O período da transformação adolescente é um marco na vida de nossos filhos e na nossa também. Enquanto pais, é hora de enxerga-los e educa-los sob nova lente e habilidades. Perceber a transformação adolescente como oportunidade de amadurecimento humano e familiar é privilégio daqueles que aprendem a evitar ciladas. Ou pelo menos, que não caem facilmente nelas; pais que aprendem e usufruem da fase pra se tornarem adultos melhores. Junto com filho.
A transformação adolescente é oportunidade para a família
Lidar com filho em transformação adolescente pode ser (e na maioria das vezes é!) angustiante pra família. Isso porque convivemos com as mudanças físicas e emocionais de filho sem saber como agir nessa nova fase. Ao mesmo tempo apreensivos e orgulhosos, vamos vivendo novas situações aos trancos e barrancos desconhecendo o básico dessa transformação.
Enquanto as mudanças físicas, visivelmente notórias, nos enchem de orgulho, as emocionais traduzidas erroneamente, nos afligem. É hora de aprender novas habilidades pra não só compreende-las mas também ajudar filho adolescente a se transformar de forma saudável.
É aí que nosso papel fica ainda mais desafiador: ajudar filho a se transformar em adulto saudável a partir de uma fase angustiante. Decerto que viver esta transformação é processo natural e inevitável; mas também complexa. Tanto pra filho quanto pra pais. Por isso mesmo, exige conhecimento e disposição para agir diferente de antes.
Por uma historia diferente com filho adolescente
A fase é mesmo “revolucionária”. Enquanto o jovem sofre os efeitos das mudanças visíveis e invisíveis, um “novo ser” começa a emergir. Sim, o adolescente é involuntariamente invadido por emoções desconhecidas que, a cada dia, o transforma e instiga a, de fato, ser diferente.
Quando descobre voz própria, quer pensar e opinar por si mesmo. Tal mudança de comportamento é boa… não fossem os conflitos que também começam. Neste cenário em transformação, pais se angustiam: seja porque desconhecem a luta do filho adolescente consigo mesmo seja porque se ressentem por não compreender os motivos de tanta mudança.
Viver a fase, contudo, pode ser diferente se, antes, a enxergarmos de outra forma: como oportunidade de desenvolvimento para a família toda, não só pra filho que vive a transformação. Em meio a dúvidas e descobertas, abrir-se a novas possibilidades e buscar novos meios de conviver com filho adolescente hoje, é o primeiro passo pra viver uma historia diferente (e melhor) nesta fase de transformação.
O que fazer quando tudo parece ser pessoal
Várias vezes me magoei com filho adolescente se notar a “dinâmica” errada que seguia. Quando pensava estar ajudando, estava reclamando. Quando pensava estar acolhendo, estava aconselhando. Quando pensava estar cuidando, estava ditando ordens. Quando pensava estar mostrando interesse, estava invadindo espaço. Quando pensava estar orientando, estava tentando controlar.
Era sempre difícil encontrar a medida certa das boas intenções com filho adolescente. Por conta disso, estava sempre a se irritar comigo. Tudo o que fazia era nada ou qualquer coisa capaz de irrita-lo despropositadamente:
– Filho, café na mesa caprichado! Que tal uma parada para um lanche agora?
– Pô, mãe, tô falando com meus amigos aqui e você me interrompe! Que saco!
– Caraaamba, o negócio é mesmo comigo! Só pode ser! Nada do que faço te agrada! É pessoal!
O saldo era sempre mágoa, ressentimento e… repetidos conflitos sob o mesmo gatilho. O que fazer de diferente pra me conectar com filho adolescente?
A fase é de transformação pra filho e pais
No livro “O Cérebro Adolescente“, Dra. Frences E. Jensen, autora e neurocientista, defende que pais “precisam entrar na cabeça do seu filho” para ajudá-lo a lutar”. Sim, a adolescência é uma fase fantástica de descobertas mas fundamentalmente de desafios que demandam apoio irrestrito de toda a família.
