Filhos adolescentes inseguros: calma ou medo?
Adolescentes inseguros são pouco afeitos a novas experiências. As histórias de um pai outro dia me fizeram reforçar esta opinião: os roteiros de viagem, o gosto por ação, movimento, o desejo de fazer diferente destoavam da atitude dos filhos que se assustavam de segui-lo.
Aquele pai aventureiro se frustrava com a recusa automática dos filhos de fazer o que parecia ser ousado. O gosto de conhecer e experimentar o novo parece mais vivo nos pais do que nos filhos adolescentes desta geração.
No começo, pensava ser uma questão de temperamento mas, escutando outras histórias parecidas, notei que pode ser mais que isso. Arriscava dizendo (até nisso gosto de arriscar) que os filhos adolescentes de hoje são mais calmos. Hoje arrisco outro palpite: eles tem medo de viver.
O limite entre a insegurança na adolescência e o medo de viver
Associada à era digital que vivemos, onde a tecnologia oferece recursos inimagináveis de contato, interação, descobertas e experiências virtuais, a violência urbana contribuiu para formar este cenário de adolescentes reclusos e inseguros.
Meus filhos (e muitos outros adolescentes) tem medo de viver: de lidar com desconhecidos, de sair na rua, pegar ônibus. Buscam o conhecido, sem surpresas. Me preocupa notar o desejo da garantia total de segurança; me agito de pensar que podem se tornar adultos inseguros.
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Enquanto a era digital nos abriu um mundo de opções (virtuais e reais) de relacionamento, de conhecimento, de idéias, opiniões e temas, o mundo real nos oferece uma rotina difícil de viver. Buscar um lugar ao sol hoje me aparece mais difícil. Pode ser apenas uma ideia limitada de mãe da atualidade mas, nisso, prefiro não arriscar; preciso agir.
Se por um lado me preocupo com a segurança dos filhos, por outro também me aflige enxergá-los como adolescentes inseguros. O medo de aprender a dirigir, de se virar sozinho, de ir para a faculdade, de fazer novas amizades. Viver a incerteza do mundo real me preocupa.
– Mãe, que saco! Não é medo! E se não der certo? Se eu perder o ponto do ônibus? – respondeu um deles irritado sobre minha pressão de ir pra escola de ônibus depois de ter aprendido algumas vezes o caminho.
Ainda que soe exagerado (quem nunca se sentiu inseguro de si mesmo na adolescência?) a recorrência das situações é que me deixa sobre alerta: qual o limite entre a natural insegurança na adolescência e o paralisante medo de viver?
Atitudes dos pais ajudam os filhos adolescentes a viver com mais ousadia
O tempo me ajudará a descobrir a diferença entre adolescentes inseguros e com medo de viver. Mas, antes, preciso reduzir o risco de criar adultos inseguros e sem autonomia para viver a vida como ela é: com seus riscos, dificuldades e medos. Pra isso, estou atenta e mudei.
A experiência própria e a atenção ao filho adolescente (descartando a frase clichê “é tudo igual”) são imprescindíveis para conhecer o indivíduo em transformação bem à minha frente. Mas não posso esquecer que preciso também conhecer as novas circunstâncias da era atual: o mundo virtual e a violência.
A responsabilidade é grande e, para viver a difícil fase da adolescência conectada com meus filhos, mudei minha atitude para ajudá-los a viver a vida com mais ousadia:
1- Conheci o mundo deles: como lidam com a tecnologia, com se relacionam, como gostam de se relacionar, suas atividades preferidas e, claro, participando do mundo deles.
2- Encontrei o tom certo para o diálogo. Sim, existe o tom mais apropriado para chegar no filho adolescente que, por muito tempo ignorei. Atenta, descobri aquele que trouxe resultado com ele. Tente, exercite vários e se surpreenderá com o resultado.
3- Me tornei uma boa ouvinte; essa foi especialmente difícil mas a recompensa foi enorme!
4- Descartei as opiniões e frases clichês sobre adolescentes: abri minha mente para novas “leituras” sobre a adolescência e, consequentemente, descobri novas possibilidades que a geração atual tem.
Tudo isso me ajudou a estabelecer empatia com filhos adolescentes e a buscar, junto com eles, uma forma de viver a vida com menos medo e mais ousadia, encorajando-os a descobrir a vida sendo um adolescente inseguro.
Somos todos aventureiros
Costumo dizer que “não é fácil criar filhos” e antes que me acuse da frase clichê, complemento “mas ninguém disse que seria.”. Estamos no mesmo barco. A diferença é que, por experiência própria, eu mudei. Em vez de esperar a adolescência passar ou viver afastada do meu filho nesta fase. O resultado veio!
Sou aventureira tal qual aquele pai do começo. Mas também insegura com o mundo de hoje. A diferença ê que, acertando e errando, participo da adolescência dos meus filhos encorajando-os a experimentar o inseguro mundo real com risco calculado.
Não será esta uma aventura também? Juntos e sem garantias vamos buscando caminhos para viver o mundo virtual e inseguro de hoje com o que há de mais real: relacionamento. É quando, aí sim, somos todos aventureiros.
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