marcação na adolescência

Marcação na adolescência

by Xila Damian

Frescura? Insegurança? Pode ser má leitura.

Marcação na adolescência é um tema comum de surgir em casa ou na escola. Que adolescente nunca reclamou de alguém que tem “marcação” contra ele? Já escutei diversas vezes meu filho reclamar do porteiro, do síndico, do professor, da tia… parece que o mundo gira e conspira contra ele e só ele.

Nas primeiras vezes, relevei retrucando: “frescura de adolescente”, “insegurança sua”, “precisa aprender a se defender!” frases que lhe causavam profunda raiva e mágoa… de mim e de seu algoz. Isso mudou quando atentei para a recorrência das reclamações e dos “atores da cena”. Decidi averiguar e descobri que uma má comunicação pode causar grandes desencontros na vida, a marcação na adolescência era um deles.

De fato, não era caso de frescura ou insegurança; era uma leitura errada da situação. A má comunicação estava lhe provocando uma insegurança desnecessária. Adolescentes pensam que o mundo gira em torno deles, que são pessoas especiais a ponto de se tornarem o centro das atenções de todos que o rodeiam. Tive que mostrar ao filho que ele é especial pra mim, não para o mundo.

Apesar da dura constatação, libertei meu filho do holofote que julgava estar sobre ele e que o levava a crer que sofria marcação de todos. Na sua imaturidade emocional, aprendeu a se posicionar frente às injustiças sofridas em vez de sentir-se injustiçado pela marcação que julgava sofrer.

É preciso escutar para entender filho adolescente

As primeiras vezes que escutei meu filho reclamar de marcação na adolescência, minimizei o caso:

– Ah que bobagem, filho!  Ele não falou por mal; você é muito sensível.

– Filho, você exagera; ela tava tentando te ajudar…

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Com o tempo, percebi a mágoa que ele demonstrava por eu não dar bola pro que relatava. Quando começava a contar uma nova situação de “marcação”, emendava:

– Já sei: vai dizer que é frescura minha, que sou exagerado, sensível, bravo, blá, blá, blá.  Você não entende, saco!!

Me dei conta de que, de fato, não tava escutando o que dizia; não o estava ajudando a lidar com aquele sentimento de injustiçado que não só o incomodava como também o deixava vulnerável.

Ainda na dúvida se realmente tinha razão de se sentir perseguido, assumi minha desatenção pelo fato e me propus a entendê-lo.  Primeiro, precisava escutá-lo; depois, ajuda-lo a lidar com situações difíceis com maturidade ainda que não tivesse recursos pra isso.

Abrindo o leque de possibilidades para filho aprender diferentes leituras

Não demorou e voltou com o capítulo “marcação do professor de ciências” (ops, desculpe a ironia):

– Ele só pergunta pra mim! Tem vezes que não sei a resposta, fico nervoso e com cara de otário pra turma. Ele sabe que não gosto de aparecer e insiste em me chamar no quadro pra fazer exercícios!  Saco!  Dá vontade de acertar a cara dele!

Atenta para não cair na cilada de minimizar a situação, esperei que terminasse o relato para pensar nas possibilidades de leitura.  Afinal, “vendo a cena de fora, tenho mais condição (digo, maturidade) para imaginar diferentes motivos para aquele comportamento do professor”, expliquei (não mencionando “maturidade”, claro).

Abri um leque de motivos possíveis: porque queria sua participação ou sua atenção na aula ou saber se sabia a matéria ou seu apoio com a turma ou porque acreditava que soubesse a resposta. Dentre tantos (e outros mais que nem eu sei), incluí a marcação, claro.

Para mudar, precisaria aprender a lidar com conflitos: descobrir o problema real, a motivação daquele professor, o que só seria possível conversando abertamente com ele sobre a situação. Pode imaginar a reação do filho? “Prefiro ser reprovado!”, reagiu.

Marcação na adolescência: A imaturidade adolescente distorce a realidade.

A imaturidade adolescente distorce a realidade de tal forma que fica difícil pro adolescente encontrar saídas para seus problemas cotidianos. Posicionar-se diante das situações difíceis é competência que só se aprende com a experiência. É aí que pais podem e devem contribuir.

Por dias, insisti que buscasse seu professor e conversasse sobre seu incômodo. Em vão. Diante do impasse, entrei em ação: busquei o professor e relatei o caso. Surpreso com a má leitura da situação, se prontificou a conversar com o aluno.  Nada como a maturidade.

Dias depois, meu filho chega animado contando seu dia na escola, coisa rara. Me contou que, naquele dia, além de o professor “ter dado uma folga com a marcação”, conversaram após aula: esclareceu que “nunca quis persegui-lo, que entendesse aquela atitude de chamá-lo em aula como algo bom porque parece atento e interessado, porque é enturmado e boa influência para os colegas”.

Conversando com clareza e expondo os desconfortos e motivações de ambos os lados, ajustaram a (má) comunicação, colocaram os pingos nos is; se entenderam. Página virada. O que era marcação, se tornou amizade. Hoje, esse professor é sua referência de apoio.

Contribuindo com filho adolescente para desenvolver seus próprios recursos e saídas.

Sabemos o que uma má comunicação pode causar: desencontros, rixas, competição inútil, brigas, discórdia, fofoca… insegurança.  Sabemos também que, por vezes, minimizamos os problemas e conflitos pessoais de filho adolescente acreditando ser uma bobagem ou frescura da idade.

Aprendi que, quando filho adolescente divide um problema comigo (por menor que possa parecer), está me pedindo ajuda por não saber lidar com ele. Cabe a mim, mãe, adulta madura e experiente, ajudá-lo a amadurecer encontrando soluções para seus problemas.

Não terei todas as respostas mas, certamente, contribuirei para que desenvolva seus próprios recursos e encontre saídas não só para a marcação na adolescência mas para a vida.

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