O hábito perdido
E a porta bate antes mesmo de alcança-lo para um beijo real de despedida de filho adolescente.
– Mãe, tô indo…beeeijo!
Ele ia embora… tudo bem, seguia mais um dia para a escola como de costume. Mas mães gostam de se despedir de filho. Eu gosto! Na verdade, amo beijar, olhar no olho, abraçar, tocar de verdade. Este contato físico que, infelizmente, filho adolescente passa a rechaçar veementemente na nova fase.
Ainda lembro quando isso não era problema. Pelo contrário: era prática inversa em que filho me buscava para um sorriso, um agrado, um abraço sem motivo. Nem precisava ser de despedida; bastava o carinho e tudo se resumia a afago gratuito. Na maioria das vezes, simples surpresa afetuosa.
Atenta à drástica e repentina mudança, optei por uma nova tática: antecipar-me para a despedida de filho adolescente aguardando-o à porta quando prestes a sair. Assim, como guarda fiel me prontificava a resgatar hábito carinhoso – e longínquo – que na adolescência mudou… até desaparecer.
Nova despedida de filho adolescente
Assim, à hora prevista, via filho pegar a mochila e lá estava eu a postos à sua espera ao lado da porta. Entretido com o celular seguia em modo automático para a nova e convencionada despedida de filho agora adolescente:
– Mããããe, tô indo! Beee…
Interrompido pela minha inesperada presença ao pé da porta, emendou surpreso:
– Ah, taí? Então… beijo, mãe.
Saindo em seguida, displicentemente, o puxei pela blusa. Em vez de simples resposta de longe me esgueirei a fim de alcançar-lhe a bochecha para um beijo estalado.
– Agora sim: beeeijo, filho!
Irritado – e como se irrita fácil! – me censurou:
– Pô, mãe! Vê se marcou?
Sem entender a pergunta, retruquei:
– Como assim? Marcou? O quê?
Ainda mais irritado, retrucou enquanto esfregava local beijado:
– O batom, mãe!!! Que saco!” – e finalmente partiu… de novo bufando e resmungando.
Mudando a dinâmica com filho adolescente
Outro dia. Mais outro. Dia seguinte. E a tática diária e incessante foi sendo aprimorada à medida em que se tornava hábito ajustado às novas circunstâncias.
– Tô indo, mãããe.. ah! Taí de novo?
Surpreendentemente naquele dia filho vinha sem o celular à mão. Não celebrei a mudança tampouco quis deduzir o motivo dela. Em vez disso, aproveitei a nova dinâmica que se configurava me eximindo de puxa-lo pela camisa distraído.
De mãos livres e diante de mim, filho então baixava a cabeça para um beijo. Também ajustada às novas condições, deixei o batom para depois da despedida de filho adolescente. Atenta às brechas capazes de me apresentar novas possibilidades de dinâmica com filho adolescente, foquei no que me importava: retomar o hábito do beijo de despedida de filho adolescente.
Blindei-me das tentativas de escapatória; simplesmente resisti à tentação de me vitimizar com a displicente despedida de filho adolescente. Testando novas saídas, descobri como atingir a meta com a mesma displicente leveza de filho. Assim tocando sua cabeça delicadamente de um lado e de outro, não recuei.
Em vez disso, fiz ressoar estampido do beijo reservado para aquele tradicional momento do dia. Surpreendido pela atitude, me olhou com ar de reprovação dizendo:
– Saco, mãe…
E antes que completasse a frase-mantra habitualmente proferida, exclamei como que imune à aparente reprimenda:
– Que cabelo cheiroooso, filho!
Subitamente voltou os olhos mais uma vez para mim e, contendo o riso inoportuno, partiu batendo a porta antes que a descontração revelasse a graça da situação. Do outro lado, contudo, outra frase :
– Minha mãe é um sacoooo! – gritou do outro lado em franca mudança de humor.
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A despedida de filho adolescente só muda
Depois de muitas tentativas e ajustes, restituí a saudosa dinâmica de despedida de filho adolescente. Ajustadas as arestas, instituímos novo ritual. O hábito carinhoso e longínquo de outrora mudara mas, de outra forma, voltou a fazer parte de nosso cotidiano.
Diferente de antes, sem olho no olho e toques excessivos, somos cúmplices de uma situação que só nós entendemos e vivemos. Hoje invariavelmente beijo mais cabelo do que bochecha e rimos por isso. O hábito, adequado à nova fase, se reconfigurou e trouxe resultado: voltou e, de novo, figura em nossa dinâmica familiar.
– Beeeijo, filho!
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