Tentando novos caminhos para tirar o filho adolescente da preguiça.
Quando o adolescente argumenta sobre o sedentarismo
Que o combate ao sedentarismo na adolescência é uma tarefa difícil para pais, já sabemos. Mas não é impossível. Tia de jovens avessos a atividades físicas, cheguei a pensar que contamos com uma geração preguiçosa. Para piorar, a era digital contribui enormemente para o sedentarismo: não só de jovens mas até de adultos, sejamos sinceros.
Mãe de adolescentes, vivo a fase do empurrar filho para exercícios físicos. Estou frequentemente perguntando, convidando, inventando, propondo atividades que penso ser interessantes ao adolescente. Pelo menos, era o que eu pensava. Descobri ser uma falácia a ideia de que adolescentes são aventureiros e inquietos. Os meus não são.
Pra completar, os recursos tecnológicos não me ajudam. “Pra que ir a um show ao vivo se posso assisti-lo sentado ao sofá tranquilamente e com mordomias? Pra que ir a um estádio cheio de riscos de violência e acidentes se posso assistir do meu ipad? Qual o fundamento de ir à praia lotada de banhistas lutando por um espaço ao sol e o potencial risco de um arrastão para me torrar sob um sol de 40 graus se posso ficar no ar condicionado relaxando?” Questões que ele me desafia a responder.
Os inúmeros argumentos de comodidade (ou comodismo?) proporcionados pela tecnologia e que filho adolescente me dá, chegam a me deixar sem resposta por um instante. Até que, acordada do breve entorpecimento, reconheço a cilada de entrar no jogo e acreditar que o sedentarismo na adolescência é um bem plausível e justificável.
Tudo complicou sem eu notar.
Já vivi momentos de muito estresse com filho adolescente sedentário. Aquela criança ágil, frenética, sedenta de brincadeiras de ação, mudou da água pro vinho quando entrou na adolescência. Não percebi a mudança gradual acontecer quando, do nada, quis deixar a natação e abandonou as saídas de skate e passeios de bike. Mas foi quando pediu pra sair do futebol é que a luz vermelha acendeu. Afinal, largar sua paixão (e melhor vitrine) era sério.
Assustada com o novo cenário de sedentarismo, vi o filho rodeado de um aparato tecnológico que sequer sabia existir. Meu filho, agora era um gamer e até isso precisei entender o que era. Passar longas horas no computador virou sua atividade diária. Afinal, se tornara um expoente jogador de videogames e precisava manter-se em alto nível de rendimento.
Ter se tornado um (exímio) gamer também trouxe preocupações. As poucas horas de sono, a falta de disposição física, a falta de vitamina D (chocante considerando a cidade que vivemos onde o sol brilha o ano todo), a desatenção, tudo me alarmou. O sedentarismo trouxe suas consequências.
Me angustiou saber que tudo aconteceu sem eu notar e que sua saúde estava em risco. Seja por descuido, ingenuidade ou preguiça, o fato é que me culpei. Pensei ter perdido meu filho adolescente para a tão famigerada tecnologia anunciada por pais, escola e mídia.
A hora de exercer a autoridade de mãe.
Um dos conselhos comuns na educação de filhos é que “pais precisam dar exemplo.” Longe de discordar. Acredito que dar exemplo é… um começo e reduz riscos. Mas por si só não basta. Sou adepta da alimentação equilibrada, da atividade física, da leitura, da socialização. Porém, sei que nem por isso, meus filhos são como eu.
Acredito na boa influência que exerço sobre eles, mas sei que outras variáveis tão ou mais significativas que essa vão compor a identidade do meu filho. Dentre elas a aptidão, o temperamento, a fase e, por que não, o interesse mesmo! Descobri que teria de lidar com as diferenças de uma forma mais equilibrada e saudável e, por um tempo, aceitei sua rotina tecnológica como um direito concedido.
Quando chegou ao abismo da saúde ameaçada, retrocedi. Tive que rever meus conceitos e atitudes. Tive que retomar as rédeas de sua vida para resgatá-lo do sedentarismo que o afundava em plena fase de desenvolvimento físico e emocional. Precisei trazê-lo de volta aos trilhos para garantir sua integridade física e psicológica. Precisei exercer minha autoridade de mãe.
O fim do sedentarismo dispensa comentários
Resgatar filho do sedentarismo na adolescência foi uma das missões mais difíceis e desafiadoras prá mim. Não à toa, foi a partir dessa experiência que esse blog começou. Tive que desconstruir verdades absolutas sobre adolescentes e adolescência, tive que aprender a dialogar com filho adolescente, tive que mudar minha estratégia para me aproximar e exercer minha influência sobre ele.
Aceito o fato de que a fase mudou seus interesses e que a tecnologia trouxe facilidades bem cômodas à atualidade, me restou tentar influenciá-lo. Sabemos o quão difícil é influenciar filho adolescente. Dar-lhe exemplo não bastou, atraí-lo com compensações não surtiu efeito, “florear” as atividades foi perda de tempo. Nada o tirava (por bem) da tecnologia que o cercava.
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Esgotados os recursos, não tive escolha senão apelar. E não me arrependo:
– Falei com o técnico da equipe: se você não fizer exercício físico, não permanecerá no time. Ele concordou.
– Que saco, mãe! Ridículo! Não acredito que falou com ele! – retrucou irritadíssimo.
O golpe foi duro para ele que se sentiu exposto e para mim que reconheci minha impotência sobre aquela mudança radical. Aos trancos e barrancos, ele passou a fazer exercício físico. A contragosto, concordou com os 2 dias/semana (me contentei: “já era um avanço fazê-lo se movimentar”, pensei). A diferença em seu sorriso bobo aliviado das tensões, seu corpo cansado mostrando resultado em músculos, sua disposição de socializar, seu sono revigorante e seu humor de volta dispensavam comentários.
O que não sabia…
Que filhos adolescentes cansam, já sabemos. Não contava, porém, que poderia aprender com eles. O exercício constante, cansativo pode ser tremendamente enriquecedor para aprimorar nossas habilidades humanas. É o que venho tentando fazer: transformar o limão em limonada.
Diante de tanto aprendizado descobri que controlá-lo era inútil e só aumentaria sua alergia a mim. Era preciso participar de sua formação buscando novos caminhos para acessá-lo. Ele continua resistente ao exercício físico e eu, continuo o empurrando para fazer. Um jogo exclusivamente nosso, até pitoresco.
É… a era é digital mas os recursos humanos é que continuam cumprindo papel educativo entre pais e filhos adolescentes. Até para sair do sedentarismo. Isso, eu não sabia.
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