Pesquisas comprovam, cientificamente, a profunda transformação pela qual o cérebro e o corpo adolescentes sofrem. Tomar ciência desta evidência científica mudou minha ótica sobre filho adolescente. Mais: me ajudou a compreender suas (re)ações como parte de um processo biológico e involuntário.
A partir daí, os conflitos, até então vividos como afrontas pessoais, ganharam novo entendimento… e nova abordagem. Passei a buscar formas de ajudar filho adolescente a viver sua nova fase aprendendo com ela. Não mais reagindo em combates comigo. Transformando.
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“Quase tudo é explicável em termos neurológicos, psicológicos e fisiológicos”, diz a autora.
À medida que entendia, me sentia consolada: o mau relacionamento com filho adolescente era fruto de uma revolução interna que o levava a agir diferente e, muitas vezes, intempestivamente. Nem ele sabia o porquê de tantos conflitos; nem eu sabia o porquê de tamanha reatividade e imprudência. Tudo era involuntário e desmedido.
Tentarei explicar de um modo simplista: o lobo frontal, parte do cérebro responsável pelo auto controle e pela racionalidade, é a ultima parte do cérebro a concluir seu desenvolvimento. Na adolescência, portanto, ainda está neste processo.
Por essa razão, a angustia aos poucos foi se dissipando: havia um motivo para tantas discrepantes e inesperadas atitudes de filho: a transformação adolescente estava a pleno vapor… internamente. Ajuda-lo a viver esse período de confusão interna é tarefa tão difícil quanto necessária; precisamos, portanto, aprender como.
A alergia aos pais é temporária
Isso não significa dizer que, então, precisamos controlar filho adolescente. Pelo contrário: este modelo de educação não beneficia ninguém, acredite. Depois de seguir por este caminho, só obtive resultados desastrosos. Por isso mesmo, a duras penas, descobri que conviver com filho em transformação adolescente demandava outras competências, bem diferentes das usadas com filho criança.
Precisei, primeiro, me livrar da vitimização. Como desvendado com Dr. Anthony E. Wolf, Ph.D., “a maioria das crianças contrai uma alergia temporária aos pais quando atingem a adolescência”. A surpresa da nova e consoladora afirmativa, fez sentido pra mim: lembrei de quando eu, então adolescente, vivi a tal “alergia” em relação à minha mãe. De repente, minha reatividade ganhou outro nome: alergia temporária a pais.
De fato, me irritava com a presença de minha mãe. Sem motivo aparente, me incomodava com tudo (ou nada) que fizesse. Tal qual agora filho adolescente, reagia a sua simples presença sem saber bem o porquê. Me sentia culpada por isso; era inexplicável, involuntário e, na maioria das vezes, inevitável.
Apesar da injusta alergia, minha mãe sobreviveu aos meus rompantes de mau humor e rechaço. Será que já sabia que a alergia ao mesmo tempo que vem… também ia embora?
Não caia mais em ciladas
Ao assumir a transformação adolescente como natural me libertou do papel de vítima. Compreender o invariável distanciamento como comportamento igualmente natural também. Entender sua necessidade de espaço para viver e se reconhecer em meio à intensa fase de mudanças, nos libertou dos desgastantes conflitos.
Passei a agir de outra forma com filho adolescente: acolhendo, apoiando e, sobretudo, ajudando-o a se desvendar no meio deste complexo período de transformação. Manter-me conectada a filho era mais importante.
A relação fica, de fato, complexa e, por conseguinte, desafiadora. Mas há meios de tornar esta fase de transformação adolescente em oportunidade de desenvolvimento para a família toda desde que nos tornemos conscientes das ciladas.
As 7 atitudes de como lidar com seu filho adolescente e não cair em ciladas
1- Conte até quanto achar seu equilíbrio de novo
“Não queira vencer batalhas; vença a guerra.” Escolha suas batalhas, as que valem realmente a pena. Para isso, em vez de respirar fundo como tantos falam, conte! Conte até 10, 20… o quanto necessário para restabelecer o equilíbrio emocional e NÃO REAGIR às respostas enviesadas que seu filho adolescente te dá. Imediatamente, deixe o local; saia de perto dele. Reações são instintivas, animais, irracionais. A história inevitavelmente vai acabar mal, acredite.
