impaciencia

Impaciência de filho adolescente de mãe impaciente

by Xila Damian

A impaciência de filho adolescente não é nem de longe exclusividade de jovem “aborrecente” como escutamos por aí: é também de mãe que insiste em situações claramente fadadas ao conflito muitas vezes desnecessário e pouco (ou nada) importante.

Por exemplo, lembro forçar a barra para tê-lo em programas já não tão mais “interessantes” (sendo delicada, vai) de viver comigo:

– Que dia lindo! Vamos à praia, filho! – exclamei já o convocando ao lazer.

Curiosamente topou, o que já devia me soar como vitória àquela ocasião de claro afastamento.  Em vez disso, me animei a avançar um pouco mais (mãe…).  Munidos de todo o aparato necessário (e também supérfluo) para aproveitarmos tudo o que podíamos, aportamos na areia.  Ufa!

Depois da trabalhosa chegada, minutos de silencioso e relaxante bem estar.  Mas… durou pouco; logo sugeri ao filho:

– Tire a blusa pra pegar uma corzinha, filho…

– Tô a fim não…-  respondeu preguiçosamente de olhos fechados e corpo claramente entregue sobre a canga displicentemente estendida sobre a aconchegante areia.

– Você tá branco demais… –  insisti.

– Não queeero, mãããe… que saco!  – retrucou “já” irritado.  E aqui me permito um parêntese: mães tem o poder de irritar seu adolescente. Será mesmo por pura impaciência? Vale a reflexão.

Mãe sem limite

Finalmente me calei e rendi ao deleite daquele programa.  Então a “vozinha” da sabedoria com quem vinha tentando firmar conexão me soprou ao pé do ouvido: “Não exagere… menos…”  Diante do alerta, obedeci: relaxei para simplesmente curtir o momento… de silêncio. Porém, o exercício estava só começando.

– Como estará a água? – pensei comigo e firmando um diálogo interno e compensatório de quem se previne da impaciência de filho adolescente.

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Mais alguns instantes e arrisquei de novo:

– Vamos dar um mergulho?

– Agora não… – recusou melosamente sem cerimônia e de olhos preguiçosamente ainda fechados.

– Aaahh…vaamos!  O mar tá tão lindo!  – insisti mais uma vez…

– Quero não, mãããe… que saco! – retrucou impaciente.

Hora de falar… e calar

Em fase de aperfeiçoamento como mãe de adolescente, acabava por cometer falhas bobas de tão óbvias como esta: insistir no não de filho o que invariavelmente me levava a me contaminar pela impaciência dele.  Repetir o erro reiteradamente me tornava irritantemente insistente… um saco!  Mesmo!

Desperta para a cilada das investidas infrutíferas, me consolei de contar com sua companhia o que, sabemos, já era um grande feito. Não me bastava a presença física, desejava mais: sua efetiva participação no programa.  Esperar tal comportamento de filho adolescente é elevar a régua às alturas.  Sugiro começar baixo;  do contrário, pode se frustrar olhando para o copo vazio e perder a chance de usufruir do mesmo cheio.

Salva por exercício iniciado há tempo, recuei e me calei; de novo.

– Ele não faz ideia do sacrifício que faço para não insistir. –  falei comigo mesma. recordando uma de suas “observações” sobre meu jeito de ser: “insistente”,  confessou-me certa vez.

Definitivamente: filho é rica fonte de informação – e conhecimento –  sobre nós. Por isso, aprendi a não ignorar suas críticas.  Em vez disso, passei a escuta-lo atentamente… claro, quando se propõe a tanto, né.

A impaciência de filho adolescente

Vencida pelas circunstâncias e conselhos internos, desisti dos convites.  Segui para meu mergulho revigorante;  aproveitaria cada segundo para restaurar a leveza do programa com filho adolescente.  Voltei à areia restaurada e, de novo,  leve.  Sentindo o quentinho da areia me abraçar em silencioso relaxamento , foi a vez do meu adolescente romper o momento de prazer me perguntando curioso:

– Como tá a água?

– Ótima! – respondi economizando palavras.

– Vamo comigo? – pediu sem cerimônia.

– Agora?  Acabei de voltar… – respondi com certo tom de revanche, confesso.

Então tirou a blusa e insistiu:

– Passa o protetor em mim?

– Chega mais… –  respondi comemorando por dentro (“finalmente!).

Ritual de proteção solar concluído, insistiu mais uma vez:

– Vamo comigo, vai!

De repente, colhi os frutos do “sacrifício” de me calar na hora certa para curtir o momento do diálogo sem forçar a barra.  O respeito ao tempo de cada um me ensinou a não mais me dar ao luxo de desperdiçar as raras oportunidades de convívio com filho adolescente em ciladas que invariavelmente colocavam em xeque pequenas – mas valiosas – conquistas de mãe.

A vida pode ser mais leve

– Okaaay, apesar de ter se recusado a me acompanhar, eu vou contigo… porque sou legal viu? Apesar…

E, me interrompendo, alertou:

– Mãe, que saco! É só um mergulho!

Diante do lapso de me ver caindo na cilada de dar peso desnecessário àquela situação, sorri já me perdoando e assumindo novo tom e semblante.  Puxando-o pelo braço, corremos entre gargalhadas despretensiosas em direção ao mar.

– A vida com filho adolescente pode ser mais leve – disse a vozinha de novo.

Escolhendo onde insistir

Como crianças, nos divertimos por longo tempo lançando desafios mútuos na água e rindo dos micos de destrambelhados nadadores que nos revelamos ser. O simples programa de mãe-filho virou conexão e cumplicidade, típica relação de quem natural e desapercebidamente aproveita as oportunidades de interação com filho adolescente para se aperfeiçoar, o que me leva a deduzir: o exercício de ser mãe de adolescente não acaba nunca e nisso, eu insisto e persevero; com paciência… e cada vez mais atenta às ciladas.

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