Como educar na adolescência sem precisar ser fonte inesgotável de respostas e soluções.
Não sei quando exatamente passei a ter opinião pra tudo, mas certamente a maternidade tem grande influência nisso. Por muitos anos, trabalhei em empresas e, nelas, muito se falava em “melhores práticas” como exemplos de processos que deram certo e que, por isso, deveriam ser compartilhados para futuros projetos. Creio que essa idéia surgiu de uma mãe que, experiente e cheia de opinião sobre a desenvolvimento de seu maior projeto (seu filho), tentou transformar a vivência da maternidade em processo.
Sem dúvida, um projeto como o de educar na adolescência traz muitas oportunidades de boas práticas dignas de serem compartilhadas; porém, ser mãe de adolescente está longe de ser um processo com passo-a-passo e resultados previsíveis; é um exercício contínuo de descobertas por meio de tentativa e erro, um aprimoramento constante do ser humano.
Desafios de educar na adolescência
Na adolescência, todo o esforço materno de prevenir/antever problemas vem acompanhado de uma ansiedade em proteger o filho das adversidades do mundo e, a reboque, o privamos de viver, experimentar e aprender.
Lembro que, nas várias tentativas de proteger meu adolescente, ordenei (sob o disfarce de conselho) o que na minha opinião devia ser feito: “faça desse jeito em vez daquele!” ou “é preferível este em vez daquele” ou ainda “eu não faria isso, mas aquilo”; e, claro, sempre seguido de
“mas você é que sabe…”
Na tentativa de camuflar minha prepotência de mãe-super-herói cheia de boas práticas a compartilhar, assumia a liderança da situação para solucionar todos os problemas; Se pudesse preveni-los, melhor ainda… Afinal, sob a capa da experiência de vida, já conhecia tudo e sabia os caminhos certos a tomar. Por um bom tempo, me senti invencível. E não me diga que nunca apelou para este argumento para justificar as “sugestões” dadas ao seu filho! Mães fazem isso!
Sim, caí na cilada de acreditar que minhas verdades e minha visão de mundo regiam (ou deviam reger) a vida de toda a família, mas não percebi que meu filho, hoje adolescente, com seu pequeno acúmulo de experiência também vem construindo sua própria visão de mundo; não mais com meus olhos e minhas verdades, mas com os seus próprios!
Me surpreendo ouvir dele opiniões e leituras de situações por vezes até mais simples e objetivas (adolescentes são práticos!) que muito me auxiliam a me enxergar em minha condição humana, não mais de super-herói. Noto, finalmente, que a fase de super-herói passou. Meu adolescente já não acredita mais nisso há tempo (e sem traumas, acredite). Seus interesses mudaram e, mais importante que saber tudo, é manter-me conectada a ele.
Sim, manter-me conectada ao meu adolescente me permite descobrir novas possibilidades, novos caminhos. O mundo está cheio deles! Tento, assim, me desapegar (com lapsos de saudade e escorregadelas, confesso) da capa de mãe-super-herói ao receber reprimendas que, até então, só eu fazia a ele:
– Te disse, mãe! Você não me ouve! Saco! (Ô palavrinha chata!)
Ou, ainda:
– Sabia que isso ia acontecer, mãe! Que saco!
Notei que posso errar, fazer más escolhas também! Não preciso ser perfeita! Não preciso saber tudo! Não preciso ter todas as respostas! Não preciso ter opinião sobre tudo. Resgato, desta forma, minha condição humana de poder caminhar junto dele nesta jornada que é a adolescência.
Descobri que ele, sem saber, me libertou daquela capa pesada da perfeição e estou aproveitando cada situação vivida com ele para evoluir como ser humano real que sou: sem capa, sem super-poderes para educar na adolescência. Apenas dividindo experiências que possam contribuir com a sua visão de mundo, facilitar suas escolhas que, com sorte, podem minimizar erros; reafirmando o pacto de amor e apoio incondicionais; respeitando a identidade do ser único e imperfeito que é.
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Sim, meu adolescente também me consola!
Me sugere saídas, me dá opinião. Receber de sua pouca experiência a leveza de simplesmente ser, com minhas fraquezas e dúvidas, me faz crer que o exercício vale a pena e contribui para o meu amadurecimento como mãe, como ser humano.
Hoje, não tenho a pretensão de ser a fonte inesgotável de respostas e soluções de outrora para educar na adolescência. Minha fase de mãe-super-herói também passou e isso me traz um certo alívio.
Como “melhores práticas” desta jornada compartilho, portanto, a idéia de permitir-se experimentar e descobrir não se importando com os erros, mas em estabelecer conexão… e isso, só seres humanos são capazes de fazer.
2 Comments
Tenho me divertido com seu blog ! Parabéns Xila ! Beijo carinhoso .
Que bom! O blog sofrerá mudanças e, em breve, poderemos trocar e discutir temas. Vai ser otimo contar com sua experiencia! Ate la, espero que curta cada vez mais. Sinta-se à vontade para comentar, ok?! Gde bjo😘