Sobre adolescentes, games, superação… e magia!

Quando equipe de adolescentes em que filho é pro player e-sports perdeu a final de campeonato tão almejado me frustrei. Tal qual criança mimada, bufei e esperneei por não ver minha expectativa de vitória atendida. Passado o momento passional, me calei e, enfim, me recolhi. Precisava digerir toda aquela experiência de três dias eletrizantes de disputa acirrada.

A surpresa foi que, ao digeri-la, desvendei os olhos e enxerguei além do título escapado. Despertei do desejo vaidoso de soberania para relembrar o começo de tudo há apenas dois anos. Deparei-me com um histórico de superação contínua e arrebatadora e me envergonhei da reação infantil. Mergulhei em memórias e, a partir delas, senti orgulho desta equipe.

Falar de adolescentes e games não significa necessariamente discorrer sobre doenças e angústias.  Por trás destes temas tão atuais, também existem histórias inspiradoras, de superação… e magia.  Magia que vem do coração, de espíritos aguerridos em realizar e fazer diferença no mundo.

Assim digeri a perda do título daquele que foi o mais importante campeonato disputado pela equipe de jovens guerreiros valentes:  golden boys, assim conhecidos em seu meio; valentes guerreiros assim carinhosamente chamados por mim na intimidade de mãe de um deles.

O “impossível” a quem quisesse ver

Depois de três dias de jogos extenuantes para a equipe e de torcida incansável para mim e respectivas mães, o time chegou à tão esperada, planejada e batalhada partida final.  A partir do que parecia impossível aos mais experientes, os “garotos do PS4” disputaram como gente grande.

Mas… há dois anos são pro players e conquistaram o espaço privilegiado desbravando caminho espinhoso.  É de se admirar que ainda lhe negassem reconhecimento. Mas… o preconceito existe até onde nem imaginamos. Pregressos de modalidade “marginal”, estes jovens galgaram degrau a degrau a difícil escada que os levaria àquela final de campeonato.

Resolutos e fortes de coração, contrariaram prospecções, derrubaram barreiras, quebraram paradigmas até, enfim, ingressar no seleto cenário competitivo de equipes e competições profissionais mundiais. O “impossível” estava acontecendo… bem diante dos olhos de quem quisesse ver.

A jornada de gamers adolescentes

Ainda assim eram julgados. A origem desvalorizada ainda lhes parecia peso adicional à já carregada jornada de provas. Nem o vigor e a determinação diferenciados lhes permitia mudar a alcunha pejorativa de “garotos do PS4” imposto como rótulo de inferioridade aos consolidados times vigentes.

Avançavam mesmo assim. A cada vitória, efusivamente celebrada pelas famílias ainda reticentes e fiéis-fãs confiantes, os guerreiros valentes confirmavam a luz individual traduzida em coragem coletiva para desbravar caminho espinhoso e convencer até os mais incrédulos de sua magia.

Então venceram vários Golias: grandes, estruturados e consolidados oponentes, inclusive estrangeiros. Gradativamente quebraram e carregaram pedras; delas fizeram grandes obras. Desbancaram apostas, “melaram” favoritismos, bagunçaram preferências.

Desbravaram. Com foco, garra e determinação ousaram, primeiro, desejar depois, atingir uma das mais difíceis metas impostas a si mesmos:  figurar entre os quatro primeiros lugares do disputadíssimo ranking e avançar mais, muito mais.

Alcançaram. Com brilho, alegria, desembaraço e arrojo anunciaram: o plano cuidadosamente desenhado estava se concretizando. Chegaram no estágio seguinte apesar da resistência dos insistentes que reiteradamente os desacreditavam e subjugavam sob lente de rótulo preconceituoso.

Não se abateram.  Em vez disso, resistiram, lutaram mais forte, cresceram. O que parecia impossível, aconteceu e os “garotos do PS4” deram cor, brilho e exemplo de superação, próprios de quem se guia pela magia do espírito de luz ardente que os impele a seguir desbravando e quebrando convenções.

Do crescimento à inspiração

Todos jovens em torno dos seus vinte anos, ou seja, de “pouca estrada” como costumo dizer de inexperientes. Não estes, porém.  A bagagem de superação de cada um prova isso. Cada qual com sua história pessoal encontrou na profissão “fora da curva” lugar para se profissionalizar e fazer carreira.

Cedo descobriram seus talentos e habilidades totalmente alinhados às novas possibilidades de hoje; apostaram no esporte virtual como profissão e, desde então, trilham seu caminho com a responsabilidade de gente grande. Sabiam ser empreitada inusitada e, por isso, caminho duro de quebra de paradigmas.

– Mãe, o mundo mudou!  Você não entendeu isso ainda? Que saco! – lembro de nossa primeira discussão sobre o tema.

