duplo padrão de comportamento

Duplo padrão de comportamento adolescente

by Xila Damian

Os dois “eus”

Saber que filho adolescente apresenta duplo padrão de comportamento me intrigou. Os conceitos de “eu bebê” e “eu maduro” inconscientemente até existiam no meu pouco conhecimento sobre o tema, mais como meio de justificar as criancices de filho do que explicar efetivamente a dinâmica desse comportamento humano.

Depois, descobrir que não só adolescentes mas todos nós apresentamos duplo padrão de comportamento foi ainda mais curioso: tornou a dinâmica de relacionamento com o mundo ainda mais interessante… e compreensível. Descobri que ambos “eus” são não só importantes como úteis também.

Exercitar a alternância dos “eus” bebê e maduro promove crescimento emocional, especialmente ao jovem em fase de intenso desenvolvimento. Não fosse o duplo padrão de comportamento, a vida seria extremamente insuportável e pesada. Por isso, não estranhe: quando o “eu bebê” de filho adolescente surgir, reconheça-o e acolha-o;  ajude filho a aliviar parte do peso que a transformação na adolescência traz.

Duplo padrão de comportamento é revigorante

Adolescentes ou não, todos temos duplo padrão de comportamento. Inconscientemente, alternamos nossos “eus” bebê e maduro para equilibrar o desgaste que sofremos vivendo. Enquanto extravasamos nosso “eu bebê” em ambiente seguro e com pessoas de nossa confiança, o “eu maduro” atua enquanto lidamos com o estressante e adulto mundo externo.

Em suma, é natural (e esperado) que mostremos nosso “eu bebê” em ambiente doméstico, onde contamos com pessoas de nossa confiança para nos acolher (e revigorar) quando exaustos do “eu maduro” do hostil mundo externo. Sem essa alternância de “eus”, viver seria insuportável.

Sob diferentes condições de temperatura e pressão, portanto, a intercambialidade desses “eus” é útil e até necessária para restabelecer o equilíbrio emocional e físico. Compreender essa dinâmica me permitiu acolher (em vez de rebater) os rompantes do que chamava de “criancice” de filho adolescente. Não sabia, contudo, que também o ajudaria a se revigorar em sua luta pela transformação.

 Aprender muda a história com filho

Desconhecia o conceito dos “dois eus”. Por isso mesmo, enxergava as mudanças de humor de filho adolescente irritada com sua inconstância.  Cheguei, inclusive, a desconfiar de sua saúde emocional por conta disso. Certa vez, o interrompi diante de uma resposta exageradamente ríspida:

– Que isso, filho? Endoidou? Isso é jeito de me responder? Que desrespeito é esse?  – reagi.

– Ai, mãe, que saco!  Tô em casa e falei pra você, pô! Não falo assim na frente dos outros, né? – retrucou.

– Ué!  Quer dizer que aqui você me trata mal e lá fora me trata bem? Não entendi. Por quê? – indaguei curiosa.

– Aaaaii, mãe! Que drama! Tô cansado, falei sem pensar! Tô a fim de ficar quieto e você começa esse papo cabeça… alivia, vai! Não foi pra te ofender, só tô de saco cheio… o Dani me mandou refazer o trabalho, perdi a hora do lanche, fiquei sem comer e, agora, só queria poder acabar o dia em paz, pô! – respondeu.

Relembrando a situação, reconheço o “eu bebê” pedindo colo após dia difícil. Se na ocasião tivesse o conhecimento de hoje certamente lhe teria assegurado o descanso necessário pra se reequilibrar do “eu maduro” do mundo externo; teria evitado mais um conflito sem nexo e pessoal. Certamente, o diálogo teria seguido outro caminho.

A importância dos “dois eus”

Compreender a existência do duplo padrão de comportamento me conscientizou de sua importância e utilidade no exercício de viver e enfrentar diferentes marés. Enquanto o mundo externo e hostil cobra maturidade para lidar com constantes ameaças e desafios, é no ambiente doméstico que buscamos refúgio pra recarregar energia.

Quando filho demonstra o “eu bebê” busca ser alimentado e reconstituir o que o “eu maduro” gastou durante sua busca incessante de autocontrole. Nessa exaustiva dinâmica, enxergo seus “dois eus” não mais como uma irritante variação de humor mas como o exercício saudável de seu fortalecimento para viver.

Precisamos do alívio de podermos ser quem e como somos sem filtros. Buscar e exercitar esse equilíbrio em casa é sinal de saúde. Afinal, é onde esperamos ser ambiente seguro para tanto. Só assim, capaz de ser retroalimentado pelo “eu bebê”, o “eu maduro” poderá voltar ao mundo externo fortalecido para as novas experiências que o aguardam.

Confiança para praticar

O “eu bebê” de filho adolescente às vezes surgia sob atitudes aparentemente agressivas e pessoais. De fato, suas respostas enviesadas me levavam a enxerga-las como desrespeito e tornava a interação, conflito. Como resultado de minha incompetência em reconhecer o natural duplo padrão de comportamento, exigia continuamente o “eu maduro” de filho.

Inconsciente (e ignorante no assunto), tornava o exercício intensamente duro ao filho. Sem perceber me tornava inflexível e pesada. Perigosamente, me colocava em campo de guerra e intolerância mútuos com filho adolescente. Ao me conscientizar do exercício, de sua importância e utilidade, minha historia com filho mudou: o conflito virou confiança e intimidade.

Mais do que nunca, hoje enxergo o duplo padrão de comportamento de filho como esforço de dar conta de um mundo ainda assustadoramente pesado para sua imatura incompetência.

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O exercício é pra vida toda

Aprender sobre adolescência me permitiu lidar com filho adolescente a ajuda-lo a crescer emocionalmente saudável. Dentre tantas descobertas, entender o duplo padrão de comportamento como exercício de amadurecimento me permitiu praticar com a flexibilidade necessária para fortalece-lo.

Transformação de filho adolescente é tão intensa quanto profunda. Por isso, compreender a fase com paciência e amor é vital para formar adulto saudável para o mundo. Tal qual quando filho era bebê, descubro intrigada que o exercício de aprender a viver não acaba nunca. Nem quando adulto.

Leituras sugeridas:  Como não ceder a filho e lutar a batalha que vale a pena, Desrespeito na adolescência, Mudanças na adolescência

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