O risco de formar adulto incompetente
A cada nova situação vivida como mãe de adolescente, ficava insegura e logo me agitava por não saber como lidar com elas. Na dúvida, me escondia detrás de respostas automáticas como autopreservação contra o desconhecido. Sob esta dinâmica, gradualmente me tornei inflexível e intolerante a novas possibilidades. Pior: cada vez mais presa a reações convencionais, me estagnei paralisada em caminhos que de nada me ajudavam a me relacionar e conviver com filho adolescente.
O inconsciente medo do filho então adolescente me impedia de não só acompanhar seu crescimento como também crescer com e a partir dele. Cega às oportunidades e exageradamente atenta às ameaças, desperdiçava ricas chances de experimentar novas rotas e evoluir não só como mãe de adolescente mas como ser humano.
Assustada com a “ameaçadora” fase de transformação – a “temida” adolescência – me restringi a repetir modelos do passado. Indiferente ao novo contexto da vida atual, desconsiderei as novas variáveis e, assim, repetia erros desnecessários como por exemplo, dar respostas automáticas a filho a fim de escamotear a falta de respostas às suas questões.
Preguiçosamente adotava discursos e opiniões alheias sem conhecimento próprio de suas necessidades individuais até me tornar mãe de adolescente que, insegura pelo desconhecido, se escondia nas respostas automáticas. Não notava que, pelo exemplo de ser “não pensante” tolhia filho de desenvolver visão crítica; arriscava formar adulto incompetente para viver o mundo … de hoje.
O medo dos pais de lidar com o diferente
Um dia, filho adolescente me perguntou:
– Mãe, se te pedisse, você me mudaria de escola?
Surpreendida e intimamente agitada pela inusitada pergunta, respondi direta e secamente:
– Não.
– Saco, mãe! Não quer nem saber o porquê da pergunta antes de responder? – retrucou.
De fato, mal respirei e automaticamente respondi sem pensar. Sequer cogitei saber mais sobre o motivo da pergunta até que, depois de sua observação, percebi: o medo de lidar com situações desconhecidas e, por isso sem respostas prontas, me impedia de dialogar com filho adolescente sobre questões difíceis.
Reagir com respostas automáticas me protegia da ameaça de não ter resposta a filho. Assim, a cada tentativa de autoproteção por meio de respostas prontas e sem margem à discussão, perdia a chance de alargar meu conhecimento e buscar novos caminhos para as diferentes situações diariamente vividas com filho adolescente.
Mãe e filho sob o jugo das respostas automáticas
Minhas respostas automáticas evidenciaram o óbvio: meu medo de não saber lidar com o desconhecido e, por consequência, com filho adolescente questionador e em plena expansão para o mundo das possibilidades. Paralisada pelo receio de errar, me recusava a cogitar novos caminhos e atitudes.
Em contrapartida, filho em plena fase de descobertas e transformação, exercitava – e lutava – para me tirar do ostracismo. Diante do incontestável fato de ser a adolescência período de rupturas para toda a família, cedi ao desafio de mudar.
Primeiro movida pelo profundo desejo e necessário dever de me reconectar com filho adolescente; depois, convencida de que a missão de mãe de adolescente abarca também o compromisso de ser adulto melhor o que, na atualidade, inclui a necessidade de pensar em um mundo de novas possibilidades.
Decidida a viver a fase de forma diferente comecei, então, por abandonar as respostas automáticas. Recuperar senso crítico e agir conscientemente sobre questões incômodas foi a primeira meta. Para tanto, passei a encarar o desconhecido com humilde escuta, observação e ponderação para, então, me precaver com risco calculado.
Resgatei, com isso, não só o jogo de cintura de outrora mas principalmente a coragem der viver a nova fase de filho junto com ele, desbravando o mundo de possibilidades no qual ambos estamos inseridos. Livre das respostas automáticas e por vezes assumidamente sem respostas imediatas, fomos juntos construindo, descobrindo e exercitando caminhos nunca antes trilhados.
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A vida sem respostas automáticas
O tema surgiu de novo em outra ocasião mas, diferente da primeira vez, surpreendi filho com minha nova atitude. Em vez de reagir com respostas automáticas, o respondi com perguntas abertas, aquelas impossíveis de serem respondidas com um simples “sim” ou “não”; perguntas instigantes que pedem detalhes e profundidade, que nomeiam emoções, explicam atitudes, contextualizam fatos.
Foi assim que a abordagem virou conversa e, então, evoluiu para um diálogo franco, amigável e adulto. Por uma mudança significativa no meu modo de reagir às intervenções de filho, sem dúvida ganhei por literalmente descobrir filho adolescente, suas relações, suas dificuldades, seus interesses e suas demandas, suas fragilidades e fortalezas.
Pude enxergar filho adolescente como indivíduo, não mais “massa” e a agir sem generalizações. A escuta ativa me ensinou a extrapolar opções, a ponderar sobre a experiência do passado em detrimento às demandas do presente. Escutar e argumentar com filho adolescente me despertou para seus desejos, suas expectativas, ideias e opiniões; a enxergar sua essência e junto com ele, crescer como mãe.
A vida sem respostas automáticas de pais
Mãe de adolescente acreditava que escutar filho fosse mostrar fragilidade e, assim, perder minha autoridade. A pretensiosa máscara de “mãe firme” me transfigurava como adulto intolerante às novas possibilidades e incompetente aos diferentes caminhos proporcionados pelo mundo atual.
Pelas respostas automáticas me mantive na forma de mãe reativa ao que se mostrava novo e, por isso, temível e digno de distanciamento. A ideia de que ser pai/mãe de adolescente é sermos inflexíveis sempre prontos a dar respostas absolutas a tudo é não só arrogante como permissiva porque paulatinamente vira ameaça à formação do ser pensante que a missão nos exige cumprir.
Escutar opiniões divergentes, argumentos novos, observar o contexto, avaliar possibilidades e diferentes caminhos, mitigar riscos é decerto trabalhoso e, sim, cansativo. Mas formar adulto competente para viver o mundo de hoje com autonomia e senso crítico depende disso e começa em casa, por meio de pais humildemente dispostos a viver a adolescência de filho como oportunidade de também crescer com ele e viver com mais consciência e menos respostas automáticas.
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