mãe dependente de filho adolescente

Mãe dependente de filho adolescente, tenha uma vida!

by Xila Damian

A vida sob diferentes papeis

Mãe dependente de filho adolescente é ameaça ao crescimento… dos dois.

Mãe de primeira viagem, cheguei a desejar viver exclusivamente para filho. Embevecida no papel nutrido com tantas expectativas, focar nos cuidados do meu fruto preenchia minha vida.  Com o passar do tempo, contudo, percebi:  aquele desejo não era salutar nem pra mim nem para filho; tampouco para a família.

A opinião de que ser mãe “é tudo” na vida me soa clichê. Limitante pensar o papel de mãe como resumo de meu ser esquecendo o conjunto de outros que também assumo e desempenho. Dentre muitos, sem dúvida ser mãe se prova o mais desafiador mas longe de ser o único.

A complexidade da vida reside em não só desempenhar os diferentes papeis como também crescer no exercício de cada um deles. Talvez por isso, ser mãe nos torne seres especiais: porque aumenta nosso desafio de ser adulto melhor tendo adicional e concomitantemente o compromisso de formar outro adulto saudável para o mundo.

Não precisamos – nem devemos – assumir filho como fonte de (sobre)vivência pessoal. O mundo necessita de pessoas assumindo seus diferentes papeis na sociedade e formando novos indivíduos capazes do mesmo. Não preciso ser mãe dependente de filho adolescente para assegurar meu papel em sua vida.

Em vez disso, preciso ter vida própria e, sob os diferentes papeis assumidos, dar exemplo que inspire filho a também crescer e se aprimorar em seus próprios e variados papeis.  É no exercício dos variados papeis e na tarefa de articula-los – bem – que ser mãe me enriquece e me torna, então, insubstituível a filho.

A simbiose vira memória

Quando criança, filho foi prioridade inquestionável. Cuidar dele se tornou tarefa exclusiva e, confesso, preferida. Àquele período, vivi uma espécie de simbiose com filho e realmente me encantei com aquela dependência mútua. Ouso dizer que, de fato, esqueci de mim e o mundo se resumiu a nós dois.

Enquanto crescia, a conexão exclusiva foi cedendo e os outros papeis, deixados temporariamente em segundo plano, aos poucos foram sendo retomados. Por um lado, filho crescia e gradativamente ia ganhando autonomia; por outro, eu ia ajustando a maternidade recém-assumida à vida complexa de muitos outros papeis.

Enfim a adolescência e a relação simbiótica de outrora virou resquício de uma memória afetiva.  E para aplacar o saudosismo que frequentemente me assolava, passei a render a filho mimos capazes de me manter conectada àquele período de íntimo relacionamento. Ainda que a seu contragosto.

Cada um em seu papel, em crescente autonomia e descolamento seguíamos o curso natural da gradual independência.  Ainda inconscientes das mudanças por vir, seguíamos escrevendo nossa história de uma forma diferente da fase anterior.  Nem pior nem melhor: apenas diferente de antes.

A privação dos diferentes papeis

Ser mãe de adolescente me forçou a aprender, finalmente, o desapego. Só tempos depois de iniciada a fase, descobri ser esta em que filho começa a descobrir e a assumir papeis próprios então sem mim.  Daí a importância do exercício de estímulo à independência a filho… e ao desapego de pais.

Uma amiga me contava sobre a irmã:

– Sabe como ela é, né? Sempre fez tudo pro Zeca. É irritante! Desde pequeno, qualquer choro a mobilizava pra acudir o garoto… como se o mundo fosse acabar.

– Ai que exagero, hein! Não seja injusta! Qualquer mãe se preocupa em acudir filho, né? – defendi.

– É porque você não convive com ela! Tenho mil casos que mostram como se tornou mãe dependente de filho adolescente! Por exemplo, agora: acredita que está pesquisando hotéis pra ele viajar com a namorada? Fala sério! O menino (disse levantando indicadores em forma de aspas) de 21 anos não consegue se virar nem pra isso? – criticou.

A princípio, relevei o comentário rindo. Afinal, mães tentam mesmo facilitar vida de filho. Mas o enredo continuou até a crítica não mais soar exagero mas uma situação de mãe dependente de filho adolescente tal qual a ácida avaliação: a tal simbiose da primeira infância mantida na adolescência parecia mesmo permissiva.

Presa à dinâmica do passado infantil, mãe não só deixava de exercer outros papeis como também desempenhava mal o de mãe protagonista da vida do filho impedindo-o de crescer.  Privando-o de assumir gradualmente sua vida, mãe também o privava de entender a vida em toda sua complexidade de diferentes papeis.

A mãe dependente de filho adolescente

A ideia bucólica da maternidade contraria a vida real. Ser mãe não é viver exclusivamente para filho tampouco torna-lo refém deste empenho. Tolher o progresso de sua autonomia mantendo0o no papel infantil imposto e limitado pela mãe dependente de filho adolescente é caminho tóxico para ambos.

Tempo depois encontrei a irmã sobre a qual conversamos.  Surpreendentemente, escutei dela mais críticas:

Que saco!  Então estou estragando meu filho? Ele me pede ajuda e devo negar? Que mãe é você que não ajuda filho quando precisa? Se você não se importa com ele, problema seu e coitado dele! Sou uma ótima mãe! Faço tudo pra vê-lo feliz. Ele é meu tudo! – esbravejou orgulhosa da frase que, para ela, era incontestável.

Diante de sua reatividade e limitação, calei-me. Enquanto justificava seu permissivo protagonismo na vida do filho, reconheci uma das mais comuns visões acerca do que é ser mãe. Diferente dela, penso ser papel de enorme oportunidade de crescimento para todos, não apenas de filho em natural amadurecimento; ser, sobretudo, dever de formar adulto protagonista de sua vida e eu, da minha.

Não precisa ser limitante para me chancelar mãe competente no cargo.  Pelo contrário: por ser abrangente, me exige aprimoramento constante e contínuo e então me torna sucessivamente melhor a cada fase de vida.  Mas esta era – e ainda é – só minha opinião…

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Para a evolução de todos

Ser mãe é, antes de tudo, viver papel singular em todas as fases da vida de filho. Por isso, nos demanda atenção: o risco de nos perdermos na vida dele e nos abster totalmente da nossa individualidade é grande. Não podemos – nem devemos – deixar isso acontecer.  Afinal, formar adulto saudável para o mundo pressupõe maturidade para cada um desempenhar papeis próprios.

Só assim, aprendendo e ensinando filho adolescente a assumir a vida por si mesmo, vejo minha participação efetiva de mãe acontecer. A vida, com toda sua complexidade, nos instiga a crescer e amadurecer nos distintos papeis imprescindíveis ao mundo em sociedade.

Torço para que minha opinião sobre ser mãe deixe a ideia idílica e inspire a mulher dependente de filho adolescente a descobrir na diversidade de papeis o compromisso maior que é crescer como – e formar outro – ser humano em sua totalidade.  A escrever uma historia de adultos autônomos e de vida própria, pautada no crescimento de todos…. e de cada um.

Leituras sugeridas: Incentivando autonomia de filho adolescente, Adolescente polêmico, Ser mãe de adolescente é perder a divindade

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