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Divórcio na adolescência: filho não é juiz!

by Xila Damian

 A tarefa é de adulto… e só dos pais

Viver o divórcio é inevitavelmente sentir dor. Sem escapatória, pais e filhos sofrem nesse processo. Ainda que vivendo momento de extrema dor emocional, pais ainda tem que lidar com questões práticas desgastantes como, por exemplo, a reorganização financeira e familiar.

Infelizmente, dragar filho para as discussões desse rearranjo é comum. Ainda que tentem (ou neguem), pais tendem a envolver filho nas discussões e, (in)conscientemente, a torná-lo juiz de seus embates. Por diferentes razões, os papéis se misturam e o que era ruim fica pior.

Diante de tamanha vulnerabilidade, assegurar a estrutura do filho durante o processo de divórcio é vital. Mantê-lo com um mínimo de previsibilidade e segurança é a base de qualquer início de divórcio. Por isso, não caia na cilada de envolver filho nas discussões práticas do rearranjo financeiro e familiar: isso é tarefa de adulto e restrito aos pais. 

Sequelas de ser juiz no divórcio dos pais

Divórcio, invevitavelmente, impõe mudanças práticas à família e requer cuidado dos pais pra não envolver filho nas discussões exclusivamente adultas. Contudo, estabelecer a nova dinâmica é exercício conturbado que, por vezes, demanda um mediador.

Nesse terreno minado, infelizmente, pais atordoados e igualmente vulneráveis, acabam por envolver filho nas discussões de adulto.  Mesmo sem querer, causam estragos emocionais ainda maiores ao filho que, incompetente na função, se sente ainda mais inseguro e desamparado.

Vivi o divórcio dos meus pais e a experiência foi péssima. Não só pelo natural luto que vivemos mas pelo agravante de ter sido tragada pelas discussões de rearranjo financeiro e familiar. Dividida, me sentia forçada a julgar decisões e atitudes. Ainda que contra a vontade, tomava partido de um em detrimento ao outro. Por um tempo, fui juíza de um caso que não era meu e, gradualmente, fui me tornando mais triste e insegura que o esperado naquela fase de vida.

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Lutando à deriva e sozinho

Recentemente, uma amiga me relatou situação similar com filho adolescente. Em busca de um mínimo de organização em sua estrutura, filho se queixou de sua falta de decisão. Pra isso, reproduziu as palavras do pai como argumento:

– Mãe, meu pai disse que não pode pagar o futebol… que já te dá dinheiro suficiente pra pagar a escolinha e que, por isso, você é que vai decidir…  Saco, mãe!  Vou poder fazer ou não?

Como que me vendo naquele filho, reconheci sua angústia e insegurança. Tal como eu, recebeu o o papel injusto e pesado de mediador das discussões práticas do divórcio dos pais. Ao contrário do que se espera nesse processo, estava à deriva, tendo que lutar por um mínimo de segurança e previsibilidade sozinho e dividido no papel de juiz.

Poupando filho do papel de juiz

Tentei interromper a amiga pra alertá-la sobre aquela conhecida cilada mas ela me conteve pedindo pra concluir a “cena” e, aí sim, discutir a situação.

Mexida por reviver aquela vulnerabilidade, tive ímpeto de atropelar sua narrativa adivinhando o desfecho daquele diálogo. Porém, fui surpreendida com sua atitude quando disse ter optado por preservar filho do papel de juiz daquela situação. Curiosa, quis saber:

– Como? – perguntei.

Fazendo diferente do pai… em vez de devolver com a mesmo moeda e manter filho refém de um assunto que não é dele, lhe respondi:  “ Fique tranquilo, filho; seu pai e eu vamos resolver o que fazer. Sinto muito se ainda é um problema, mas farei o possível pra chegarmos a uma solução, ok?”

Por um instante, desejei que meus pais tivessem tido igual consciência e cuidado comigo; certamente teriam me poupado do papel injusto de juiza e das sequelas desnecessárias.

O dever é dos pais

Ainda que dIvórcio seja processo emocionalmente doloroso, continua sendo dos pais o dever de lidar com as questões práticas do rearranjo financeiro e familiar. Mais que importantes, elas são necessárias pra assegurar um mínimo de estabilidade estrutural ao filho nesse momento de total vulnerabilidade.

Se a tarefa é árdua, mais ainda é o esforço que pais devem fazer pra preservar filho do injusto e pesado papel de juiz.  Afinal, filho não é juiz! Esse dever, querendo ou não, é só dos pais.

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