Nem o medo e a desconfiança de pais e mães os demoveu de dar o primeiro passo na jornada que contribuiria com suas histórias. Nem os sacrifícios previsíveis e imprevisíveis assumidos e enfrentados lhes roubaram a magia de crer na luz individual e percorrer o novo – e árduo – caminho que se abria bem diante deles.

Por mérito próprio, estes garotos do PS4 acreditaram e buscaram meios de fazer diferente. Não só conquistaram o apoio de suas famílias: mudaram o curso da história de novos ingressantes no cenário de pro players. Encararam gigantes famosos, adversários venerados, adversidades inesperadas. Cresceram e, hoje, inspiram.

Adolescentes sem rótulos

O último lance de sequenciais desafios durante os três dias de torneio culminou na grande final duvidada por muitos; não por eles. Além do esperado por tantos, lutaram a boa luta mas ainda não era hora de garantir o disputado título. Nem por isso recuaram; tampouco temeram.

Foram dias de guerra, sangue nos olhos, faca nos dentes. Na equipe de “brabos” e “enjoados” adolescentes imperou garra, determinação e, sobretudo, coragem. Três longos, intensos e fervorosos dias de combate e superação não só em jogos mas também em mídias, torcidas, matérias.

Ser diferente lhes impôs desafios adicionais até então inimagináveis como, por exemplo, escutar comentários do tipo:

– Quem vocês pensam que são?

– E existe jogador bom vindo do PS4?

Limitados pela cegueira típica dos preconceituosos, ainda não sabiam mas finalmente entenderam: os garotos do PS4 não vieram para brincar mas para encarar gigantes com a autenticidade típica de quem sacode padrões e não se deixa rotular.

Adolescentes que inspiram

Meu filho adolescente é um dos sete pro players da equipe de e-sports. Por diferentes motivos, tanto ele quanto eu sabemos bem o que é nadar contra a maré, superar adversidades e rasgar rótulos. Desde cedo aprendemos: tudo tem seu tempo de maturação.

Vitórias são, de fato, deliciosas e derrotas, realmente dolorosas; mas ambas invariavelmente moldam nosso caráter e espírito. Depois deste campeonato, aquelas questões ficaram, no mínimo, obsoletas e desnecessárias. Como dito por um deles em entrevista:  “somos diferentes”. E realmente são. Nascidos do improvável e aparentemente impossível, cresceram e hoje são grandes inspiradores.

Em dois anos de carreira, conquistaram notórios resultados mas a magia, definitivamente, é o diferencial desta equipe de guerreiros. Sua capacidade de crescer a partir das críticas, amadurecer a partir das adversidades e desbravar diante de terreno inóspito é contagiante. Faz a gente querer fazer o mesmo.

Realidade possível e concreta

Hoje os garotos do PS4 são brabos adolescentes, pro players vitoriosos dispostos a crescer muitos mais. Juntos, acreditam na magia que ilumina e revigora o espírito e que os impele a ser e fazer diferente.  Unidos, abrem espaço em terreno demarcado por grandes e, com isso, fazem a diferença em seu meio.

Dois anos. Dois longos anos de grandes provações e duros sacrifícios para os garotos do PS4 confirmam: a magia destes desbravadores é a alegria contagiante de intrépidas crianças que sinceramente espero nunca desapareça. Nela está o encanto que atrai crianças, jovens e adultos e que os torna brabos e enjoados guerreiros valentes uma realidade possível e concreta.

Em um mundo tão necessitado de boas inspirações e exemplos saudáveis – especialmente neste meio tão atacado por desentendidos e desinteressados – acompanhar o progresso constante, perene e arrebatador destes jovens pro players me desperta do entorpecimento momentâneo da perda do título para enxergar além… como eles.

A jornada muda o mundo

Aguerrido gladiador, filho adolescente continua me inspirando a enxergar além do que os olhos veem, a descobrir a magia dentro de mim e, a partir dela, transformar sacrifícios e frustrações em realizações.  Recolhidos, pais e filhos colhemos lições preciosas desta rica experiência.

Depois da final, me recolhi para digerir a frustração como criança mimada.  Mas, diferente de antes, voltei como mãe de um dos guerreiros adolescentes inspiradores. Serenado o coração, me preparei como eles para os novos passos por vir. Fortalecida, enfim sigo lutando contra as desafiadoras provações de mãe de pro player de e-sports.

Neste breve refrigério em família em que nos reunimos para merecido descanso e restauro, também aprendemos sobre adolescentes, games, superação e magia.  De lentes limpas, finalmente enxergo não só gamers de profissão dourados de magia em emocionantes combates: vejo cor e brilho de jovens em jornada de amadurecimento que ensina como ser e fazer diferente efetivamente muda o meio onde atuamos.  E o mundo precisa mudar e também recuperar sua magia.

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