Vitória de filho adolescente gamer é de pais também

by Xila Damian

A escolha de carreira a quatro mãos

Vitória de filho é, também, de pais.  Por mais óbvia que seja a afirmativa, só me dei conta disso quando senti na pele o gosto de uma marcante vitória de filho:  sair bem sucedido no sonho (e plano) de se tornar gamer, carreira em expansão e reconhecimento no país.

Claro que me assustei quando optou por este caminho:

– Seria, de fato, esta sua escolha? Seria prudente apoia-lo na inusitada aspiração? Devia mesmo apostar em algo tão pouco conhecido? Suportaria as críticas e dúvidas a respeito da nova carreira?

Questões difíceis que todo pai e mãe se faz quando da escolha de filho adolescente por uma carreira; que dirá sobre uma totalmente diferente das convencionais e tradicionalmente chanceladas pelo tempo e pela experiência.

Gamer como profissão

Sim, sou mãe de gamer profissional, pro player, cyberplayer ou, ainda, atleta virtual.  Provavelmente esteja franzindo a testa ou torcendo o nariz pensando:

– Afinal, que significa isso, meu Deus?  Isso lá é esporte??

Penso isso porque reagi assim quando escutei pela primeira vez tais denominações. Além de não entender o significado não compreendia a função.  Tampouco suas perspectivas de sucesso na atividade.  Por conta disso, muitas foram as discussões com filho adolescente. Nesse meio tempo, uma barreira crescia entre nós:

Saco, mãããe!  Escuta!  Deixa eu te explicar! – dizia filho adolescente.

– Não quero nem saber! Ainda mais uma ideia louca como essa! – retrucava em seguida sem chance de diálogo.

Como no ditado, “muita água correu debaixo da ponte” até que o apoiasse no desejo de se tornar gamer profissional.  Sim, hoje meu filho é atleta de videogame e, por mais estranhe que pareça, esta é sim uma possibilidade de carreira do tempo atual.

Gostando ou não, eis aí uma nova profissão da era atual, realidade que hoje reconheço depois de muito conflito, medo e aprendizado sobre o mundo do adolescente nativo digital.

Presa fácil de inimigo desconhecido

Confesso: o aficionado interesse de filho adolescente por games deteriorou nosso relacionamento. Sua total adesão ao mundo virtual me angustiava e, desconhecendo a nova realidade, me afastava.  Enquanto isso, a incansável atividade diária virou paixão e, aos meus olhos, vício. Como imagina (ou vive), as brigas logo viraram hábito.

Pensei mesmo tê-lo perdido para os games.  Por isso, travei guerra contra a tecnologia.  O mundo virtual se tornou meu inimigo pessoal de fato.  Aproximadamente dois anos e nossa relação sucumbiu ao uso da tecnologia se resumindo em duras discussões e difíceis negociações; infelizmente, palavras soltas ao vento.

O “vilão” digital ganhou força e tamanho sob minha lente turva e, no fundo, medrosa.  Desconhecia o “inimigo” e, assim, fui presa fácil do mau relacionamento com filho adolescente nativo digital.

Onde os pais entram na historia

Entre frustradas conversas e repetidas discussões, o diálogo não acontecia.  As práticas de comunicação herdadas do passado se mostravam ineficientes aos dias atuais; os modelos convencionais de diálogo entre mãe e filho adolescente, infrutíferos.

Mas… naquele dia, filho atraiu minha atenção com um tom diferente… apesar de mantido o mantra adolescente:

– Mãe, entenda: o game não me torna um viciado ou um ogro violento.  Saco!  Sei o que estou fazendo e sou bom no que faço.  Sou reconhecido por isso e tenho planos de me tornar gamer profissional.  Te mostro e ensino o que você quiser pra entender que não sou esse monstro que você pinta sem nem conhecer o meio!  Tenho uma vida e nela, o game é onde me vejo trabalhando.  Isso já é uma realidade que você precisa conhecer pra entender e aceitar minha escolha!

