cobrança na adolescência

Cobrança na adolescência

by Xila Damian

Cobrança na adolescência: Quando a régua alta herdada dos pais se torna um fardo pesado demais para o filho

Pais podem levar filho adolescente a viver a angústia da busca pela perfeição

A cobrança na adolescência acontece de diferentes formas. Uma delas e bem conhecida é a cobrança de resultados escolares. Associamos “aluno-nota10” à idéia de perfeição e, por isso, o reconhecemos por ser nota10.  O reconhecimento dos professores, o orgulho dos pais e o olhar diferenciado dos amigos lhe dá a segurança de sentir-se aceito mais pelas notas alcançadas do que por ser quem realmente é.

A idéia de que “ser nota10” é tudo de bom, esquecemos que aquele jovem também possa viver as angústias de aceitação na adolescência. Apesar de seus destacados resultados, não percebemos o alto grau de exigência que o aluno nota10 estabelece para si mesmo.  A régua da perfeição o consome e a auto-cobrança na adolescência se torna um fardo.

O “aluno-nota10” sofre sozinho a pressão de manter-se perfeito.  Vulnerável, teme o risco de perder o reconhecimento conquistado; perder o título de “melhor da turma” é um fardo pesado demais.

Remetia o peso deste fardo às expectativas ou espelhamento de pais exigentes e/ou intransigentes.  Porém, conhecendo diferentes histórias de famílias com questões similares percebi:  até mesmo inconscientemente estabelecemos réguas altas aos nossos filhos e sem notar, os fazemos sofrer a angústia da busca pela perfeição desde muito cedo.

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Cobrança na adolescência começa pelos pais: verdade ou mito?

Encontrei uma amiga e, curiosa sobre sua vida, pedi-lhe notícias atualizadas.  Ao falar de sua filha única de 7 anos, dividiu não só as novidades mas também suas preocupações:

– A Duda está ótima!  Aluna aplicadíssima, só tira 10!  Um boletim maravilhoso que nunca tive na vida.  Mas, não sei o que acontece: se tira 9,5, ela chora compulsivamente se desmerecendo.  Entra em um desespero assustador!  Nunca exigi dela nota 10 nem qualquer outra!  Não sei o que fazer porque vejo que sofre com isso.  Quando tento acalmá-la, ela responde entre soluços: “Você não entende!   Saco!”

Após a surpresa do uso da tal “palavrinha”  tão cedo (o que será quando chegar à adolescência?)), voltei a ater-me à história.  Logo me lembrei de caso parecido em uma das reuniões de pais na escola em que a mãe de aluna-nota10 narrou a mesma relação entre aluna e nota escolar:  “… se a Mari tira 8-9, é a morte!”.

Assustada, continuei a conversa na expectativa de descobrir algo que pudesse ajudar aquela amiga a encontrar uma saída para a situação.  À primeira vista, a cobrança não vinha dos pais (“nunca exigi dela…”) o que, inicialmente,  jogou por terra a idéia de que pais são os “culpados” pela cobrança na adolescência.  Será que estava enganada esse tempo todo?

Quando vivi o ditado “Filho de peixe, peixinho precisa ser”

A angústia das notas abaixo da média do meu filho adolescente me dominou por um bom tempo.  Porém, quando tornei a cobrança na adolescência em acolhimento, independente de seu resultado, descobri o caminho de como ajudá-lo a formar sua identidade.  De preferência, tolerante ao insucesso.

Por dois anos, sofri pelos resultados escolares pífios do meu filho.  Escutar os elogios rasgados aos alunos-nota10 e notar a grande maioria de alunos medianos sendo relegada a segundo plano nas reuniões de pais me angustiava: e os alunos “esforçados” que  se superavam?

A angústia aumentava e a relação entre meu filho adolescente e a escola piorava: a ansiedade de conquistar nota alta, a frustração de não atingir o resultado esperado e, por fim, a falta de reconhecimento por seu esforço vinha de todos os lados.

