castigo na adolescência

Castigo na adolescência: o tiro que sai pela culatra

by Xila Damian

A prática ensina outra coisa. Muitos pais creem no poder do castigo na adolescência como meio educativo mas poucos se dão conta de que o meio não necessariamente o fará alcançar a meta.

Isso porque, na maioria das vezes que castigamos filho, o fazemos tomados mais por um desejo educativo-punitivo. Muitas vezes caí na cilada de punir filho adolescente acreditando estar firmemente educando. Muitos pais e especialistas ainda acreditam nessa ideia de educar pela punição. Infelizmente poucos enxergam o resultado desastroso dessa prática.

Não me recordo de uma situação sequer em que meus pais me puniram por um erro. E sabemos o quanto erramos, principalmente na adolescência. Ainda assim, adotei o castigo na adolescência de filhos. Experimentei diferentes formas de punição por seus erros inconsciente do bom exemplo recebido e da prática infrutífera e, pior, humilhante adotada.

A definição de castigo na adolescência (ou qualquer outra fase) já nos indica a ideia de punição. Você ainda acredita nos resultados educativos dessa prática? Eu não. E o digo seguramente porque vivi os extremos dessa prática e descobri na pele: castigo na adolescência pode ser um tiro que sai pela culatra.

O sabor do castigo na adolescência

Já havia acostumado com filho adolescente em reiterados períodos de recuperação, resultado de fatores além da pura ideia de desinteresse ou displicência que não vem ao caso comentar. Porém, um dia, me surpreendi: o número de disciplinas abaixo da média foi maior.

Frente ao novo cenário, estourei:

– Não acredito! Você sabia disso e não me contou? Como chegou a esse ponto? Está sem mesada este mês e não sairá um fim de semana sequer até concluir o ano escolar. E aaaaaiii de você se não passar de ano! – concluí espumando raiva.

Saco, mãe! Injusto de sua…

E, antes que completasse, o interrompi:

– Injusto? Devia é castigar mais! Sorte sua ser “só isso” por enquanto… até o resultado sair! –  completei exasperada.

A notícia, de fato, me tirou do prumo. Surpreendida e frustrada, julguei filho naquele momento de ira sem filtro. Simplesmente surtei. Com isso, dei-lhe sentença desproporcional e nada educativa. Em vez de educar, puni saboreando inconscientemente o gosto da vingança.

A ideia (e prática) desvirtuada

Castigo na adolescência carrega uma ideia desvirtuada de educação: em vez de ensinar motivando à uma mudança de atitude e comportamento, pune e instaura o medo de errar de novo. Não estou aqui defendendo passar a mão sobre os erros mas de usa-los como aprendizado para a mudança efetiva em busca de um resultado melhor… da forma correta.

Bem sei da raiva e da frustração e tantos outros sentimentos nada louváveis que nos acometem nesses momentos de erro de filho. Também vivo isso e me solidarizo com outros pais por isso. Contudo, minha experiência mostrou quão deturpada minha lente sobre castigo na adolescência estava e, felizmente, mudei de ideia sobre essa saída infrutífera e injusta.

Descobri quão raivosa e autoritária me tornava a cada erro de filho adolescente. Resquícios de um perfeccionismo que por muito tempo me atormentou e que, até hoje, tento domar. Mas, a verdade é que, decepcionada com os maus resultados (na escola e em outros campos), acabava por literalmente despejar minha frustração sobre filho.

Estragos em vez de resultados

Desmotivado e, sentindo -se humilhado, filho desistia de tentar de novo; na verdade, nem tentava. Afinal,”de que adianta tentar quando você já nem acredita que sou capaz, mãe”, me disse um dia. Diante dos evidentes estragos causados pelo uso do castigo na adolescência, finalmente entendi que a prática havia tomado um rumo bem diferente do esperado.

Aquela “saída”, sabe-se lá adotada por influência, desespero ou pura ignorância, estava contribuindo com a formação de indivíduo rancoroso, amedrontado e de baixa autoestima. Tudo muito diferente do esperado.  Desacreditado, filho perdera não só a autoconfiança, essencial em processos realmente educativos para a mudança, mas também motivação para ser melhor. Sim, todo esse estrago acontecia com minha ajuda.

Corrigindo os próprios erros

Afinal, onde estava errando? Os resultados denunciavam: na minha incompetente atuação como mãe de adolescente que deveria educar em vez de punir. Ao invés de contribuir com a conscientização de filho sobre as consequências de suas más escolhas, reforçava sua incapacidade de mudar e ser melhor.

Desertei aquele grupo de pais defensores do castigo na adolescência; mudei de opinião… e prática. Castigo na adolescência é prática de pais incompetentes na função o que, hoje, aprendi (um pouco mais) para não ser. Dissociada da punição como forma de educar, passei a contribuir com o desenvolvimento de um adulto melhor.

Você deve estar curioso/a pra saber “como?”; também estaria e, por isso, será tema de novo texto. Antes te proponho um exercício inicial de mudança própria. Primeiro: devolva ao filho a responsabilidade de digerir e lidar com suas limitações e frustrações. Acredite: esse é o primeiro e mais difícil passo pra qualquer um que erra e já causa enorme dano quando mal trabalhado.

Segundo: discuta meios capazes de mudar resultados.  Por fim, o mais importante na minha opinião: mantenha-se junto de filho. Não mais apontando seus erros e defeitos (o mundo se encarrega disso) mas reconhecendo as virtudes que tem e que o capacitam a tentar de novo e melhor. Em suma: encoraje-o!

Filho adolescente não precisa de punição mas de força e inspiração pra superar e aprender com os erros. O mundo precisa de adultos corajosos e incansáveis na arte de vencer desafios. Como vê, o exercício é árduo pra todos e começa em casa, entre pais e filhos adolescentes. Juntos.

Leituras sugeridas: Cargo de mãe de adolescente, Mensagens de amor a filho adolescente fazem diferença,  Cobrança na adolescência

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