A impaciência de filho adolescente não é nem de longe exclusividade de jovem “aborrecente” como escutamos por aí: é também de mãe que insiste em situações claramente fadadas ao conflito muitas vezes desnecessário e pouco (ou nada) importante.
Por exemplo, lembro forçar a barra para tê-lo em programas já não tão mais “interessantes” (sendo delicada, vai) de viver comigo:
– Que dia lindo! Vamos à praia, filho! – exclamei já o convocando ao lazer.
Curiosamente topou, o que já devia me soar como vitória àquela ocasião de claro afastamento. Em vez disso, me animei a avançar um pouco mais (mãe…). Munidos de todo o aparato necessário (e também supérfluo) para aproveitarmos tudo o que podíamos, aportamos na areia. Ufa!
Depois da trabalhosa chegada, minutos de silencioso e relaxante bem estar. Mas… durou pouco; logo sugeri ao filho:
– Tire a blusa pra pegar uma corzinha, filho…
– Tô a fim não…- respondeu preguiçosamente de olhos fechados e corpo claramente entregue sobre a canga displicentemente estendida sobre a aconchegante areia.
– Você tá branco demais… – insisti.
– Não queeero, mãããe… que saco! – retrucou “já” irritado. E aqui me permito um parêntese: mães tem o poder de irritar seu adolescente. Será mesmo por pura impaciência? Vale a reflexão.
Mãe sem limite
Finalmente me calei e rendi ao deleite daquele programa. Então a “vozinha” da sabedoria com quem vinha tentando firmar conexão me soprou ao pé do ouvido: “Não exagere… menos…” Diante do alerta, obedeci: relaxei para simplesmente curtir o momento… de silêncio. Porém, o exercício estava só começando.
– Como estará a água? – pensei comigo e firmando um diálogo interno e compensatório de quem se previne da impaciência de filho adolescente.
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Mais alguns instantes e arrisquei de novo:
– Vamos dar um mergulho?
– Agora não… – recusou melosamente sem cerimônia e de olhos preguiçosamente ainda fechados.
– Aaahh…vaamos! O mar tá tão lindo! – insisti mais uma vez…
– Quero não, mãããe… que saco! – retrucou impaciente.
Hora de falar… e calar
Em fase de aperfeiçoamento como mãe de adolescente, acabava por cometer falhas bobas de tão óbvias como esta: insistir no não de filho o que invariavelmente me levava a me contaminar pela impaciência dele. Repetir o erro reiteradamente me tornava irritantemente insistente… um saco! Mesmo!
Desperta para a cilada das investidas infrutíferas, me consolei de contar com sua companhia o que, sabemos, já era um grande feito. Não me bastava a presença física, desejava mais: sua efetiva participação no programa. Esperar tal comportamento de filho adolescente é elevar a régua às alturas. Sugiro começar baixo; do contrário, pode se frustrar olhando para o copo vazio e perder a chance de usufruir do mesmo cheio.
Salva por exercício iniciado há tempo, recuei e me calei; de novo.
– Ele não faz ideia do sacrifício que faço para não insistir. – falei comigo mesma. recordando uma de suas “observações” sobre meu jeito de ser: “insistente”, confessou-me certa vez.
Definitivamente: filho é rica fonte de informação – e conhecimento – sobre nós. Por isso, aprendi a não ignorar suas críticas. Em vez disso, passei a escuta-lo atentamente… claro, quando se propõe a tanto, né.
A impaciência de filho adolescente
Vencida pelas circunstâncias e conselhos internos, desisti dos convites. Segui para meu mergulho revigorante; aproveitaria cada segundo para restaurar a leveza do programa com filho adolescente. Voltei à areia restaurada e, de novo, leve. Sentindo o quentinho da areia me abraçar em silencioso relaxamento , foi a vez do meu adolescente romper o momento de prazer me perguntando curioso:
– Como tá a água?
– Ótima! – respondi economizando palavras.
– Vamo comigo? – pediu sem cerimônia.
– Agora? Acabei de voltar… – respondi com certo tom de revanche, confesso.
Então tirou a blusa e insistiu:
– Passa o protetor em mim?
– Chega mais… – respondi comemorando por dentro (“finalmente!).
Ritual de proteção solar concluído, insistiu mais uma vez:
– Vamo comigo, vai!
De repente, colhi os frutos do “sacrifício” de me calar na hora certa para curtir o momento do diálogo sem forçar a barra. O respeito ao tempo de cada um me ensinou a não mais me dar ao luxo de desperdiçar as raras oportunidades de convívio com filho adolescente em ciladas que invariavelmente colocavam em xeque pequenas – mas valiosas – conquistas de mãe.
A vida pode ser mais leve
– Okaaay, apesar de ter se recusado a me acompanhar, eu vou contigo… porque sou legal viu? Apesar…
E, me interrompendo, alertou:
– Mãe, que saco! É só um mergulho!
Diante do lapso de me ver caindo na cilada de dar peso desnecessário àquela situação, sorri já me perdoando e assumindo novo tom e semblante. Puxando-o pelo braço, corremos entre gargalhadas despretensiosas em direção ao mar.
– A vida com filho adolescente pode ser mais leve – disse a vozinha de novo.
Escolhendo onde insistir
Como crianças, nos divertimos por longo tempo lançando desafios mútuos na água e rindo dos micos de destrambelhados nadadores que nos revelamos ser. O simples programa de mãe-filho virou conexão e cumplicidade, típica relação de quem natural e desapercebidamente aproveita as oportunidades de interação com filho adolescente para se aperfeiçoar, o que me leva a deduzir: o exercício de ser mãe de adolescente não acaba nunca e nisso, eu insisto e persevero; com paciência… e cada vez mais atenta às ciladas.
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