Erros irremediáveis na formação de caráter de filho adolescente

by Xila Damian

Dar exemplo não basta

Recente capítulo de novela não só agitou a semana de seus fieis espectadores como também ecoou na internet discussões sobre tema importante: o processo de formação de caráter de filho.

Inegavelmente, enredos polêmicos atraem publico. Foi assim que a sórdida historia de traição de filha com padrasto ganhou tragicidade ao mesmo tempo que mais audiência e, confesso, minha atenção.

A trama, até então inconcebível à imaginação de leigos éticos e moralmente formados, me inquietou. Estarrecida, então, me vi refletindo sobre a tal história com especial atenção sobre o papel dos pais no processo de formação de caráter de filho.

Assustada com o enredo, então, deduzi: não basta sermos exemplo de bom caráter a filho. Precisamos atentar para detalhes adicionais nesse processo dentre eles, observar; depois, cobrar. Especialmente nos momentos em que valores inegociáveis são claramente afrontados.

Rápidos veredictos, baixa consciência

“Ninguém é perfeito”, dizemos frequentemente. A frase consola e, às vezes, nos faz aceitar as próprias e alheias fragilidades humanas. Porém, usada a esmo, vira bengala e acaba por contribuir com a formação de indivíduo de caráter duvidável.

É o caso da personagem Josiane. Porém, seu modo de ser é tão obviamente desprovido de valores e princípios morais que nos poupa de qualquer dúvida: é exemplo clássico de formação de caráter desastroso.

Nem a mãe, a típica personagem “guerreira” virtuosa, trabalhadora, íntegra, e humilde foi capaz de garantir a formação de caráter de filho, o que causou grandes discussões.

A costumeira dualidade entre o bom e mau naturalmente levou o debate ao rápido julgamento da filha sem considerar o importante papel da mãe no processo de formação de caráter da mesma. 

Partidários do bem, deixamos de discutir importantes aspectos da trama com maior profundidade. Às custas de rápido veredicto, culpamos a filha por ser mau caráter desconsiderando a atuação da mãe-heroína nesse processo.  

Pais e formação de caráter de filho

De fato, a asquerosa historia de traição comprova o mau caráter da filha.  No entanto, atenho a um detalhe pouco explorado na discussão: até que ponto a negligente atuação da ilibada mãe contribuiu com a formação de caráter da filha “monstro”?

Saco, não quis ver, estava cega, você sabe: sou mãe! Nunca poderia imaginar isso! – gritava desesperada a literalmente “dona do pedaço“.

Depois de uma breve empatia, senti raiva: como a personagem podia justificar sua incompetente atuação na formação do caráter da filha no fato de ser mãe? Então ser mãe justifica fechar os olhos às óbvias e graves falhas de caráter de filho?

A filha Josiane diariamente denunciava sua falta de caráter. Manipuladora, arrogante, egoísta, desrespeitosa, fútil, gananciosa, interesseira, falsa, enfim, tudo estampava graves erros de caráter. Enquanto isso, a mãe não queria nem podia enxergar?

Caráter de filho oposto ao esperado

Caráter tem a ver com modo de ser e pais tem importante participação no processo de formação de caráter de filho. A partir do exemplo dos pais o exercício começa; porém, não acaba. Na verdade, segue por toda a vida e sob influência de muitos outros.

Portanto, sendo trabalho contínuo, demanda pais dispostos a vigiar e corrigir o que, definitivamente, faltou à mãe-dona-do-pedaço. Ser exemplo de caráter claramente não foi o bastante. 

Contribuir com a formação de caráter de filho exige mais: exige enxergar. E isso me leva a refletir sobre o perigo de pais saudosistas da criança de outrora. 

Como aquela mãe “cega”, pais idealizam filho adolescente apegados a um passado já inexistente. Assim relativizam atitudes depreciativas e desonestas, minimizam comportamentos arrogantes e manipulativos como pequenos erros da fase. 

Negligentes, se apoiam em bengalas permissivas que contribuem com a formação de caráter de filho ao contrário, ou seja, com sérios defeitos e perigosos resultados para a sociedade. 

Ser exemplo de valores e princípios inegociáveis é pratica diária. Observar e cobrar atitudes condizentes, também. Portanto, a dona do pedaço errou (e muito!) quando se eximiu da responsabilidade de enxergar e cobrar o que praticava.

A permissividade dos pais na formação de caráter de filho

A adolescência é começo de exercício pratico de valores e princípios que dura a vida toda. Fase em que a imperfeição humana fica mais latente e o  jovem, mais vulnerável às influencias do mundo. 

O cenário assustador contribui para uma lente distorcida sobre o individuo em transformação e tornam pais perigosamente benevolentes às graves falhas de caráter de filho.

Encarar e corrigir defeitos de caráter de filho é, de fato, trabalhoso; na maioria das vezes, até doloroso. De fato, ninguém é perfeito; por isso mesmo, exercício de aprimoramento que no processo de formação de caráter de filho é fundamental aos pais.  

Imaturidade e inexperiência de jovem em um mundo ameaçador não podem ser justificativa para falhas de caráter de filho adolescente tampouco para pais amorosos. Pelo contrário: precisam ser vigiadas e, principalmente, cobradas sob o risco de virarem bengalas para erros mais graves.

Erros irremediáveis para o mundo

Pais negligentes na formação de caráter de filho tem débito alto com a família e com a sociedade. Nesse processo, não há espaço para erros de mãe cega nem espectadores superficiais. É preciso vigiar e cobrar maior responsabilidade. De todos.

Justificar a atuação de pais “donos do pedaço” na formação de caráter de filho é dar bengala a pais negligentes com a missão maior de formar adulto saudável para o mundo.

Ainda que enredos novelescos ganhem mais audiência com a romântica ideia de amor de mãe que cega, acredite de uma vez por todas: amor verdadeiro não cega. 

Além de enxergar contribui com o aprimoramento do outro, o que pais de adolescente conscientes precisam aprender; e logo. Do contrário, continuaremos errando mais do que desejamos… e podemos. 

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