saudade de filho adolescente

Saudade de filho agora adolescente

by Xila Damian

Detrás da saudade de filho

Mãe invariavelmente lamenta. Quer feliz quer triste, mãe lamenta o tempo que “passa rápido”, o filho crescido “de repente”.  Então adolescente, filho parece virar fonte de suspiros. Entre melancólica e pesarosa, mãe sente principalmente saudade.

Saudade de filho pequeno em que a relação era como que simbiótica, o convívio, pleno, a sintonia, “perfeita”.  Saudade da fase em que mãe e filho desfrutavam harmoniosamente da experiência de crescerem mutuamente juntos. 

O avanço à fase seguinte, à adolescência, a dinâmica familiar muda e o cenário idílico também. Inesperadamente mães passam a suspirar por qualquer motivo relacionado a filho adolescente:

– Aaai, saudade do meu filho! 

– Ué… para onde foi? Viajou? Mudou? –  reagiu a amiga.

– Tá doida? Não!  Foi à uma festa com os amigos… – esclarecia sem notar o peso escondido naquele lamento.

A crônica saudade de filho 

Mãe de adolescente irremediavelmente lamenta. Ao menor sinal de desapego de filho adolescente reage taciturna. Do orgulho nutrido e evidenciado até bem pouco tempo, pouco resta: filho crescido e em franco desenvolvimento de liberdade e autonomia, vai desbravar caminhos enquanto mãe geme. 

Primeiro nos lamuriamos do tempo passado; depois, criticamos e reclamamos de filho: a pouca atenção, a surdez seletiva, a incompreensão, a desobediência.  De repente, enxergamos o filho vertiginosamente diferente de antes e a o relacionamento, missão quase impossível a ambos.

Mudanças visíveis e invisíveis despertaram saudade de filho de outrora.  Apegada à criança do passado, passei a lamentar o filho do presente. Com olhos ainda fixos exclusivamente nele, esqueci de olhar para mim e ver que, ao contrário dele, estagnara no tempo.

Saudade de filho que estagna

Mãe sente saudade de filho e, dominada por nostalgia tóxica, renega o esperado desenvolvimento de filho se ressentindo das naturais – ainda que às vezes difíceis – mudanças trazidas pela nova fase de vida. Apegada a um passado de intenso despertar para o mundo, fácil compreender o porquê da controversa saudade de filho agora adolescente.

Mãe sente o “descolar” de filho como que  o “perdendo” para o mundo e se angustia por isso.  Fisgada por uma ótica distorcida de sua missão de dar bom fruto ao mundo, sente-se então roubada de algo precioso do passado.  Cega, cai no fundo de um poço de melancolia incapacitante que a impede de continuar vivendo junto de filho… de outra forma. 

Filho cresceu? Mudou? A vida segue seu fluxo naturalmente. E eu? E você, mãe de adolescente? Também está seguindo seu curso natural de adulto em contínuo aperfeiçoamento? Ou estagnou-se a ponto de viver do passado que não volta?

Filho do passado

Mães são naturalmente saudosistas. Afirmamos reiteradamente a imagem de um tempo em que tudo parece ter sido bom e feliz.. bem diferente do presente que parece virar pesadelo. 

Ser mãe de criança também é difícil.  É trabalho físico assumido sob pressão diária de lograr na missão de cuidadores e formadores de outro ser.  Para mim, também foi exercício psicológico de viver a dicotomia de uma relação exaustiva e, ao mesmo tempo, revigorante.  

Lembro de sofrer tanto com a escassez de tempo quanto do excesso de trabalho da feliz e proporcionalmente exaustiva fase infantil de filho.  Mas, muitas vezes sufocada pelos deveres da função de mãe de criança, lembro também ainda me encantar com seu desenvolvimento e conquistas diárias. 

Mãe saudosista crônica

Lamentar a adolescência nos torna mães melancólicas.  Soamos tristes, parecemos ressentidas com a vida. Perdemos a alegria de continuar participantes do desabrochar que é da família e assumimos o pesar de uma constante reclamação do ser que, um dia, parecemos ter amado mais. 

A nova dinâmica vivida com filho adolescente, de fato, assusta e, muitas vezes, irrita.  Sem dúvida consome nossa melhor parte e mina nossa disposição de ser mães melhores.  Às vezes, desanimada e, neste fluxo alterado, boicota nossa missão: de repente, ser mãe parece virar fardo.

Parte deste desterro se deve ao apego à criança do passado que nos transforma em mães de adolescente saudosistas crônicas. Desconectadas de filho, nos distanciamos do potencial  que esta fase igualmente transformadora pode nos proporcionar de benefícios. 

O convite à mudança de mãe

Privar-se das experiências – boas e ruins – com filho adolescente nos leva à lamuriosa saudade de filho do passado que nos cega ao incrível potencial do presente. Em vez de participar ativamente das mudanças junto com filho, mãe lamenta o “sumiço” do menino/a de amor explícito, de carinho irrestrito, de companhia incondicional; se admira com o rápido espicho, reclama dos lábios cerrados, dos olhos ariscos, do semblante retesado. Em suma, lamenta…ser mãe de adolescente

Por uma lente mais realista e pragmática finalmente despertei desta condição perversa e injusta.  Deixei o retrovisor e assumi o hoje com lente limpa dos habituais clichês sobre o adolescente.  Enfim enxerguei filho sob extraordinária fase de onde também eu sou – senão exigida – convidada a me aprimorar.

Descobri, com isso, não só o valor e a importância de continuar vivendo junto de filho mas também a beleza da transformação que dura a vida toda.  De um jeito diferente, passei a viver a nova relação com filho livre da idílica imagem da fase anterior.  Descobri parte de um caminho que se abre a cada passo, a cada dia de transformação, para nos aprimorar. 

A alegria de ser mãe

A valiosa experiência de amadurecer junto com filho adolescente me devolveu a alegria de ser mãe. De novo em movimento, descobri o prazer de ser mãe agora de adolescente. De fato, filho cresceu, mudou; eu também.  Já não lamento mais por isso.  Enfim, agradeço. 

Nutrida de um passado memorável e de um presente que se renova… todo dia… a todos nós. 

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