adolescente popular

Adolescente popular: o falso líder é criança insegura

by Xila Damian

O arquétipo com mesmo enredo

Dentre tantos arquétipos de aluno, o de adolescente popular sempre foi sonho e terror dos colegas de turma. Enquanto a vaidosa notoriedade e aparente segurança inebria seguidores, também aterroriza expectadores que, apesar de não “comprarem” o engodo, sofrem o impacto da encenação.

Hoje adulta, reconheço adolescente popular consciente de sua fragilidade. Embora estivesse na turma dos que sofriam com a atitude arrogante do tipo, hoje detecto sua vulnerabilidade de longe. Na verdade, o arquétipo do adolescente popular esconde um jovem extremamente inseguro.

Sob a máscara da arrogância, ostenta um personagem autoconfiante e, à primeira vista, até convence os imaturos e inexperientes colegas adolescentes de seu “poder”. Enquanto sustenta o personagem com atitudes insolentes e desrespeitosas, ultrapassa limites e se torna insuportável de se conviver.

Como que um déjà vu, o filme é repetitivo e perpetua o arquétipo. Contudo, como mãe de adolescente (e observadora), discuto o papel dos pais nesse enredo: antes de se orgulharem de filho adolescente popular como “jovem líder de personalidade forte”, avaliem o cenário; talvez encontrem boas razões pra mudar a educação que estão dando a filho.

A humanidade segue seu curso

Grosseiramente falando, arquétipos são modelos comuns que se repetem e, assim, são facilmente reconhecíveis no meio em que vivemos. O do adolescente popular, por exemplo, é o tipo badalado, admirado e temido, desejado e odiado. Isso mesmo: desperta sentimentos antagônicos de quem convive com ele, inclusive de amor e ódio.

A cena da turma escolar fica previsível quando lembramos (e reconhecemos) os outros arquétipos que a compõem: o desencanado, o engraçado, o nerd, o tímido, o seguidor e tantos outros rótulos que asseguram a identificação imediata de cada perfil.

Ainda que distintos, todos os atores dessa cena sofrem o impacto do personagem influenciador e dominante representado pelo adolescente popular; seguidor ou vítima, ninguém passa incólume ao jovem orgulhosamente nomeado “líder” ou “de personalidade forte”. Assim a humanidade segue seu curso natural sob arquétipos.

Vítimas silenciosas

O adolescente popular é polêmico porque desperta amor daqueles que “compram” seu personagem viril e autoconfiante,  e ódio daqueles que, não se identificando com o tipo, tem que conviver com seu egocentrismo que, por vezes, chega a extrapolar limites e incomodar.

Ainda que incomode, o adolescente popular tende a firmar território na turma escolar.  Sua personalidade, ainda que insegura, se sobrepõe a de jovens igualmente inseguros e, por isso mesmo, amedrontados com sua performance de “líder”.

– Pô, o cara não parou de zoar o Dani! Todo dia é isso e a turma acha graça. Vi os olhos dele encherem de lágrima… Falei pra ele não ligar, que o cara é um idiota imaturo mas… saco! Até os que riram não gostam do cara e ainda assim apoiam ele. – relatou filho.

De fato, a turma igualmente imatura se resigna à arrogância do adolescente popular e tenta sobreviver ao seu comportamento insolente, e até desrespeitoso, fingindo-se de seguidores. Sob a conhecida e impiedosa dinâmica, se tornam vítimas silenciosas e… tolerantes demais. Assim caminha a humanidade.

Adolescente popular é outra coisa

Conheço a dinâmica do adolescente popular e me lembro de como odiava enxergar seu personagem inseguro insistindo em parecer autoconfiante. Simplesmente me afastava dele. Nem assim conseguia me livrar de sua onipresença egocêntrica.

Conviver com adolescente popular é uma espécie de provação. Enquanto sua vaidade inebria alguns, incomoda outros. Difícil livrar-se do incômodo quando não há meios de se livrar do tipo em sala de aula. Resta, então, aturá-lo.

Porém, não raro, adolescente popular submete a turma inteira aos seus caprichos. Talvez daí venha a ideia de que se trate de um líder, o que contesto veementemente. Conhecedora do significado e da prática correta da liderança, arrisco dizer que o adolescente popular é o oposto: é criança insegura.

A disfarçada autoconfiança esconde, na verdade, sua incompetência em lidar com a pressão do mundo. Pra compensar, se traveste de adolescente popular pra suprir sua carência de atenção e acolhimento. Diferente do que tenta mostrar, sofre de baixa autoestima e luta pra se impor. E, pra isso, não mede esforços pra manter-se na pose de (falso) líder passando até a subjugar os que não o reconhecem como tal.

Aproveite nossa página do Facebook e compartilhe mais experiências: Clique aqui!

O verdadeiro líder

Há quem enxergue a situação como oportunidade de amadurecimento. Apesar de entender, discordo da opinião a partir do momento em que ignoramos os potenciais estragos dessa “dinâmica de fortalecimento” nos jovens que sofrem calados com o presunçoso adolescente popular.

A ideia de que o jovem precisa sofrer pra amadurecer é, no mínimo, ultrapassada e desnecessária. A vida se encarrega de dar oportunidades inevitavelmente duras pra isso e me exige novas práticas pra formar adulto melhor. A começar por ensinar valores como respeito irrestrito ao outro, isso sim característica de um verdadeiro líder.

Cultuando líderes verdadeiros

Cultuar a ideia de que adolescente popular é líder de personalidade forte é uma falácia alimentada por muitos pais orgulhosos e igualmente vaidosos. Perpetuar o arquétipo do adolescente popular como líder é cultivar a vaidade permissiva, é incutir ideia errada de liderança, é formar adulto arrogante e fraco em sua essência.

Em um mundo violento e movido pelas aparências, precisamos formar (e reconhecer) os verdadeiros líderes em vez de engodos. Pra isso, educo filho pra se fortalecer combatendo tipos como esse em vez de cultuar o modelo errado. Afinal, adulto seguro e maduro se forma em casa… e em sala de aula também.

Leituras sugeridas:  Bullying na adolescência, Banalização da violência entre adolescentes, Vulnerabilidade na adolescênciaDepressão na adolescência

1 Comment

Leave a Reply