despedida de filho adolescente

Educar adolescentes é como empinar pipas

by Xila Damian

O desapego ao filho adolescente é tarefa difícil

Costumava sabatinar meu filho adolescente quando estava prestes a sair para algum compromisso. Não importava quando, estava sempre pronta para cobrar informações detalhadas, perguntando:

– Saindo? Prá onde? Com quem? Prá quê? Quando volta? Com quem?

Mães sabem o que estou falando e não é de agora: também fui adolescente e me lembro de ter sido igualmente sabatinada pela minha sempre que anunciava sair.

Até pouco tempo, a agenda do meu filho era organizada por mim. Em um verdadeiro malabarismo, conciliava os compromissos dele com os meus de modo que nossas agendas eram uma só. Habituada àquela dinâmica, já não sentia mais o seu peso.  Ao contrário, já até gostava dela.

A adolescência chegou e, com ela, muita coisa mudou.  Aparte a mudança física e emocional do meu filho adolescente, em sua agenda me tornei persona non grata.  Por mais que ele ainda precisasse de minha ajuda para orientá-lo em suas primeiras investidas sozinho, seu desapego àquela agenda comum foi acontecendo bem diante dos meus olhos.

Enquanto tentava alçar vôo sozinho, minha enquete continuava.  Em meu habitual interrogatório, permanecia  em uma dinâmica que já não funcionava mais. Exercitar o desapego ao meu filho-recém-adolescente foi tarefa difícil prá mim; mas necessário.

A típica dinâmica de relacionamento de mãe e filho adolescente

A aparente  alergia  que filho adolescente desenvolve pelos pais nesta fase é fato comprovado cientificamente.  Sabemos o quão difícil é lidar com a distância que se estabelece entre mãe e filho na adolescência.  Por qualquer motivo, o filho adolescente se recolhe em seu mundo onde mães não são bem-vindas.

Mas nem essa tal alergia foi suficiente para me afastar dele; alguns atalhos me mantiveram por perto mesmo a contragosto dele.  Dentre eles, a sabatina a qual o submetia sempre que prestes a sair para um compromisso.

Dividida entre o desejo de me livrar daquela logística enlouquecedora para ganhar minha autonomia original e o de manter-me atada à sua agenda para controlá-lo, reclamava:

–  Meu Deus! Não vejo a hora de você crescer e aprender a se virar sozinho!  Só assim, vou ter sossego e a minha agenda de volta!

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Por mais que esperasse aquela autonomia na prática, não foi bem assim que aconteceu.  Acostumada a reclamar da adolescência como um todo, finalmente percebi que podia vive-la como fase de desenvolvimento para toda a família. Prá isso, a transformação não seria só do meu filho adolescente, mas da família toda.

Trabalhar o desapego ao infantil foi tarefa difícil não só para meu filho;  arrisco dizer que foi prá mim também, mãe apegada.  A cada tentativa de alçar vôo, lá estava eu discorrendo sobre orientações, o que o deixava louco!  Afinal, a sabatina era longa e, a cada pergunta respondida, uma nova surgia.  Não tinha fim! Sair de casa era sinônimo de canseira.

Para os dois!

Inicialmente, me justificava citando casos de violência que a todo momento ocorriam:

– Meu filho, o mundo tá violento demais!  Preciso saber notícias suas prá qualquer eventualidade! explicava pensando ser o suficiente para convencê-lo de que meu comportamento era normal.

Contudo, com o tempo e com as repetidas discussões que se seguiam à enquete, percebi que havia caído no comportamento típico de mãe.  Independente da época e do mundo caótico que vivemos, estava repetindo o que tantas outras mães fazem:  tentando controlar o filho adolescente!

Naturalmente,  também ele passou a dar respostas típicas de adolescente:

– Que ééééé, mãããããe!  Saco! Tô indo à praia!

Creio ter nascido nesta ocasião sua frequente revirada de olhos e bufadas.  A cada investida que dava, nova resposta enviesada com bufadas e reviradas de olho: eis a nova dinâmica típica de mãe e filho adolescente acontecendo dentro de casa.

Em busca de equilíbrio para lidar com filho adolescente

Brincadeiras  sobre a “típica mãe” e o “típico filho adolescente” sempre me irritaram: mãe falante-reclamona e filho-irritado-revira-olho.  Não queria ser representada por esta figura “típica”. Mas, quando meu filho começou a me imitar fazendo a mesma enquete quando eu saía de casa, uma luz amarela acendeu:

– Ops, acho que estou me transformando na “típica mãe de adolescente”, pensei preocupada.

Fazendo as perguntas de minha habitual enquete e usando os mesmos argumentos, ele me abordava:

– Por medida de segurança, mãe! Importante saber onde você vai…  dizia.  Quase podia ouvir seu risinho de revanche ao fim da frase.

Passei eu mesma a me irritar com aquela abordagem desmedida e sem sentido:

– Sou responsável por um “de menor” (como adolescentes se tratam)! Tenho, no mínimo, a prerrogativa da inquisição! revidava.

O feitiço virou contra o feiticeiro mas trouxe uma lição:  precisava encontrar um equilíbrio entre segurança e liberdade que permitisse meu filho adolescente dar seus primeiros passos de adulto.

– Como é difícil desapegar do filho adolescente! pensei comigo mais uma vez.

Educar filho adolescente é como empinar pipa

Nunca fui boa de empinar pipa.  O segredo é equilibrar o  “dar e puxar linha” para que ela suba alto e se mantenha no céu.  É lindo observar pipa no alto do céu!  Aparentemente fácil de conseguir, descobri que não era bem assim quando arrisquei na prática.  Deixei de lado então.

Hoje, meu desafio é educar filho adolescente.  Tal qual empinar pipa, precisei descobrir a medida exata de dar e puxar a linha para que pudesse alçar vôo, ganhar altura. Dediquei-me, então, a praticar o exercício; desta vez, determinada a obter êxito.

Para meu filho adolescente alçar vôo, precisei ajustar-me à nova dinâmica da adolescência e fugir do comportamentos típicos de mãe; precisei me desapegar. A começar pela sua agenda e, gradualmente, outras tantas atividades que, agora, passaram a ser de sua exclusiva responsabilidade como adolescente.

A arte de ser mãe de adolescente

Ao dar linha ao meu filho adolescente, fortalecemos a confiança mútua. Desapegar-me ao controle, deu-lhe autoconfiança e coragem para arriscar seus primeiros passos de adulto ciente do meu apoio incondicional.  Ao puxar a linha, trouxe meu filho adolescente prá perto para ajustar arestas, orientar e reforçar ensinamentos.

A função de mãe de adolescente mudou; nós mudamos.  E ao descobrirmos nossa nova dinâmica juntos, abandonamos de vez o “típico”  para sermos nós mesmos, sem padrões genéricos. Encontramos nosso equilíbrio para empinar pipas juntos.

Empinar pipas se tornou uma arte prá mim.  O exercício de dar e puxar linha me ensinou que ver a pipa no alto do céu, linda, tranquila e esvoaçante, compensa todo o trabalho árduo de descobrir o equilíbrio entre o dar e o puxar.

Não seria essa a arte de mãe de adolescente também?

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