mudança de visual de filho adolescente

Mudança de visual de filho adolescente: tudo como esperado

by Xila Damian

A mudança de visual de filho adolescente

Certo dia, recebi por whatsapp recebi a notícia da mudança de visual de filho adolescente:

– Mãe! Descolori o cabelo!

De imediato, reagi assustada:

– Como assim? Você diz… da perna,né? – perguntei enquanto rezava por uma confirmação que não vinha.

– Mande foto! – ordenei com a respiração suspensa.

Aflita, não sabia mais se queria continuar aquela conversa; àquela altura, o medo era maior que o desejo de uma resposta. Mais alguns segundos de espera (que pareceram horas!), a foto chegou… e a casa caiu:

– MEU DEEEEUUUUUS! Como pode fazer isso?? – gritei tendo ao lado meu primogênito.

Dono de um cabelo lindo (sim, sou suspeita, e daí?), elogiava repetidamente seus cachos macios e naturalmente castanhos com o saudosismo de um visual que há tempo já mudara. Sugeria cuidados que, claramente, não eram seguidos sob a justificada preocupação de que “decerto, a genética também vai te cobrar os fios perdidos por seu pai, tio e avô.” – dizia – “aproveite e cuide enquanto os tem.”

Porém, naquele instante, todos alertas se esvaíram. Como quem tenta impedir um acidente que, nesse caso, já havia acontecido, me apressei em responde-lo por áudio; afinal, escrever levaria muito tempo e pouco expressaria minha perturbação:

– Está HOR-RÍ-VEL!! Tira essa coisa da cabeça A-GO-RA!! – gritei possessa.

Felizmente, o irmão ali presente teve tempo de intervir:

Saco, mãe! Olha o que você tá fazendo! Não tem nada demais! Também pintei o cabelo quando mais novo, pô!

Lembro vagamente da discussão que se seguiu. Chocada com a mudança de visual de filho adolescente e tremendamente irritada de reviver a situação de vê-lo agir estranhamente e independente de mim, congelei. A inquietação aconteceu menos pelo fato em si (afinal, já havia passado por isso antes) e mais por não reconhecer o filho.

Notícia digerida

Na verdade, o susto foi desconhecer a atitude do filho. Como não saber o que pensa? Como não participar dessa decisão junto com ele? Como não ser onisciente e onipresente em questões de mudança de visual de filho adolescente? Sem respostas e sem tempo, simplesmente deletei o áudio. Era hora de digerir a novidade e refletir: qual era a mensagem, de fato?

Liguei pra ele, então. Melhor seria (tentar) conversar e entender a atitude repentina; pelo menos, foi pra mim.  Consciente do tamanho do desafio de fazer as perguntas certas e no tom certo, me arrisquei a mais uma prova de fogo com filho adolescente.

Assim, contida e atenta às ciladas, lancei perguntas sem grandes alardes. Ainda que mal percebesse meu enorme esforço de manter a calma, filho mais uma vez me surpreendeu com um discurso direto e consciente:

– Mãe, é só um cabelo; vai crescer de novo. Se não quiser mais, raspo a cabeça; não ligo. O que importa é que experimentei o que já queria fazer há tempo. Fiz com amigos em quem finalmente confio. Vini fez e me chamou. Vi uma chance de mudar o visual. Mesmo sob o risco de ser criticado e zoado, paguei pra ver.  Me sinto bem por isso! Feliz de estar entre amigos e que, bonito ou feio, me apoiam.

A esperada conversa, de fato, aconteceu… por mérito dele, não meu! Mediante argumentação madura e coerente, calei-me; inesperadamente, todos os meus caíram por terra. Com nó na garganta, engoli forçosamente a impulsividade e reatividade para, então, digerir suas palavras. Reflexiva, finalmente me despedi.

Mensagem decifrada

Como pais, nos orgulhamos das primeiras mudanças físicas de filho adolescente a ponto de exibi-lo como que um troféu. Porém, distraídos (ou embevecidos), não notamos que, esse orgulho, é exclusivamente nosso e de mais ninguém. Nem mesmo de filho adolescente.

Parte disso porque desconhecemos a fase. Diferente do que pensamos, adolescente sofre com sua transformação. Sob um turbilhão de mudanças muito maior que a visível, sofre por se enxergar “outro”, mudado e, na maioria das vezes, feio. Enquanto isso, o resto do mundo segue sem se importar. Afinal, a mudança é natural e esperada.

Não raro, surgem as crises de identidade nessa fase e o adolescente sente necessidade de resolve-las pra se firmar como indivíduo. Por isso, pertencer e ser valorizado por um grupo com o qual se identifique e se sinta seguro faz parte do processo. Quando o encontra, partilha angustias, padroniza ideias e atitudes;  o grupo vira cúmplice e corajosamente o jovem experimenta ser o que quer. Assim sendo, sem julgamentos, filho testou nova possibilidade de visual.

Tudo como esperado

Viver a mesma situação de mudança de visual de filho adolescente em diferente circunstância me rendeu nova história e aprendizado. A ousadia do filho, dessa vez  vivida com um amigo, legitimou seu desejo de experimentar e arcar com as consequências de sua escolha.

A (bizarra, diga-se de passagem ) mudança de visual de filho adolescente perdeu força e acendeu luz sobre sua atitude. Ao aceitar sua imagem com elogios e aprovações, críticas e zoações, filho bancou o desafio de sustentar sua aposta e desejo, de se fortalecer em busca de sua identidade e a sobreviver aos ataques; inclusive aos meus.

Certamente filho relevou o risco “extra” de sua genética traiçoeira e incontestável. Com certeza, anulou parte dos meus alertas com displicência e o mundo continua pouco se importando com as mudanças do adolescente. Tudo como esperado.

Viver a mudança de visual de filho adolescente é realidade de muitas famílias. Porém, a história de cada uma é única. Por isso, me resignei a aceitar que cabelo volta a crescer e filho, diferente ou não, sobrevive às experiências inerentes à fase.

Não fosse assim, não seria adolescente saudável; tampouco eu, mãe preocupada com (e orgulhosa de) filho adolescente. Tudo, como esperado; enfim.

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