Virei mãe-general
Ser mãe de adolescente me causou profunda transformação pessoal. Primeiro para responder à pergunta de um milhão de dólares: “como lidar com filho adolescente?” Depois, para assimilar a ideia – e prática – de que também eu precisava me transformar. O superficial entendimento de que as mudanças seriam exclusividade de filho nesta fase me cegou por um bom tempo o que descobri, mais tarde, ser parte da enorme dificuldade de nossa convivência.
No começo, minha mudança foi pra pior: virei mãe-general, uma espécie de comandante portadora de metralhadora de ordens. Sempre determinando tarefas, impondo limites, controlando – ou tentando controlar – tudo, opinando e ensinando sobre qualquer tema. Sentia-me detentora de todo conhecimento e sabedoria para… lidar com filho adolescente.
Tal postura trouxe o sobrepeso. Além das naturais dificuldades de adaptação à nova fase de filho, me vi em profunda e assustadora angústia perfeccionista em momentos que hoje me parecem exagerados e até desnecessários. Afirmo isso com propriedade porque hoje enxergo que a exigência de ser – ou parecer – mãe toda poderosa partia de mim e causava efeito contrário ao esperado: quanto mais perfeita e dona da verdade soava, mais filho se afastava de mim.
A mãe-general de como lidar com adolescente
Aquela foi uma das situações que já mostravam o que não queria ver:
– Mãe, lembra do Chico? Então… foi suspenso porque usou o celular na escola. Tá ferrado!
– Sério? Como ele dá mole! Vive aprontando e ainda assim não aprende? Como se queima fácil…
– Caramba, mãe! Precisa disso tudo? Que saco! Você julga muito! – sentenciou deixando a sala e finalizando o que era para ser uma conversa.
À ocasião, não notava mas a verdade é que eu me queimava involuntariamente com filho adolescente. Interagia sempre com opiniões fortes, críticas incisivas e julgamentos desnecessários. Apesar das “boas intenções” que toda mãe acredita ter, desvendei as ciladas – catastróficas – sofridas por mães reativas e de atitudes automáticas.
Assim ia me tornando mãe-general de adolescente que, pouco a pouco, sabotava as chances de convivência e inconscientemente se afastava além do esperado de filho em plena fase de transformação.
O equilíbrio de papeis
Ser mãe de adolescente é exercitar e articular diferentes papéis: os de mãe-general e mãe-acolhedora. Equilibra-los é difícil mas possível quando nos conscientizamos da existência deles e os usamos apropriada e estrategicamente. .
Sou mãe-general de filho adolescente em muitas situações, especialmente quando preciso orientá-lo sobre temas novos aos quais está começando a se expor no mundo adulto. Afinal, é dever de mãe ajudar filho adolescente a transitar no mundo adulto e, quem sabe até, minimizar riscos desnecessários. Pra isso, precisei mudaro modo como falava com filho adolescente.
A todo momento me deparava com situações difíceis que, sob minha ótica de mãe-general, exigiam postura diretiva, sem margem a discussões tais como comportamentos indesejados, obrigações inegociáveis, responsabilidades incorporadas. De fato, precisava ser a mãe-general assertiva.
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Porém, pouco a pouco, este papel passou a dominar nossas interações até que, tendo perdido o espectro da mãe-acolhedora, desaprendi de como lidar com filho adolescente. Excessivamente chata e intolerante, várias vezes perdi a oportunidade de praticar o papel leve e gratificante da maternidade pra dar coordenadas em vez de opções.
O equilíbrio nunca é fácil de alcançar. Sei bem disso porque passei a busca-lo no meu cotidiano e errei muito. Porem, dos erros, me conscientizei de que conviver com filho adolescente demanda disposição pra viver na pratica consciente dos detalhes que tornam a experiência única; portanto, sem automatismos e generalizações.
Me desapeguei das verdades absolutas da mãe-general pra deixar a mãe-acolhedora emergir quando necessário. O exercício rendeu o começo de minha transformação que logo virou caminho de como lidar com filho adolescente.
Atitudes diferentes, resultados surpreendentes
Apesar de o papel de mãe-acolhedora ser melhor, nem sempre filho adolescente está disponível pra usufruir dele. Várias vezes, nosso “timing” era diferente; simplesmente não batiam. O humor instável, por exemplo, complicou nossas interações diversas vezes.
Reconhecer momento certo para o papel de mãe-acolhedora ficou mesmo desafiador quando me tornei mãe de adolescente. Mas, quando ciente dessa característica adolescente, passei a relevar sua cara rabugenta e simplesmente não me importar mais como antes.
Essa mudança (sim, difíiicil) me manteve positiva até nos iminentes momentos de explosão:
– Fiz panquecas maravilhosas! Vamos provar? – o chamei animada.
– Odeio panquecas! – retrucou mal-humorado.
– Nossa, adoro! Não consigo parar de comer; virei uma faminta de panquecas! Será caso grave?- devolvi fazendo graça.
– Engoliu um palhacinho, mãe? – respondeu. Sem que notasse, quebrei seu ciclo de mau humor inesperadamente.
Relevar a reatividade e o mau humor de filho adolescente é praticar a sabedoria materna e ser premiada por isso. Mantendo-me positiva, consegui transformar o iminente conflito em interação leve e íntima pra dividirmos momentos de mãe-acolhedora ainda que filho adolescente nem tanto.
O bom de ser mãe de adolescente
Lidar com filho adolescente nos primeiros anos da nova fase me levou, de fato, à beira de um ataque de nervos. Despreparada e inconsciente das ciladas, quis exercer um papel formatado esquecendo de um detalhe: estava lidando com um ser diferente de mim e em transformação.
Buscar o equilíbrio dos papéis de mãe-general e mãe-acolhedora me libertou pra ser a mãe que queria ser: a que convive consciente de que, apesar dos conflitos, existe o lado bom de ser mãe de adolescente que começa por assumir a transformação também em mim, sob diferentes papeis e, acima de tudo, complementares.
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[…] dentre muitos o mais comum “adolescente é tudo igual” – traiçoeiramente também me tornei mãe clichê, ou seja, igual e massificada como muitas outras mães de adolescente. Esta é a justificativa de […]
[…] no automático, caí no simplismo de rotular filho adolescente. Ocupada em definir sua geração, adotei o termo […]
[…] – Mãe, você era um saco em tudo! Não podia me ver que sempre tinha alguma coisa pra reclamar… […]