2- Estude formas diferentes de abordar filho…
… e pratique! Perceba sua reação a cada uma delas. Descubra, então, aquela a qual é menos reativo ou a que recebe menos mal. Siga por ela e se aprimore nela… Você está encontrando o caminho, enfim! Não desista.
3- Aproxime-se de forma objetiva…
… nada de reclamar antes de falar o que precisa ou queira falar. Se comprovada a necessidade de falar naquele momento, use tom natural de voz. Lembre-se: é uma conversa, não um interrogatório, uma investigação ou julgamento. Só uma (tentativa de) conversa. Se eu consegui… arrisco dizer que também consegue; e, como eu, também notará a diferença.
4 – Reformule o que disse…
… se receber resposta enviesada. Por exemplo: “Acho que me expressei mal…” ou “você me entendeu mal, quis dizer…” ou “desculpe, não era bem isso que queria dizer…”. Filho notará que você está desarmada e tentando dialogar em vez de tentada a dar um sermão.
5- Exerça a EMPATIA…
Segundo o dicionário Houaiss empatia é “a capacidade de partilhar dos sentimentos e emoções de outra pessoa.” Assim, estabeleça empatia com filho adolescente! Enquanto você adulta e consciente sabe, ele está passando pela fase de transformação adolescente involuntária e inconscientemente. Difícil pra você? Pra ele também… ou até mais!
Ponha-se no lugar dele. Mais que isso: tente pensar e sentir como ele. Pra isso, puxe pela memória sua experiência adolescente. Talvez assim angarie mais recursos pra agir com paciência, acolhimento e, sobretudo, compreensão em momentos críticos de rejeição por alergia… temporária. Lembre-se: sua reatividade não é pessoal!
6- Finja-se de boba…
Como assim? Então… releve a rabugice de filho adolescente. Em vez disso, desfrute dele cega à sua alergia. Desfrute de sua companhia mas não se prolongue… só por breve momento. Conte algo do seu dia em rápida interação e sem expectativa de retorno. Se acontecer, ótimo! Se não, filho saberá que está por perto e atenta a ele. Isso lhe dará a segurança necessária de saber que pode contar contigo… apesar de tudo.
7- Abrace filho adolescente…
… não aquele reservado e seco mas o amoroso (e breve!). Ele provavelmente odiará a atitude mas amará a mensagem perfeitamente compreensível ao adolescente em transformação: “meu amor transcende seu mau humor e negatividade diários. Te amo acima de tudo!” E não é verdade?
A conscientização transforma a relação entre pais e filho adolescente
Finalmente, aprendi e implementei tais atitudes no meu cotidiano com filho adolescente. Admito: foi difícil e, às vezes, quis jogar tudo pro alto. Afinal, mudar comportamento e desenvolver autocontrole não eram exatamente minhas maiores virtudes. Portanto, agir diferente foi experiência tortuosa… mas proporcionalmente transformadora pra mim.
Como a maioria (senão todas) as mãe de adolescente, temi o desconhecido e me senti vítima das situações de conflito vividas com filho. Mas, ao me conscientizar da transformação adolescente real e pratica, me libertei: as típicas amarras de mãe de adolescente desapareceram e me permitiram, enfim, buscar ser a mãe que desejava ser. Desta vez, consciente das ciladas que me afastam de filho.
Talvez ainda não seja a melhor mãe que desejo ser; talvez nem chegue a ser um dia. Mas uma coisa é certa: não caio mais em ciladas que me afastam de filho adolescente. Pelo menos não tão facilmente como antes o que já me traz resultados bem melhores.
Vive algo assim com filho? Então, experimente mudar! Não desista de viver junto com ele esta oportunidade única de também se aprimorar. O desenvolvimento é de todos e para todos: a transformação adolescente é também transformação de pais. E isso, definitivamente, não é uma cilada.
Leituras sugeridas: Mudanças na adolescência, Temperamento na adolescência , Amor de mãe
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