Surpreendida e sem resposta, me rendi ao convite de experimentar conhecer o mundo do qual já participava e criava planos de vida. Pra isso, precisei me desapegar de padrões estabelecidos e me abrir a novas possibilidades. O efeito cascata revelou novas profissões e carreiras; desvendou um mundo ousado de cursos, pessoas e caminhos, onde minha atuação efetivamente começou a contribuir com a escolha de filho adolescente.

“Mantenha amigos perto de você e inimigos, mais perto ainda.” (Lao Tsé)

Foi me aproximando, de fato, do mundo virtual de filho adolescente que a historia começou a mudar.  Desvendar este mundo, no mínimo diferente, transformou o “monstro” em aliado; um processo nada simples mas simplesmente libertador.

Depois de baixar a guarda e escutar, me dispus a buscar conhecimento em interações com profissionais e até amadores, em pesquisas e leituras.  De fato, me sentia mais antenada com a ideia; porem, não menos apreensiva com as perspectivas.  Ainda que não totalmente convencida, me permiti avançar com o plano do filho adolescente.

Inspirada inicialmente pela confiança e ousadia;  depois por sua habilidade, garra e atitude.  A inusitada carreira ganhava finalmente perspectivas de uma possibilidade.  Precisava agora da atuação de mãe experiente… na vida.

Vitória de filho é de pais também

Abrir-me às novas circunstâncias para conhecer o novo me fez encarar monstros e também a desmistifica-los. Desconstruí verdades arraigadas sobre maternidade, adolescência, carreira e sucesso; abri espaço para construir nova relação com filho adolescente.

O então doído distanciamento emocional (e até físico) foi se revertendo em conexão. Desvendado o “inimigo”, me fortaleci e me conectei com filho nativo digital.  Passei a realmente conhece-lo: descobri seus interesses, identifiquei suas habilidades.  Em suma, o enxerguei, primeiro passo que me reinseriu na função de mãe de adolescente.

Avistar novos horizontes a partir de uma inusitada carreira foi difícil mas me libertou das opiniões obtusas e discussões limitadoras. Com nova lente sobre a era atual, filho adolescente e tecnologia ganharam novo olhar e, junto novas possibilidades.  O abismo entre mãe e filho ganhou ponte e a vitória, surpreendentemente, foi de ambos.

Vitória de filho com pais parceiros de jornada

Fomos “programados” para vencer na vida mas o caminho é traiçoeiro e, às vezes, nos perdemos no trajeto. Por diferentes motivos, nossa lente embaça e enxergar claramente vira desafio; especialmente quando nos tornamos pais de adolescente nativo digital em que vislumbrar novas possibilidades é simplesmente assustador.

Por mais que desejemos vitória de filho, não temos garantia de nada. Por isso mesmo nos apegamos à uma experiência passada: para minimizar riscos.  Não notamos, contudo, que junto nos blindamos contra o novo e acabamos por privar filho de se desenvolver em algo diferente e escrever historia também diferente.

Me alio a pais de adolescente da era digital porque compartilho das mesmas apreensões e dificuldades de hoje.  Também divido aprendizados porque creio ser um meio de nos ajudar mutuamente na missão de formar adulto saudável para o mundo.

Junto de filho, a vitória tem outro sabor

Inegavelmente, a nova realidade exige pais participantes da vida de filho adolescente. Viver uma historia diferente dos históricos conflitos com filho adolescente nativo digital exige pais abertos ao mundo virtual e, principalmente, capacitados para ajudar filho a usufruir dele com responsabilidade e, por que não, como possibilidade de carreira.

Talvez esta também seja sua história com filho adolescente; talvez não. Parte dela se assemelhe à sua; pode ser nada seja parecido.  Seja como for seu enredo, certamente nutrimos um desejo comum: vitória de filho que ganha maior probabilidade de se concretizar quando pais se inserem na missão de ajuda-lo a desbravar caminhos novos, possíveis e inspiradores.

Orgulhosa de vitória de filho? Sim! Mais ainda do caminho percorrido juntos!  Afinal, é o que dá à vitória gosto especial… e melhor.

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