Rei Leão para pais de adolescente é mais do que um filme
No rádio, noticias sobre o lançamento do remake de Rei Leão. Repentinamente efusiva, gritei no carro:
– Aaaamo esse filme!
Irritado, e também envergonhado de seu amigo ter presenciado tamanha euforia materna, filho adolescente reagiu:
– Tá, mãe, eu sei… você sempre fala isso! Precisa mesmo fazer isso tudo? É só um filme, pô!
– Não, filho, é mais! Esse filme de animação me marcou de um jeito que nem sei dizer. Você nem era nascido quando foi lançado; outros vieram depois mas esse… esse, definitivamente, é especial. Guardo tantas memórias dele… no coração, sabe? – por fim, suspirei.
Desnecessário dizer mas, àquela altura, os dois já nem me escutavam. Mas, dessa vez, não ligo. Afinal, era profundidade demais para espectadores adeptos de filmes de animação por pura diversão. Diferente deles, Rei Leão para pais de adolescente é mais: é filme pra refletir sobre nossa participação no ciclo da vida.
A releitura de Rei Leão
Na verdade, não sou chegada a relançamentos; gosto de originais. Bons ou ruins, trazem a novidade, o desconhecido, primeira condição pra despertar meu interesse. Remakes, portanto, não me atraem. Há quem goste mas, eu, prefiro desvendar histórias e o desconhecido.
Fugi, então, do remake; mantive-me fiel à versão original. Porém, o frisson do relançamento me incitou o desejo e a curiosidade de assistir o filme de novo. Contra a maré da nova versão, revirei o armário em busca da fita original há anos guardada no fundo da gaveta empoeirada.
Aha! Sabia que estava lá! Logo busquei ajuda do filho adolescente pra fazer o filme rodar no videocassete (sim, ainda tenho o aparelho):
– Saco, mãe! Como vou fazer esse negocio funcionar? Não tenho a menor ideia de como fazer isso! Como você mesma disse, não era nem nascido quando esse troço funcionava!
Dei mão à palmatoria (aff, o passado gritando): dali não sairia nada. Recorri, então, à tecnologia. Um sopro de modernidade certamente ajudaria. Netflix não chegara a tanto mas a internet… aaah, essa salvou o dia! Original disponível, comecei a releitura de Rei Leão para pais de adolescente.
Diversão inspiradora
Quando lançado pela primeira vez, o gancho ciclo da vida, habilmente utilizado pelos criadores do filme, ainda era conceito raso pra mim. Hoje, em diferente fase de vida, assisti o filme dessa vez atenta a detalhes que outrora me passaram batido.
Beneficiada pela maturidade de hoje, reconheci Rei Leão para pais de adolescente como contribuição diferente da simples diversão. Primeiro porque ciclo da vida ganhou significado (e peso) maior nessa releitura. Segundo porque a historia do pequeno Simba ganhou mais profundidade sob minha nova ótica.
Sucessor do pai Mufasa, sábio líder adorado e admirado por toda a selva de animais-súditos, o carismático filhote cresce sob dinâmica incrivelmente humana. O enredo, pontuado por intrigas, traições e disputas, nos leva a reflexões sobre justiça, família, amizade… e mudanças para se fazer cumprir o ciclo da vida. Rei Leão para pais de adolescente é, sem dúvida, inspiração em forma de diversão.
O sacode
O filme é indiscutivelmente rico de mensagens sobre a vida e nossa participação no mundo. Dentre muitas passagens, uma em especial me ateve: quando Simba, o sucessor fugitivo, alienado de suas raízes e fraco de suas convicções, conversa com Raiki, sábio da floresta-exilio.
A principio, um diálogo aparentemente ingênuo começa até que o espectador, até então relaxado, se inquieta: a conversa ganha outro rumo:
– Parece que o tempo está mudando…
– É, parece que vai mudar… – responde Simba distraído.
– Aaaah, mudar é bom! – avança Rafiki.
– É, mas não é fácil… – retruca Simba fisgado.
A partir daí, Simba é sacudido. Cobrado a ocupar seu lugar no mundo e a contribuir desempenhando seu papel, somos levados a uma profunda reflexão sobre a importância de nossas raízes, da responsabilidade de assumirmos nosso lugar no ciclo da vida.
Simba que somos
Como Simba, tememos mudanças. De fato, mudar assusta, dá trabalho. Por medo ou comodidade, então, paralisamos; por opção, nos resignamos a viver o ruim; nos eximimos de assumir nosso papel no ciclo da vida. O pai, Mufasa, porém, aparece ao filho para lhe cobrar. Líder que foi, sabia que chegara a hora de mudar. Pra isso, habilmente lança a frase capaz de iniciar o processo: “Lembre-se de quem você é” e cumpra sua missão.
Assim me rendi ao filme de novo. Sob a leve mascara de filmes de animação, Rei Leão para pais de adolescente vira filme de gente grande porque traz reflexões profundas aos espectadores mais atentos. Mais que diversão, Rei Leão para pais de adolescente é oportunidade de refletir sobre o Simba que somos.
Mudar é bom mesmo
Rei Leão para pais de adolescente é, pra mim, antes de tudo, um convite a uma reflexão sobre meu papel no ciclo da vida. Mãe de adolescentes que sou me beneficio do filme aparentemente ingênuo e tomo pra mim mensagens deveras inquietantes.
Vivendo em um mundo cada vez mais complexo, reconheço que mudar continua assustador, trabalhoso… e recompensador:
– Aaaamo esse filme… e, verdade seja dita: que maravilha essa internet, hein?
– Quem diria, hein, mãe? Elogiando a internet! – exclamou filho sarcasticamente.
– É filho… como diz o sábio Rafiki: Mudar é bom.
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