Aprender a dirigir na adolescência

by Xila Damian

Independente da idade, a maioridade do filho parece não chegar nunca

Iniciar filho adolescente nas atividades do mundo adulto é tarefa difícil e necessária:  aprender a dirigir foi uma delas. Prestes a completar 18, me dei conta: era chegada a hora de dar os primeiros passos da maioridade (ou em direção a ela) assumindo novas atribuições e responsabilidades.

O desejo (de quase todo) adolescente de aprender a dirigir me parecia óbvio. Afinal, a independência e autonomia que esta capacidade traz é incrível. Vi sobrinhos crescerem extasiados com a possibilidade de ir e vir sem depender de caronas e idealizar o adulto bacana dono de seu próprio nariz pelo simples fato de saber dirigir.

Pensei o mesmo do meu filho adolescente e me surpreendi: ao contrário do que pensava, ele estava inseguro desse passo.  Aprender a dirigir ainda não estava nos seus planos de maioridade.

A cada fase da vida, descubro que nada sei. Ao me tornar mãe de adolescente tive a certeza de que nunca saberei. Apesar do constante aprendizado, me surpreendo com as diferentes reações do meu filho adolescente. Sob meus olhos de mãe e independente da idade, a maioridade parecia nunca chegar.

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Repensando a estratégia de como ensinar filho a assumir sua maioridade

A poucos meses de completar maioridade, convidei meu filho para aprender noções básicas de direção. Pensei estar me antecipando a um desejo inerente à idade.  Ledo engano.

Que saco, mãe! Não quero… Nem sei se vou querer algum dia – respondeu.

Surpresa, notei a insegurança de sua resposta, o medo de experimentar.

Sabemos o quão significativo é aprender a  dirigir. A partir do momento que assumimos a direção de um carro, o mundo parece se render aos nossos pés, nossa autonomia é finalmente consolidada. Aos olhos do outro, nos tornamos oficialmente adultos. Como que dono de um “atestado de maioridade”, assumimos um lugar no mundo adulto.

Sob esse ângulo, dirigir pode ser assustador. Recuei. Precisava repensar a estratégia de como iniciar filho adolescente na vida de adulto para assumir as rédeas de sua vida com confiança. Só precisava continuar aprendendo a encontrar o caminho… e rápido!

As rédeas da maioridade precisavam ser tomadas com firmeza.

Lembrando minha própria adolescência, revivi o sentimento de insegurança daquela experiência de aprender a dirigir. Lidar com tantas variáveis ao mesmo tempo também me assustava: pedestres, outros motoristas, comandos, atenção, carro, tudo junto e exigindo de mim uma habilidade que não sabia se conseguiria ter.

O risco de fazer uma besteira era tão real que a ideia de aprender a dirigir me apavorou um dia. Solidária, passei então a contar algumas das minhas gafes, um meio de mostrar que todo mundo passa pelo mesmo temor quando desafiado a fazer algo novo. De diferentes formas e intensidade, vivemos o medo de falhar… até que o medo passa.

Aprender a dirigir é um passo ruma à maioridade sob os olhos da lei e dos pais.

Contei-lhe das barbeiragens da vovó, da batida da tia, da minha dificuldade de trocar a marcha. Mostrei que a vulnerabilidade não é mérito de alguns, mas de todos. Não subestimei o desafio nem a responsabilidade (do aluno e do professor) de aprender a dirigir, mas exaltei a satisfação de tornar-se adulto aos olhos da lei.

Particularmente gosto da liberdade de ir e vir sem depender de ninguém para me levar, da autonomia de decidir para onde e quando ir, de planejar meu dia com independência. Desejei o mesmo para meu filho e precisava influencia-lo a ponto de faze-lo desejar isso também.

As rédeas de sua vida estavam ali, bem próximas, só faltava segurá-las com firmeza. Um tanto assustador mas tremendamente libertador. Só dependeria dele.

Inevitável:  A maioridade chegou.

Não imaginava que seria eu a instigar filho adolescente a aprender a dirigir, muito menos a convence-lo a querer. Adotar uma abordagem de troca de experiencia ajudou a quebrar seu medo de ingressar no mundo adulto e a dar seus primeiros passos de autonomia na prática.

Depois de muitas histórias, decidi tentar de novo. Depois de deixar seu amigo em casa, arrisquei novo convite:

–  Filho, topa dirigir o carro agora?

Visivelmente assustado, aceitou o desafio, desta vez já assumindo o lugar do motorista. “O que eu to fazendo?”, pensei comigo enquanto ajustava o banco.

Frio na barriga, boca seca… bateu aquele medo de fazer o novo. Agora era eu que sentia a insegurança de ver filho adolescente dar seus primeiros passos rumo à vida adulta sob os olhos da lei e dele mesmo. Se é pra assumir a maioridade, que o faça com segurança e sob meus olhos também. Até porque, querendo ou não, a maioridade de fato chegou.

 

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