mudanças na adolescência

Mudanças na adolescência

by Xila Damian

Adolescente não é tudo igual; nem a história entre pais e filho

Falamos sobre as mudanças na adolescência com o simplismo dos ignorantes. Usamos de clichês e repetimos rótulos para justificá-las sem notar nossa inábil atuação com o filho agora adolescente. Assim, perpetuamos a dinâmica conturbada descaracterizando o filho com a ideia reiterada de que “adolescente é tudo igual”.

As mudanças ocorridas nessa fase são,  além de profundas, significativas. Conhecê-las e, principalmente, compreende-las é vital: só assim conseguimos estabelecer conexão com filho adolescente. Mudar nossa história com filho adolescente depende, fundamentalmente, de conhecimento e disposição para fazer diferente e a diferença na vida de filho durante este processo de transformação.

Se você pensa que adolescente é tudo igual, se engana: apesar das similaridades, tem sua própria identidade sendo transformada.  Por isso, mesmo, a fase é de aprendizado intenso.  Não só para o filho, mas para os pais também. Desde que conscientes de que, para tanto, é preciso enxergar o adolescente bem de perto. Do contrário, sua historia é que será igual a de tantas outras: como chance de desenvolvimento mútuo… desperdiçada.

A adolescência “no automático” não ajuda filho

Adolescente vive uma luta interna. Falamos da revolução hormonal que transforma o corpo infantil em adulto, sexuado e desajeitado, mas não pensamos no sofrimento que acompanha este processo. Notamos até com graça a dissonância entre cabeça e corpo minimizando a confusão emocional e psicológica que isso causa.

Lidamos com a adolescência “no automático”, esperando comportamentos coerentes com a transformação física sem nos conscientizar do processo como um todo. Como certa vez, conversando com meu filho sobre um desentendimento na escola:

– Filho, por que não falou direto com o professor em vez de ficar reclamando? Converse com ele sobre a prova e pronto!

Saco, mãe!  Não vai adiantar nada!  Ele nunca me entende!

Cobrado por uma independência em construção, o adolescente veste sua máscara de autoconfiança a fim de se proteger de sua inicial incapacidade de resolver problemas. Cheio de opinião, se torna crítico e questionador. Exercita sua ousadia depositando confiança no grupo social ao qual pertence (se tiver a sorte de ter um), mas não demora, fraqueja ao tentar sustentar o personagem.

As mudanças na adolescência trazem dor e peso ao jovem. Finalmente consciente das mudanças, passei a enxergar meu filho diferente, não mais como “adolescente é tudo igual”.  E isso mudou nossa relação. Conhecendo suas fraquezas, suas dificuldades, seus dilemas e suas incompetências, pude agir diferente a fim de ajudá-lo a amadurecer e se transformar.

Quando adultos, lembramos a fase de forma romantizada. Desapercebidamente, esquecemos ser fase de grandes desafios e, por isso mesmo, de transformação. Portanto, encaremos a realidade: adolescência é processo de desenvolvimento doloroso.  E, para ser vivido de forma saudável, necessita contar com a ajuda de pais conscientes de sua magnitude… e peso.

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Algumas mudanças na adolescência precisam ser entendidas

Muitas mudanças na adolescência ocorrem, mas poucos são os que se ocupam de conhecê-las e entendê-las.  Como cada jovem vive tais mudanças é diferente e isso, por si só, já ajudaria a quebrar certos padrões de comportamento dos pais que lidam com a adolescência de forma pejorativa.

Sendo a típica mãe de adolescente, vivi uma relação tipicamente conturbada com filho tipicamente adolescente. Como muitos pais, perdia a chance de aprender com o processo de transformação, acreditando ser ele o único a sofrer mudanças na adolescência. Não percebia que também podia usufruir do incrível aprendizado se deixasse de lado rótulos e clichês sobre a fase.

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Na verdade, as mudanças físicas do meu filho me confundiram: enxergava um adulto, sem notar que a imagem destoava da realidade. Por fora, um homem; por dentro, o mesmo menino inseguro e, agora, assustado por não se reconhecer.

O que aprender sobre as mudanças de filho adolescente

A transformação era mais que física; era também emocional e psicológica. Muito mais profunda do que pensava enxergar.  Muito mais difícil do que imaginava passar. Precisava aprender mais sobre o tema para ajudá-lo em vez de simplesmente deixá-lo viver sozinho a fase em que tudo pode parecer o que não é.

Precisei aprender e compreender que:

– a sexualidade e o físico adultos dificultam o acompanhamento mental do jovem ainda imaturo;

– a autonomia exigida e a dependência infantil travam o jovem ainda aquém destas competências;

–  a ousadia, reflexo de sua imaturidade, e a insegurança dividem o adolescente em busca de sua identidade;

– confuso e dividido, o jovem se torna dono da verdade, crítico de tudo e de todos sem notar e até sem querer;

– a vulnerabilidade torna o jovem suscetível a drogas, sexo e álcool;

– as incertezas sobre o futuro tornam suas decisões ainda mais difíceis.

Mediante tantas variáveis descobertas e então compreendidas, ficou fácil perceber que a revolução hormonal é só a ponta de um iceberg muito maior. Que eu, mãe de adolescente, não posso mais viver a fase repetindo discursos e comportamentos simplistas;  preciso mudar. Junto com filho adolescente.

A verdadeira transformação

Ao me dar conta da magnitude das mudanças na adolescência, também mudei. Enxergar adolescente de perto, com realismo e conhecimento, me fez viver a fase de outra forma: como parceira de jornada. Como quem verdadeiramente se importa e reconhece o filho como único; sem rótulos… diferente.

Adolescer é, na verdade, experiência de dor. Demanda atenção, acolhimento e amor em vez de impessoalidade. É processo de mudança e, como tal, demanda pais conscientes da unicidade do filho, nosso bem mais valioso e, por isso, mais merecedor de nossa atenção e cuidado.

Portanto, cuide de seu filho adolescente de forma única e individualizada. Faça mais: usufrua da fase com ele e transforme. Ainda que lembrada romanticamente mais tarde, adolescer é fundamentalmente dor e sofrimento. Afinal, transformar é isso.

Leituras sugeridas:  Quando o relacionamento com filho adolescente cai no automático, Diálogo com adolescentes, Educar filhos é como empinar pipas

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