Chamando filho à realidade
Inegavelmente, falta de consideração de filho adolescente é uma característica comum de ser notada nessa fase de desenvolvimento. Se achando o centro do mundo, filho mostrava desdém a regras básicas de convívio social e até de vínculo emocional. Suas necessidades e desejos pareciam ser infinitamente mais importantes e, facilmente, eram sobrepostos aos dos outros; inclusive aos meus.
Quando notei que sua atitude egoísta se tornara um hábito, me preocupei e, depois, sofri: sua falta de consideração havia ultrapassado o limiar aceitável. Seu baixo senso de coletividade se equivalia a baixo grau de empatia com o próximo, comigo.
Porém, a mágoa serviu de alerta para chamar filho à realidade. Em vez de sofrer, passei a agir: definitivamente não era essa a educação que queria dar a filho e me esforçaria mais pra mudar o curso dessa história. Quisesse ou não, aprenderia que o mundo gira pra todos, independente da falta de consideração de crer o contrário.
O mundo gira pra todos
Só para ilustrar: o cãozinho da família é mimado por filho adolescente. Entre carinhos e brincadeiras, aconchegos e beijos, acolhimento e cuidados ficava intrigada de ver tamanho apego ao bichano e tão pouco a mim, sua mãe, ora!
– Ah, mãããe… ele precisa de mim, né?! É meu bebê, meu amor… – justificava dengoso acariciando o pet.
Enquanto demonstrava falta de consideração comigo em situações rotineiras, caía de amores com o cachorrinho e atendendo suas necessidades prontamente. Ainda que pareça exagero ou até carência, explico. Por exemplo: imprevistos da escola.
– Mãe, a galera tá saindo mais cedo por causa da prova amanhã. Tenho que estudar. Então? Me busca agora? – falou pelo celular.
– Primeiro: prova amanhã não é motivo pra você perder aula; já conversamos sobre isso. Segundo: sabe que estou trabalhando e não posso sair agora. Terceiro.. – subitamente, me interrompeu.
– Saco, mãe! Tô precisando de nota, a prova é amanhã, tenho inglês hoje à noite… você não entende que vou me ferrar? Ou seja, o problema é o inglês! Vou me enrolar e não vou ter tempo de estudar pra amanhã! Preciso ganhar tempo e sair agora pra dar conta! Logo: veeeem! – esbravejou.
Diferente de outras vezes, não podia busca-lo mesmo. Ainda que pudesse, não o faria daquela vez. Cansada de sua falta de consideração e preocupada com o notório desrespeito aos meus compromissos, fiz diferente. Na verdade, enxerguei a situação como oportunidade.
Antes de tudo, o situaria de sua falta de consideração comigo. Sua atitude egoísta e inconsciente de sentir-se no direito de ser o centro de tudo não me convenceria de largar tudo para resolver seu imprevisto. Assim, não me desdobrei pra atende-lo. Ao contrário: lhe devolvi a responsabilidade de buscar opções e de considerar limites alheios. Decerto entenderia que o mundo gira… pra todos.
A falta de consideração pesa em todos
Comecei por, primeiro, lançar perguntas que o ajudassem a pensar em soluções. Em vez de me tornar a solução passando por cima de minhas prioridades e responsabilidades, aprenderia, antes de tudo, a buscar as próprias saídas respeitando meus limites.
– Em princípio, vejamos: independente se boas ou ruins, que opções você tem para resolver a questão? – lhe perguntei.
Logo depois, uma bufada impaciente soou. Fingindo não notar, corajosamente insisti:
– Por exemplo: estudar pra prova na biblioteca da escola; ou, voltar sozinho ou de carona; ou então, seguir a programação do dia normalmente; quando chegar em casa, se esforça ainda mais pra dar conta do estudo pra prova do dia seguinte. Que tal?
Dentre bufadas, imaginava seus olhos revirando. Ainda mais determinada, dei a cartada final: lhe entreguei, finalmente, a escolha. Calma e solidária para pensar junto com ele, me despedi. Finalmente entendeu que a conversa era séria; não permitiria mais que sua falta de consideração invadisse meu território.
A mudança começa em mim
Ao lhe devolver a responsabilidade de pensar sobre diferentes saídas para seus problemas cotidianos, filho sentiu as consequências de sua displicência com os estudos e sua falta de consideração comigo. Gostando ou não, percebeu que suas necessidades e desejos são prioridade no mundo dele, não no mundo real.
Decidida a educar filho com valores sólidos como respeito a limites e ao próximo, não permitiria mais ser manipulada como antes. Surpresa entendi que a falta de consideração de filho era, na verdade, reflexo de minha incompetência de educa-lo para o mundo em vez de para mim.
De fato, minha atitude servil e ilimitada nutria a falta de consideração de filho da qual tanto me ressentia. Da mesma forma, lhe passava a mensagem errada quando assumia suas responsabilidades tal qual quando criança. Se quisesse formar adulto emocional e socialmente saudável e contribuir para um mundo melhor, precisava mudar essa história. E, definitivamente, essa mudança começava em mim.
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Os frutos virão
Por mais comum que seja (e de fato é), falta de consideração de filho adolescente começa com atitudes permissivas de pais apressados em atender suas necessidades sem avaliar a situação criticamente. Nesse curso pouco educativo, fui alimentando atitudes egocêntricas de filho adolescente até perceber que, antes dele, eu é que precisava mudar minha atitude diante dele.
Assim, mudar minha prática servil permitiu mostrar a filho que, como ele, todos lidamos com imprevistos e buscamos soluções para nossos problemas cotidiano; que, sem uma saída aparente, buscamos o outro para ajudar respeitando limites; que o exercício entre autonomia e interdependência nos capacita a ter consideração pelo outro; a nos importar, de fato, com o próximo; inclusive eu, sua mãe, ora!
Enquanto o cãozinho totalmente dependente segue imune à falta de consideração de filho, permaneço atenta e decidida a dar exemplo de respeito a limites e colaboração mútua. Ainda que o exercício seja exaustivo, é igualmente enriquecedor pra todos. Afinal, meu compromisso é formar adulto autônomo e consciente de seu papel no mundo. Pra isso, me esforço certa de que colher os frutos desse esforço é uma questão de tempo; um dia, virão.
Leituras sugeridas: “Incentivando a autonomia de filho adolescente”, “Mãe dependente de filho adolescente: tenha uma vida!”, “O imediatismo da adolescência”
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