falta de consideração

Falta de consideração de filho adolescente: o exemplo começa pelos pais

by Xila Damian

Chamando filho à realidade

Inegavelmente, falta de consideração de filho adolescente é uma característica comum de ser notada nessa fase de desenvolvimento. Se achando o centro do mundo, filho mostrava desdém a regras básicas de convívio social e até de vínculo emocional. Suas necessidades e desejos pareciam ser infinitamente mais importantes e, facilmente, eram sobrepostos aos dos outros; inclusive aos meus.

Quando notei que sua atitude egoísta se tornara um hábito, me preocupei e, depois, sofri: sua falta de consideração havia ultrapassado o limiar aceitável. Seu baixo senso de coletividade se equivalia a baixo grau de empatia com o próximo, comigo.

Porém, a mágoa serviu de alerta para chamar filho à realidade. Em vez de sofrer, passei a agir: definitivamente não era essa a educação que queria dar a filho e me esforçaria mais pra mudar o curso dessa história. Quisesse ou não, aprenderia que o mundo gira pra todos, independente da falta de consideração de crer o contrário.

O mundo gira pra todos

Só para ilustrar: o cãozinho da família é mimado por filho adolescente. Entre carinhos e brincadeiras, aconchegos e beijos, acolhimento e cuidados ficava intrigada de ver tamanho apego ao bichano e tão pouco a mim, sua mãe, ora!

– Ah, mãããe… ele precisa de mim, né?! É meu bebê, meu amor… – justificava dengoso acariciando o pet.

Enquanto demonstrava falta de consideração comigo em situações rotineiras, caía de amores com o cachorrinho e atendendo suas necessidades prontamente. Ainda que pareça exagero ou até carência, explico. Por exemplo: imprevistos da escola.

– Mãe, a galera tá saindo mais cedo por causa da prova amanhã. Tenho que estudar. Então? Me busca agora? – falou pelo celular.

– Primeiro: prova amanhã não é motivo pra você perder aula; já conversamos sobre isso. Segundo: sabe que estou trabalhando e não posso sair agora. Terceiro.. – subitamente, me interrompeu.

Saco, mãe!  Tô precisando de nota, a prova é amanhã, tenho inglês hoje à noite… você não entende que vou me ferrar? Ou seja, o problema é o inglês! Vou me enrolar e não vou ter tempo de estudar pra amanhã! Preciso ganhar tempo e sair agora pra dar conta! Logo: veeeem! – esbravejou.

Diferente de outras vezes, não podia busca-lo mesmo. Ainda que pudesse, não o faria daquela vez. Cansada de sua falta de consideração e preocupada com o notório desrespeito aos meus compromissos, fiz diferente.  Na verdade, enxerguei a situação como oportunidade.

Antes de tudo, o situaria de sua falta de consideração comigo. Sua atitude egoísta e inconsciente de sentir-se no direito de ser o centro de tudo não me convenceria de largar tudo para resolver seu imprevisto. Assim, não me desdobrei pra atende-lo. Ao contrário: lhe devolvi a responsabilidade de buscar opções e de considerar limites alheios. Decerto entenderia que o mundo gira… pra todos.

A falta de consideração pesa em todos

Comecei por, primeiro, lançar perguntas que o ajudassem a pensar em soluções. Em vez de me tornar a solução passando por cima de minhas prioridades e responsabilidades, aprenderia, antes de tudo, a buscar as próprias saídas respeitando meus limites.

– Em princípio, vejamos: independente se boas ou ruins, que opções você tem para resolver a questão? – lhe perguntei.

Logo depois, uma bufada impaciente soou. Fingindo não notar, corajosamente insisti:

– Por exemplo: estudar pra prova na biblioteca da escola; ou, voltar sozinho ou de carona; ou então, seguir a programação do dia normalmente; quando chegar em casa, se esforça ainda mais pra dar conta do estudo pra prova do dia seguinte. Que tal?

Dentre bufadas, imaginava seus olhos revirando. Ainda mais determinada, dei a cartada final: lhe entreguei, finalmente, a escolha. Calma e solidária para pensar junto com ele, me despedi. Finalmente entendeu que a conversa era séria; não permitiria mais que sua falta de consideração invadisse meu território.

A mudança começa em mim

Ao lhe devolver a responsabilidade de pensar sobre diferentes saídas para seus problemas cotidianos, filho sentiu as consequências de sua displicência com os estudos e sua falta de consideração comigo. Gostando ou não, percebeu que suas necessidades e desejos são prioridade no mundo dele, não no mundo real.

Decidida a educar filho com valores sólidos como respeito a limites e ao próximo, não permitiria mais ser manipulada como antes. Surpresa entendi que a falta de consideração de filho era, na verdade, reflexo de minha incompetência de educa-lo para o mundo em vez de para mim.

De fato, minha atitude servil e ilimitada nutria a falta de consideração de filho da qual tanto me ressentia. Da mesma forma, lhe passava a mensagem errada quando assumia suas responsabilidades tal qual quando criança. Se quisesse formar adulto emocional e socialmente saudável e contribuir para um mundo melhor, precisava mudar essa história. E, definitivamente, essa mudança começava em mim.

Aproveite nossa página do Facebook e compartilhe mais experiências: Clique aqui!

Os frutos virão

Por mais comum que seja (e de fato é), falta de consideração de filho adolescente começa com atitudes permissivas de pais apressados em atender suas necessidades sem avaliar a situação criticamente. Nesse curso pouco educativo, fui alimentando atitudes egocêntricas de filho adolescente até perceber que, antes dele, eu é que precisava mudar minha atitude diante dele.

Assim, mudar minha prática servil permitiu mostrar a filho que, como ele, todos lidamos com imprevistos e buscamos soluções para nossos problemas cotidiano;  que, sem uma saída aparente, buscamos o outro para ajudar respeitando limites;  que o exercício entre autonomia e interdependência nos capacita a ter consideração pelo outro; a nos importar, de fato, com o próximo; inclusive eu, sua mãe, ora!

Enquanto o cãozinho totalmente dependente segue imune à falta de consideração de filho, permaneço atenta e decidida a dar exemplo de respeito a limites e colaboração mútua. Ainda que o exercício seja exaustivo, é igualmente enriquecedor pra todos.  Afinal, meu compromisso é formar adulto autônomo e consciente de seu papel no mundo.  Pra isso, me esforço certa de que colher os frutos desse esforço é uma questão de tempo; um dia, virão.

Leituras sugeridas:   “Incentivando a autonomia de filho adolescente”, “Mãe dependente de filho adolescente: tenha uma vida!”, “O imediatismo da adolescência”

No Comments

Leave a Reply