Mudar por dentro (e por fora) não é pouco, não!
A adolescência é fase de profunda transformação física e emocional. Como se não bastassem os duros desafios emocionais, o jovem ganha o peso adicional de lidar com sua aparência física em mutação. A família, acompanhando os efeitos dessa mudança, se espanta. Não se engane: o adolescente mais ainda.
Onde está a criança da noite anterior? Quem é esse rapaz de ombros largos, barba, espinhas e voz grossa? E essa moça de seios e curvas até ontem inexistentes? De onde vem? Sabemos que não é nesse estalar de dedos, mas a sensação é essa: a transformação física na adolescência ocorre da noite para o dia.
Junto com a mudança “repentina” vem a insegurança do adolescente de se aceitar com a nova aparência física. Em uma cultura em que o hedonismo, o culto à beleza padronizada, perfeita e irreal existe, o adolescente luta para se enquadrar. Sentir-se fora dos padrões nesta fase é um convite à depressão, ao bullying, ao sofrimento. Atenta, precisei atuar.
Neste momento crítico de transformação e aceitação, precisei mudar minha idéia romântica de que o momento era lindo. Para ajudar filho a aceitar sua aparência física como fator de respeito a si mesmo e ao próximo, precisei cair na real da dureza que é mudar por dentro… e por fora ao mesmo tempo.
Aparência física na adolescência é uma luta contra o incontrolável
Ao retornar das férias com a família, me dei conta das mudanças físicas do filho adolescente: ombros expandidos, voz grossa, espinhas no rosto, braços longos, pelos no rosto, nas axilas, no peito… e em outros locais os quais não tenho mais livre acesso. Curioso é que não havia notado as mudanças progressivamente. Foi um susto vê-as “de repente”.
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Me assustei mas, logo depois, me senti orgulhosa de ver o homem o qual estava se tornando. Me embeveci com a beleza da natureza que segue seu curso independente de minha vontade. Meu filho adolescente estava em plena transformação e isso me emocionou.
Valorizando e chamando sua atenção para o fato (como se ele já não soubesse), percebi que não gostou muito:
– Que saco, mãe! Me deixa em paz! – respondeu irritado aos meus elogios.
Foi o bastante para saber que, apesar de os pais admirarem a transformação, o mesmo não acontece com o jovem: ele luta contra sua nova aparência física. Agora, ela lhe parece irritantemente fora de controle e bem diferente da habitual e conhecida que cultivou desde pequeno.
A nova aparência física torna-se gatilho para uma explosão de emoções: lidar com sua nova aparência física é aceitar sua impotência, sua insegurança, seu descontrole. Lidar com o diferente nesta fase em que ser igual ao outro é fator de inclusão traz a insegurança de não ser aceito socialmente. De ser rejeitado ou até, ridicularizado por suas mudanças físicas involuntárias.
A natureza segue seu curso
Ajudar filho a lidar com a mudança da aparência física é andar em terreno minado. Se o elogio, se fecha; se brinco, é a morte, briga na certa. Melhor, então, ficar quieta e assistir pacientemente a transformação sem maiores alardes. Não sem antes contar-lhe minhas próprias inseguranças quando jovem, de elogiar, explicar, ponderar e reforçar o curso natural (e assustador) do desenvolvimento físico (aprendido nas aulas de biologia, inclusive!).
Me solidarizar com ele (mesmo sem respostas ou um diálogo propriamente dito) dei-lhe razões para lidar com a transformação. Em vez de subestimar o desafio, mostrei-lhe que apesar de difícil, é suportável, necessário e igual para todos; que independente de qualquer coisa, ele é admirável por ser quem é.
Caberia a ele lidar com a mudança em sua aparência física e encontrar recursos próprios para salvaguardar sua identidade e autoestima. Seu descuido com a própria aparência me preocupava mas me ative a dar-lhe espaço para descobrir seu próprio caminho. E isso aconteceu.
Um dia, passando por um grupo de meninas, o cutuquei comentando baixinho:
– Que garotas bonitas…
Aquele era o momento:
Fingindo dar pouca importância ao comentário (e até um tanto irritado comigo), respondeu com ar desatento:
– Nem vi…- e completou após breve instante – …a de cabelo longo até que é bonitinha…
Pensei comigo sobre aquela breve mas objetiva e ampla análise do todo: ele não só viu como avaliou e elegeu a “bonitinha” em segundos! A agilidade e eficiência da avaliação sobre a aparência física na adolescência impressionam. Fato é que adolescentes notam e são notados. Até o mais tímidos sabem como notar e como se fazerem notar quando querem.
Prova disso é que não demorou muito para a tal de cabelo longo bonitinha trocar olhares com ele. Vi um pavão abrindo as asas para se exibir à parceira o que, prontamente, me fez sair de cena. Inventando um imprevisto, o deixei repentinamente sozinho para que a natureza continuasse seguindo seu curso: o de encontrar o par que te aceite como é.
A natureza (e os pais) ajudam os filhos a lidar com a insegurança da transformação na adolescência
A mudança da aparência física sempre foi um desafio na adolescência. Inevitável sentir-se inseguro durante tamanha transformação. Como mãe de adolescente, me corrigi em tempo de dar ao filho razões para entender e, senão gostar, aceitar si mesmo como é… a lidar com o curso natural da vida.
O exercício da sedução começa pela aparência física mas o tempo e a experiência mostram que é a segurança de ser quem é que aprimora a qualidade de suas relações. Pavão ou não, cada um contará com o par que melhor encaixar. Pra isso, é preciso contar com os recursos que a vida e, se possível, os pais lhe proporcionarem.
Lidar com a insegurança da transformação física e emocional na adolescência jé difícil. Quando caí na real para ajudar filho adolescente a viver a fase, o fortaleci. Depois, deixei a natureza seguir seu curso de promover encontros que reflitam seu gosto… e espírito. Faz sentido pra mim. Espero que pra ele também faça.
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