chantagem emocional

Chantagem emocional de filho adolescente

by Xila Damian

Vãs discussões… ou não

Atire a primeira pedra quem nunca fez chantagem emocional. Eu já fiz quando adolescente, adulta, filha e mãe. Apesar da vergonha, admito: fiz conscientemente. Aliás, sempre é. Independente do tipo, chantagem emocional é recurso de carentes de afeto. Portanto, qualquer um circunstancialmente necessitado, seja de algo ou de alguém, faz ou já fez chantagem emocional na vida.

Os sinais que não vemos

Inesperadamente pai e filha adolescente, então incansáveis combatentes, atingiram o ápice das discussões em família. Em uma relação gradativamente conturbada, perderam a lucidez e caíram no terreno traiçoeiro da chantagem emocional:

Não aguento mais você me culpando de tudo! Nunca faço a coisa certa! Vou embora de casa pra nunca mais voltar! – ameaçou a filha.

– Vá então! Vai ser melhor mesmo! Assim não vivo mais esse suplício diário de brigas! – retrucou o pai exasperado.

Aflita, a mãe assistia a cena enquanto rezava pelo fim de mais um conflito familiar marcado por palavras ásperas e chantagem emocional.  Ao me confidenciar a situação, revivi o sofrimento junto com ela: (re)conhecia aquela dolorosa dinâmica também vivida com filho.

O que soavam como vãs ameaças aos ainda inconsciente pais e filhos, se evidenciavam aos meus olhos despertos por uma experiência dolorosa –  claros sinais do começo do fim de uma relação desgastada pela carência emocional de uma família desatenta aos perigos daquela dinâmica.

A ameaça a ser vencida

Conviver com filho adolescente pode ser mesmo complicado. A todo momento, as demandas exigem novas habilidades de relacionamento entre pais e filhos. Talvez por isso seja proporcionalmente tão instigante: porque nos cobra contínuo aprimoramento para lidar com as situações que, todo o tempo, nos põe à prova.

Nesta dinâmica, agir com equilíbrio emocional não é só necessário; é, antes de tudo, vital. Do contrário, perde-se a razão e, junto, a chance de fortalecer relações e vínculos familiares. As primeiras experiências de chantagem emocional surgem até que palavras e atitudes se tornam violentas e irremediavelmente duras. Não nos enganemos: conflitos entre pais e filhos adolescentes são definitivamente perigosos.

Infelizmente sabia o que passava naquela família. De repente, a marola vira ressaca, o mar vira lama e, sem saber o que fazer, afundamos todos. Como eles, entrei em discussões parecidas mas, felizmente, mudei minha história em tempo de evitar o naufrágio o que, nem sempre acontece a outros pais e filhos.

Tipos de chantagem emocional

Depois de aprender sobre gatilhos emocionais, escapei de muitas ciladas vividas com filho adolescente.  O esforço sobre humano de me manter consciente nas discussões e reconhecer os traiçoeiros gatilhos emocionais que me envolviam em situações ainda piores com filho mudou esta dinâmica até então comum em casa.

Por mais que reconhecesse a dinâmica da chantagem emocional, mergulhar no tema me ajudou a viver melhor as situações quando filho se valia dela para me induzir a algo que não queria. Conhecendo seus diferentes tipos (por S. Forward), consegui não só detectá-los como também confirmar: chantagem emocional é meio de usar o outro para satisfazer vontade própria a partir de:

1- condicionais que, subliminarmente, nada mais são do que ameaças.  Prática, aliás, comum tanto a filhos como a pais de adolescente.  Decerto que já usei frases do tipo “se você for, não volta.” e também já escutei “se não me deixar ir, não falo mais com você.”

2- vitimização e/ou autoflagelo.  Com efeito, já soltei frases como “você não me dá valor mas, um dia, vai ver só!” e também já escutei ” Você me acha um bobo mesmo, né?! Nunca vou ser bom o bastante pra você.”

3- terceirização de responsabilidades. Como quando filho se exime de se responsabilizar por revezes ocorridos com sua participação com frases do tipo “Tudo eu, tudo eu! Não esqueci a chave na porta quando saí! Você é que não trancou quando entrei, mãe!”

4- da recusa de amor/afeto como quando várias vezes já disse “Não me venha com beijo agora!  Te pedi um favor e você não fez!” e muitas outras escutei “Não quero saber, mãe!  Você sempre reclama de mim.  Não vou mais te encher o saco pedindo roupa nova;  vou sair feito mendigo na rua e pronto.”

Todos já passamos por isso algum dia; talvez muitos como eu,  confesso.  E, inconscientes – vendidos na situação mesmo! – do teatro emocional, entramos no tsunami (re)agindo desatentos e negligentes aos potenciais danos que a prática, apesar de comum, pode causar a longo prazo.

Sob uma chantagem emocional

Em casos de afogamento iminente, logo me vem à mente preciosas orientações que salvam vidas : “mantenha a calma; então, flua com a maré. Do contrário, morte iminente por asfixia.”  Assim me sentia em situações críticas com filho adolescente: sob morte iminente por asfixia.

Mas, diferente da preciosa dica, continuava me debatendo, lutando contra a maré.  O resultado, invariavelmente óbvio, se confirmava me afogando nas dolorosas e cada vez mais perigosas discussões. Precisei “tomar muitos caldos” para finalmente entender; depois a pratica-la para aprender a não mais lutar contra mas a escapar dela.

Primeiro, reconhecendo o perigo iminente; depois, me precavendo pelas instruções que, apensar de insistentemente recordadas, eram até então pouco experimentadas. Diferente daquele pai, passei a relevar as ameaças intempestivas de filho. Em vez de rebate-las, passei a reforçar amor e segurança.

Embora notasse um filho carente detrás da chantagem emocional, não sabia como lidar com a situação sem ser reativamente agressiva e intolerante a suas ameaças e condicionais. Ao enxerga-las como último recurso de ganho de atenção, finalmente entendi: debaixo de uma chantagem emocional, um desejo de ser… cuidado.

Aprendendo a viver

As tentativas de ganhar a atenção podem crescer de tal modo que podem virar reais suplícios familiares. Subestimadas, a chantagem emocional, longe de ser ingênua, pode levar pais e filhos a trilhar um caminho sem volta de uma relação frágil e até inviável.

Situações tão comuns como esta requerem tato especial que começa por fluir em vez de combate-las  oferecendo atenção genuína a filho, se dedicando a suprir a carência afetiva paulatinamente no dia a dia, sendo presença real no cotidiano na maioria das vezes corrido e cheio de afazeres, se mantendo atento para evitar as distrações que constantemente nos desviam do dever maior de desenvolver vínculos capazes de nos sustentar nas invariáveis tempestades da vida.

O que muitas vezes tachamos de “tola” chantagem emocional pode se tornar fonte de mágoas, às vezes até irreversíveis, como as daquela família que hoje luta por uma reconciliação que se torna a cada dia mais dolorosa e difícil entre pais e filho.

Ainda que romper o ciclo permissivo da chantagem emocional com amor seja desafiador, é proporcionalmente vital: não só liberta o chantageado mas também amadurece o chantagista. Assim, livres e fortalecidos finalmente entendem: viver é vigiar constante para fluir atento em meio às ameaças que insistentemente tentam nos afogar no mar da vida.

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