O real papel de mãe de adolescente
Descobrir que filho usa drogas na adolescência deve ser como o “céu cair na cabeça”. Não pensava nisso até que uma amiga desesperada me buscou para dividir sua aflição. Deduzi que, por mais que a gente oriente filho sobre a furada de se envolver com drogas, nunca teremos garantias de que acreditarão sem experimentar.
Aceitar o fato de que está nas mãos do filho decidir experimentar (ou não), continuar (ou não), parar (ou não) com as drogas é assustador mas é a realidade: não controlamos filho adolescente; empinamos pipa, como falo no artigo de mesmo nome. Diante disso, nos resta abraçar a responsabilidade de educá-lo com sabedoria para influenciá-lo em vez de controlá-lo.
Abrir mão da onipotência pode assustar no começo. Depois, é um alívio: não quero (nem devo) controlar filho. Além de me cansar inutilmente, quero (e devo!) formar um adulto autônomo, digno e saudável. Consciente das atitudes que não ajudam, busco novas saídas… sem garantias, assumo meu real papel de mãe.
Drogas na adolescência: Ganhando tempo para descobrir saídas
Uma amiga me ligou transtornada: entrou no quarto do filho e o encontrou fumando baseado com amigos. Não vacilou em começar uma discussão que, claro, virou briga com direito a gritaria, portas batidas, grupo expulso, família apavorada e… distante.
Escutei; não sabia o que dizer. A situação também era nova prá mim e não tinha respostas nem conselho a dar: só ombro amigo para consolá-la.
Perdida e desesperada, contou-me que, dias depois, tiveram nova discussão:
– Mãe, deixa de ser exagerada! Não sou um viciado que compra drogas prá ficar doidão. Maconha relaxa, deixa a gente tranquilo… nem sabe o que tá falando! Que saco!
Ainda perdida, desabafou de novo:
– Já desconfiava do Zeca! Tenho certeza que foi ele que instigou o Dado! Aquela carinha de santo não era boa coisa! E o bobão do Dado embarcou nessa! O metido a sabidão é um vai-com-todos. Falei pra ele: depois não vem me pedir ajuda porque não quero nem saber! Tá proibido de sair fim de semana e sem mesada! E ainda disse que, se encontrar droga nas coisas dele, a coisa via piorar!
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Aquele novo capítulo me fez refletir ainda mais sobre o assunto: o que eu faria no lugar dela? Ganhando tempo para a resposta, continuei oferecendo meu ombro amigo em silêncio e sem julgamentos.
Sou coadjuvante, não mais protagonista de sua vida
O tempo e os desabafos ajudaram a baixar a poeira. Ajudaram, também, a comprovar que as atitudes tomadas no calor da emoção não mudariam a complicada experiência com drogas na adolescência.
Dar sermões, responsabilizar as “más companhias”, acusar amigos, buscar vilões não levaram o filho a refletir sobre suas escolhas. A distância entre mãe e filho só aumentou o que, neste momento, piorou a situação. Nessa hora, ainda que pareça arriscado, é vital agir com a cabeça e não com a emoção.
Leita também como dialogar com filho adolescente
O primeiro passo pra isso é aceitar que não vivo a vida do filho adolescente. Como mãe, preciso estar atenta para orientá-lo e educá-lo a ser um cidadão consciente e, com sorte, feliz. Agora sou coadjuvante, não mais protagonista de sua vida. É hora de lhe delegar as rédeas, torcendo prá que acerte em suas escolhas e o acolhendo quando errar. Sim porque, inevitavelmente, vai errar.
4 Atitudes que pais não devem tomar para lidar com drogas na adolescência
Participar daquela situação de perto me fez (tentar) buscar respostas. Em vez de respostas do que fazer, descobri do que não fazer e que julguei serem tão importantes quanto:
1- Monitoramento: pode até dar certo por um tempo, mas é limitadíssimo! Não há como monitorar filho adolescente 24hs por dia; nem queira! Portanto, se assim quiser, ele vai consumir drogas, independente de seu pretenso (e falho) controle.
2- Acusações: acusar, ofender, humilhar, denegrir, apontar defeitos do filho são atitudes aviltantes de relação abusiva. Além de te distanciar do filho, trará mágoa, raiva e um relacionamento ainda mais difícil entre vocês. Sem falar no risco de torna-lo ainda mais vulnerável às drogas.
3- Responsabilização de terceiros: delegar às “más influências e companhias” a má escolha do uso de drogas mostra sua cegueira de enxergar que seu filho também (e ainda) falha em suas escolhas.
4- Evidências do uso: buscar evidências de que filho é usuário de drogas não te trará soluções, só mais angústia e a tornará uma bisbilhoteira desconfiada. Se quiser mesmo saber, converse sobre o assunto expondo sua opinião e preocupação com dados em vez de sermões.
Nessa jornada, a escolha é dele; só dele
Aprendi a conviver com o risco de filho experimentar drogas na adolescência. Também me dei conta de meus limites de mãe que me desafiam a evitar atitudes que atrapalham mais do que ajudam a lidar com a ameaça da situação (leia artigo sobre Como o discurso autoritário sabota a conexão).
Afinal, preciso permanecer junto de filho agora adolescente. Não mais para controla-lo mas para orienta-lo e influenciá-lo para o caminho saudável e mais seguro que conheço. Também para acolhê-lo se porventura se desviar; especialmente quando se der conta dos próprios erros.
Enfim, resta-me entender e lembrar filho que nessa jornada, sou coadjuvante. A escolha, por fim, será sempre dele. Só dele.
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