ser mãe

Ser mãe de adolescente é perder a divindade e ganhar humanidade

by Xila Damian

“Ao assumir sua condição humana de ser mãe falível, é possível reencontrar o prazer da maternidade e se ajustar à uma nova dinâmica de relacionamento com filho adolescente.”

O prazer de ser mãe (humana) de adolescente

Já me senti cansada da função de mãe de adolescente muita vezes. Também já quis jogar tudo pro alto e ser só eu, sem obrigação de cuidar de ninguém a não ser de mim mesma. Já quis recuperar a liberdade de escolher o que gosto de acordo com minha exclusiva vontade e hora. Ser mãe de adolescente me despertou tudo isso… e muito mais.

Decerto que me culpei várias vezes de desejar “tudo isso”. De me enxergar egoísta e egocêntrica. De me ver cansada das responsabilidades que, aliás, eu mesma assumi; inclusive como mãe. Lidar com o meu pior me aturdia; me deixava dividida entre ser quem, de fato, sou e quem deveria ser.

Em uma sociedade onde mãe é cultuada como ser superior de perfeição, mostrar-me imperfeita na função me constrangia.  Desapegar-me da “divindade” materna para assumir minha condição humana de errar e cansar foi exercício, no mínimo, assustador.

Por outro lado, trouxe benefícios. Na verdade, muitos. Dentre eles, a capacidade não só de conviver com filho adolescente, mas de usufruir da fase. De novo humana, redescobri o prazer de ser mãe… também de adolescente.

Repensando o papel de mãe de adolescente

No mundo real, a maternidade cansa, “suga a alma”, costumava dizer. Diferente da ideia romântica e superior da maternidade, ser mãe me mostrou ser exercício extremamente exaustivo e angustiantemente humano. Apesar disso, exercia a função convencida de que, mantendo o controle de tudo, meu filho também se convenceria de minha divindade.

Assim perpetuava a idealização de mãe: invariavelmente onisciente e perfeita. Sempre. Em todos os momentos; inclusive nos piores. Até quando nem tudo era tão fácil ou simples. Acreditava estar mesmo cumprindo a função de mãe com maestria. Porém, me tornei mãe de adolescente e aí, a lente mudou. Radical e definitivamente. Para sempre.

O pedestal imaginário começou a ser desafiado; as verdades, até então absolutas, idem. A imagem de mãe perfeita foi se tornando um fardo. Peso difícil mesmo de sustentar. Cansada, quis desistir e confesso: joguei a toalha por um tempo, no mínimo, esquisito.

Larguei as cobranças, as discussões e as expectativas de um filho obediente e seguidor de regras. Precisava repensar meu papel de mãe não mais de criança, mas de adolescente agora “diferente”. Aquela divinização não servia mais no novo ciclo iniciado em sua vida. Nem na minha.

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Mães são imperfeitas… e tudo bem

Lembro quando meu filho assuntou intrigado:

– Que foi, mãe?  Não te vejo mais me enchendo o saco, me cobrando tarefas, obrigações… você tá assim, sei lá… diferente…

Curiosamente, a irritante frase-mantra também lhe era útil: como um radar o alertava sobre meu estado de espírito. Seu comentário evidenciou que, além de atento a mim, meu filho sentia minha ausência em sua vida. A estranheza ao novo comportamento o levou a me buscar. Talvez por medo, talvez por interesse, fato é que lhe fiz falta.

A (re)aproximação foi oportunidade de agir diferente. A “divindade” de outrora se dissipou assumindo, finalmente, o  desânimo e o cansaço, a irritação e a raiva, o medo, estados e emoções tipicamente humanos e reais. Recuperar o  direito de ser imperfeita também educa filhos… e mães.

Reconhecer-me mãe vulnerável a sentimentos pouco louváveis aproxima, transforma a relação entre mãe e filho em cumplicidade de quem se aceita mutuamente como são: falíveis, imperfeitos, humanos. Mães e filhos que se aprimoram buscando respostas às inquietações juntos.

Ser mãe e o prazer de ser

Se de um lado perdi minha posição de “divina” com meu filho adolescente, por outro lado aprendi a desfrutar a vida com ele. Diferente de antes, hoje me enxergo parceira de jornada. Ainda que repleta de dúvidas e angústias em relação à nova fase do meu filho, descobri que ser alçada à função de mãe de adolescente é mais que ser divina… é ser humana.

Humana para ser mais humilde e me enxergar aprendedora contínua, em missão vitalícia de fases cada vez mais complexas; para aceitar e aprender com falhas e fracassos; para ser mãe da vida real que, sim, até pensa em desistir da missão muitas vezes… mas resiste e persiste.

Assim sendo, hoje sou mãe não mais divina que, apesar de tudo isso e muito mais, sente de novo o prazer de ser mãe. Inclusive de filho adolescente.

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