Cansada desse ciclo vicioso, tentei nova saída;  comecei por uma auto-avaliação, o que tentava fazer com aquela amiga também.  Descobri que eu mesma traçava e adotava uma régua alta para mim mesma;  Por osmose, impunha a responsabilidade (e o peso!) da mesma régua ao meu filho adolescente.

Desconsiderando sua individualidade e personalidade, suas qualidades e limitações, meu parâmetro virou cobrança na adolescência do meu filho.  Naquela ocasião, vivi o ditado:  “filho de peixe, peixinho precisava ser.” 

O Ditado de Hoje: “Filho de peixe poderá ser o que quiser”

Crescer no meio de irmãos “maravilhosos”, “inteligentíssimos”, “crânios”, verdadeiros alunos-nota10 me trouxe o fardo de querer ser como eles. Como ótimos exemplos dentro de casa, me espelhava neles.  Porém, não era como eles e o que poderia ser inspirador, passou a me frustrar.  Junto com a frustração, veio a baixa autoestima, as notas de pouco destaque.

Nunca fui cobrada por notas escolares.  Meus pais me educaram desde cedo a ter autonomia e se colocavam à disposição se necessário.  Fui aluna de 7-8; portanto, mediana como a maioria de uma turma. Por mais que me esforçasse, aquele era meu resultado e isso me frustrava.

Meu filho adolescente foi aluno abaixo da média e meu ego se angustiava com isso.  A expectativa por notas altas do meu filho adolescente me mostrou a cobrança velada de “ser nota10”, o que nem eu fui capaz de ser.  A auto-cobrança na adolescência foi transferida prá ele.

Ao perceber meu erro, precisei enxergar meu filho como indivíduo diferente de mim, entender sua “dinâmica”, conhecer suas aptidões, anseios e limitações. Hoje, reescrevo o ditado definitivamente: “filho de peixe poderá ser o que quiser.”

A nova e definitiva régua da qual pais nunca devem abrir mão

Ao conhecer meu filho adolescente e aceitá-lo como é, dei-lhe a tranquilidade de ser quem é, independente de seu título escolar, nota10, mediano ou abaixo da média.  Fortalecido, ganhou recursos para escrever sua história com diferentes possibilidades, não mais limitadas à minha régua.  Diferente de mim, formava sua própria identidade.

Cobrança na adolescência é necessária mas nem sempre justa.  Também somos analisados e avaliados por nossos filhos a todo momento. Importante, portanto, demonstrar nossa aceitação sem rótulos e com seus insucessos, independente das notas escolares.

Aquela amiga descobriu a raiz de seu próprio problema e começou seu exercício; no caso dela, mais cedo do que se imaginava.   O que importa é fazer filho saber que ele é único e especial para mim, ainda que não o seja para o mundo… nem prá escola.  Esta sim é a nova e definitiva régua da qual nunca abrirei mão.

4 Comments

  • Carol Binda 22 de fevereiro de 2018 at 18:16

    Oie, adorei o texto, vivemos, eu, Gi e JP, constantemente está minha regua imensa. Por varias vezes me pego nas cobranças inalcançáveis, sem levar em questão a idade deles.
    Qdo percebo a tempo corrijo. Qdo não, culpada, vejo a decepção no olhar dos dois. Às vezes por medo do mundo que hj cobra tanto dos adolescentes, exijo, na tentativa de prepará-los, acabo antecipando angústias.
    Mas seguimos melhorando.
    Bj

    • xilaadmin 26 de fevereiro de 2018 at 11:32

      Sei como se sente. O importante é estarmos abertas a ler filhos sob diferentes ângulos e aceita-los como são. Somos todos imperfeitos. Premissa que precisamos aceitar; depois, a de que estamos sempre aprendendo. Inclusive com filho adolescente, fonte de exercício de aprimoramento e evolução para pais.
      obrigada por compartilhar sua historia. bj.

  • Mônica 18 de dezembro de 2017 at 15:09

    Adorei! Qualquer semelhança é mera coincidência! Vou adotar essa frase como mantra: Filho de peixe pode ser o que ele quiser! Obrigada por TUDO!!!

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