perfeccionismo na adolescência

Perfeccionismo na adolescência

by Xila Damian

A busca pelo perfeito e suas consequências

Nunca pensei que depressão na adolescência pudesse existir até que a vi em casa.  Não falo daquelas motivadas por traumas e perdas mas pelo perfeccionismo. A busca incessante pelo perfeito é, na verdade, faca de dois gumes: de um lado é bom, de outro, péssimo.

A princípio, vivi o perfeccionismo como virtude. Admirava os que se esgueiravam em atingir a perfeição como se a régua do fazer “o seu melhor” não bastasse. Para ser bom, precisava ser, antes de tudo, perfeito.

Transmiti a filho essa ideia.  Como resultado, se tornou exageradamente (auto)crítico. Sua cobrança exacerbada e irreal em busca do perfeito, viveu a depressão na adolescência. A pressão de ser “cem por cento” lhe pesou sobremaneira. O mesmo comigo.

O desejo de aprovação e reconhecimento não vale a depressão

Ainda que não fosse uma “CDF” na escola, perseguia boas notas. Não só pra passar de ano mas pra ter a satisfação de tirar boa nota de ser, mesmo que brevemente, referência na turma e ganhar finalmente a atenção do professor. Lembrando disso hoje reconheço: precisava de aprovação.

Foi assim, carente de reconhecimento, que a busca pela perfeição virou obsessão.  Em casa ou no trabalho, a meta era superar expectativas.  Quando me tornei mãe, não foi diferente: me desdobrei pra dar conta sem mudar a régua de excelência. Cá entre nós, até me orgulhava disso.

Meu filho cresceu nesse ambiente e, naturalmente, assumiu a mesma régua. Extremamente autocrítico e detalhista, não se permitia errar.  Falhas, esquecimentos, notas baixas, tudo o frustrava de tal forma que se punia por isso.  Às vezes, envergonhado, simplesmente se escondia e desistia de tentar de novo.  Aos poucos, tornou-se impaciente consigo mesmo.

Naquele dia, chegou em casa com o boletim em mãos. Jogou sobre a mesa o resultado mediano alcançado naquele 1o. semestre e, desanimado, exclamou:

– Não vou passar de ano… sou um burro. Não consigo fazer nada direito.

Assustada com a auto-depreciação, olhei o boletim:

– Mas… você está acima da média! Tempos atrás, estava lutando pra alcançar a média e, agora, está acima dela…

– Mãe, você não entende! Todo mundo tirou mais que eu! Que saco! – retrucou.

Trancou-se no quarto. A partir dali, pensei ter perdido meu filho para a tecnologia:  abandonou esportes que curtia, deixou de sair com amigos, não falava com a família, se isolou em seu mundo pra viver a depressão na adolescência.

Quando a busca pela perfeição se tornou motivo de dor

Conhecer seus limites, a princípio, pode ser frustrante mas depois deve servir de estímulo à superação.  Assistir filho se depreciar por não estar “à altura” dos amigos, me lembrou a experiência adolescente de buscar incessantemente a perfeição.  Então aflita com a historia que se repetia com filho, quis mudar sua historia: a régua do perfeccionismo não valia a dor que causava.

Tomado por exigências perfeccionistas, filho se frustrava a cada meta desafiadora. Quando errava, se enxergava fracassado, se frustrava e, então, perdia a confiança em si mesmo. Em vez de usar os erros como estímulo para a superação, desistia de tentar novamente e se enclausurava.

Por mais que o encorajasse a sair, buscar amigos ou conversar, continuava naquele estágio de depressão.  Assim a tecnologia foi ocupando espaço de oásis em meio ao deserto. Tomada de culpa, primeiro pela visão distorcida da perfeição depois, de angustia pela impotência diante da situação, reavaliei minha crença sobre a virtude de ser perfeccionista: o que um dia foi orgulho, logo virou dor.

5 verdades de como perfeccionismo pode ser permissivo na criação de filho adolescente

Ao contrário do que pensava, perfeccionismo pode trazer profundos danos psicológicos a quem fracassa na busca pela perfeição.  Foi neste ambiente de altas expectativas que, finalmente, notei a permissividade do perfeccionismo na formação de filho adolescente. Enquanto pensava estar contribuindo para elevar o nível de entregas, me tornava cobradora de resultados.

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Nesta reavaliação de conceitos e crenças, descobri 5 verdades de como o perfeccionismo pode ser permissivo na formação de filho adolescente:

1-  Ser vulnerável a erros não pode ser motivo de vergonha.  Pelo contrário: é naturalmente humano e precisa contribuir com aprimoramentos em vez de condenações.

2- Tentar ser super-herói nos força a ser quem não somos e, por isso, nos frustra.

3- Ninguém é perfeito.  Nem pais e mães.

4- A obsessiva busca da perfeição promove insatisfação consigo mesmo.

5- O perfeccionismo pode levar à depressão na adolescência.  

Ajudar filho adolescente a aceitar suas fragilidades e transforma-las em superação me ensinou também a aceitar o melhor que o outro pode dar em vez de desejar a perfeição.

Superação é usar a imperfeição como oportunidade de transformar

Abdicar da busca pela perfeição foi exercício difícil mas que trouxe frutos compensadores. Aceitar minhas limitações me humanizou e me tornou acessível a filho adolescente. Cheio de virtudes e também defeitos, passei a enxergá-lo como é; aliás, como já era.

Ao (re)conhecer suas qualidades e habilidades, desvendei sua essência e contribuí com a formação de sua própria identidade; o fortaleci emocionalmente para aceitar suas proprias imperfeições e, ainda assim, usa-las em beneficio próprio.  Acolhendo suas dores, o ajudei a descobrir o caminho da superação em vez da depressão.

Decerto que já não busco mais a perfeição mas o melhor em mim e no outro.  Aprendi que na imperfeição reside a oportunidade de transformar e ser, de fato, melhor a cada dia.  Ser mãe de adolescente é mesmo exercício de aperfeiçoamento mútuo e contínuo. Nessa dinâmica, portanto, não espere perfeição; apenas o melhor que puder entregar hoje.

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