que computador era “coisa do futuro”. Inconsciente do que estava por vir, a internet foi apenas a ponta do iceberg do grande fenômeno chamado “era digital” (ou era da informação ou tecnológica). De repente, tudo ficou extremamente dinâmico, inclusive as relações humanas.
Diante de tanta informação, notícia, opinião e inúmeros canais de comunicação, me canso antes mesmo de me atualizar sobre os fatos que a cada instante surgem. Como que “trocando o pneu com o carro andando” por vezes me sinto refém de uma tecnologia que, a priori, deveria me servir. Ao invés disso, me subjuga e sufoca.
Essa relação nada amigável fez nascer minha antipatia pelo arsenal de recursos tecnológicos e, sem cerimônia, passei a culpa-los pelo meu mal relacionamento com filho adolescente.
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Quando as certezas viram possibilidades
Viver “o antes e o depois” de algo é penoso porque nos força a mudar, a deixar a segura e conhecida zona de conforto. Nela, naturalmente, usamos nosso repertório pessoal como guia pra desempenhar a função de pais de adolescente. Esquecemos, porém, que o tempo passa, o mundo evolui, o indivíduo muda. Independente de mim, uma nova história começa e minhas certezas se tornam… possibilidades.
Meu filho adolescente (e muito provavelmente o seu) nasceu neste cenário já “diferente”. Não conheceu o “antes e o depois” nem passou pela “transformação” dessa era. Desde o início, seu mundo é o atual digital em que tudo e todos se conectam virtualmente.
Essa realidade, familiar ao adolescente de hoje e extremamente estranha a mim, me assustou. Por conta dela, vivi situações que me levaram a pensar ter perdido meu filho para a tecnologia:
– Tomou seu remédio? – lhe perguntei enquanto jogava videogame.
– Mãe, agora não posso falar; estou no meio do jogo! – respondeu.
– Mas você acabou de falar! Dá, então, pra responder a pergunta? – devolvia irritada.
– Já tomei, mãe! Que saco!
Outra dia, curiosa sobre sua vida social, perguntei:
– Seus amigos estão sumidos… aconteceu alguma coisa?
– Nããão, mãe! Falamos todo dia pelo whatts! Aliás, dá licença que tô estudando com a galera aqui no grupo (virtual). Tenho prova amanhã. – falou me dispensando.
Quando pensava já conhecer a nova dinâmica da era digital, percebi que o aprendizado estava só começando.
Pensei ter perdido filho para a tecnologia
A adolescência, por si só, já é intensa fase de transformação. Por alguma razão, pais tentam sobreviver aos desafios de convivência com filho adolescente confiando no repertório pessoal como receita de sucesso. Porém, a complexidade da nova era me fez viver os primeiros baques de uma relação que exige bem mais que experiência: demanda atualização.
Agarrado ao celular como que sua extensão, assistia filho vidrado no game como que seu amigo imaginário e o escutava rir sozinho de mensagens trocadas com amigos virtuais. Neste cenário, me tornei mãe avessa à tecnologia a ponto de desenvolver um tipo de “alergia” ao mundo digital e elege-lo “culpado” pela distância de filho adolescente. Gradativamente, o recurso virou algoz de nosso relacionamento.
Na verdade, a alergia ao tecnológico nos afastou. Os conflitos, iniciados pelo simples fato de vê-lo conectado, me deixavam tão vulnerável que pensei ter perdido filho para a tecnologia. Agarrada em minha zona de conforto, me negava a desvendar o novo; por medo do desconhecido, culpava a tecnologia de tudo.
O medo do desconhecido
A transformação tecnológica despertou medo. Escutei de amiga, também mãe de adolescente:
– “Eles – disse generalizando – não fazem outra coisa senão ficar grudados no celular! Não sei mais o que fazer!
Nada diferente de outra mãe que relatou:
– É muito difícil lidar com as novidades do mundo atual onde tudo é virtual. Ninguém se relaciona mais!
Adicionalmente, a mídia e suas matérias superficiais e preconceituosas fortalecem a opinião preconceituosa de que a tecnologia é o mau do século. Influenciada por opiniões pouco fundamentadas, ia me convencendo de que, de fato, a tecnologia vinha pra desagregar a sociedade.
Hoje, mais informada e fundamentada em opinião (e experiência) própria, vejo que minha necessidade era justificar minha incapacidade de lidar com filho adolescente. Nada mais fácil, então, do que adotar clichês sobre o tema pra tanto.
Gradativamente, substituí o diálogo por ameaças e condicionais:
– Se não sair com o cachorro, não joga videogame!
– Se não tomar banho, te proíbo de ligar o computador!
– Se não estudar, corto a internet!
Tudo e qualquer coisa virava conflito; réplicas, invariavelmente, vinham precedidas pela frase “Que saco!” . Minha impaciência escondia o medo do desconhecido.
Desmistificando a adolescência e a tecnologia
Com o tempo, os testemunhos de mães e educadores resignados e os conflitos vividos com filho adolescente me desafiaram a buscar uma saída para aquele relacionamento desgastado. Não conseguia aceitar ser “aquilo” a tal adolescência; não podia aceitar que importante fase de desenvolvimento de filho se reduzisse à simplista frase “é assim mesmo”.
A tecnologia não ia me paralisar. Foi assim que, montando o quebra-cabeça de relatos e conflitos, me aprofundei em busca de saídas. Pra isso, encarei meu medo pra conhecer aquele mundo adolescente e tecnológico. Conheci conceitos novos que me ajudaram a abrir a mente para o novo: tanto sobre maternidade (Councious Parenting), novas abordagens e competências para lidar com filho adolescente quanto sobre novos recursos para educar filhos na atualidade.
À medida que me abria ao desconhecido mundo novo, desmistificava a adolescência e a tecnologia.
Desvendando e resgatando
Na prática, entrei cuidadosamente no mundo do filho adolescente. Corajosamente pedi que me apresentasse” o game, o algoz. Surpreendido pelo pedido inusitado, ensinou regras, mostrou controles, explicou estratégias e, literalmente, me apresentou à sua equipe. Isso é real! Assustada, desvendei um mundo que, bem diante de mim, atraíam não só meu adolescente mas inúmeros outros cujas mães, como eu, sequer imaginam existir.
Abrir a porta desse mundo, até então só dele, foi ponte pra nossa reconexão. A partir disso, conheci seus amigos e sua equipe, tornei-me fã nos campeonatos de game e o apoio em sua rotina de atleta oficial (acredite, isso existe!!) o orientando e acompanhando de perto. Em suma, voltei a participar de sua vida atenta aos seus desafios e desenvolvimento; ambos nos resgatamos.
Ser mãe de adolescente é oportunidade de desenvolvimento pessoal
Acredito em trabalho duro pra alcançar resultados, em fazer diferente para alcançar resultados melhores. Por isso entendo que ser mãe de adolescente seja meu papel mais desafiador: porque preciso aprender todo dia pra ajudar filho a escrever sua própria história.
Hoje, usufruo da tecnologia e reconheço: graças a ela construí ponte com filho adolescente. Em seu mundo digital, descobri que sair da zona de conforto me traz a incrível oportunidade de desenvolvimento pessoal e flexibilidade pra considerar possibilidades e encontrar saídas.
Ser mãe de adolescente inevitavelmente nos coloca à prova. Por isso, encare o desafio de frente: o futuro é hoje e filho adolescente nos espera bater à sua porta pra entrar e conhecer seu mundo. Seja ele qual for, uma certeza: você vai se supreender e aprender. Muito.
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