territorio adolescente

O quartel adolescente

by Xila Damian

Território adolescente: Até bem pouco tempo, entrava no quarto do meu adolescente sem cerimônia; abria a porta (sempre fechada) sem pedir licença e imediatamente era recebida com um olhar impaciente seguido da pergunta pouco amável: “Mãe, o que você quer no meu quarto?

Às primeiras vezes, até me preocupava em respondê-lo com justificativas óbvias (buscar algo, tirar uma dúvida, perguntar sobre algo, guardar uma roupa, pedir um favor, saber se ainda estava vivo… qualquer coisa) até que percebi:

Território adolescente: Não importasse o que fosse, NADA seria motivo para eu entrar!

Entrar no quarto do meu adolescente, então, deixou de ser um ato simples; alertada (ok, criticada) por um tio que presenciou uma destas “visitas sem convite” (afinal, “já é um homem!”, disse ele). Adquiri a contragosto o hábito de bater à porta antes de entrar no território adolescente na expectativa de evoluir (sempre a evolução, lembra?) na relação e respeitar a individualidade do meu filhote, ops, meu adolescente. Desta forma (pensei ingenuamente) não só continuaria com passe livre, mas também passaria a ser bem recebida. Sem a necessidade de justificar minha “aparição”.

Ledo engano; o olhar impaciente seguido da pergunta fatídica não só continuou como outras foram acrescentadas até que eu me sentisse totalmente fora de contexto e, finalmente(!), abandonasse o território adolescente. Boa estratégia, pensei comigo…

Mas passada a mágoa (por que a alergia à minha presença???) e antes que a lente de aumento agisse contra mim mais uma vez, exagerando o óbvio e natural percurso do desenvolvimento humano, caí na real… o quarto do meu adolescente havia deixado de ser o recanto ingênuo, aconchegante e cheiroso um dia decorado com mimos infantis e de “nosso” gosto para se tornar, aos poucos e sem alarde, uma espécie de território privado, prático, auto-suficiente e tecnologicamente equipado para suprir suas necessidades atuais mais profundas:

O comando de seu próprio espaço, não mais “nosso”.

Como indivíduo em franca expansão, percebi (finalmente) que meu adolescente marcou seu território. O deixou com sua cara e o delimitou de tal forma que, agora, terei que pedir para entrar… sem trocadilhos.

Porém, perseverante que sou (MÃES o são!), me arrisco diariamente. Confesso que bem menos o que gostaria, mas quando necessário (tá, talvez um pouco mais) e acredite, ainda assim, continuo me deparando com seu olhar impaciente seguido de suas perguntas sem necessidade de resposta, apesar do esforço da nova dinâmica imposta.

Contrariada, então, decidi tomar minhas providências para uma boa lição. Ao adentrar meu quarto igualmente “sem cerimônia”, também eu o cobro o ritual imposto de bater à porta antes. E não é que gostei???

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O que mudou? Bem, à parte o aprendizado adquirido no exercício (interminável) da maternidade, diria que as tais perguntas fatídicas deram lugar à sua costumeira frase-coringa:
Mãe, você é um saco!
E a esta, não contesto; apenas aceito resignada na expectativa de que um dia passe… como uma gripe e, de preferência, em território neutro.

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