Pais e lição
Lição e pais: combinação comum e aparentemente perfeita. Talvez porque filhos crescem acreditando que pais sabem tudo e, com o tempo, vice-versa. Não por acaso: durante os anos iniciais de filho, parecemos mesmo ter resposta para tudo… mesmo quando sabemos nada.
Chega a adolescência e, junto, a frequência das perguntas diminui e o que antes eram respostas, ganham outro tom: de “orientação”; às vezes, sem dono. Efeito cascata, surgem, de repente, a virada de olho, a bufada, expressões típicas – e nada sutis – de filho adolescente irritado com o que nomeia ser “lição” de mãe.
Pais e respostas difíceis
Questões mais complexas emergiam a cada dia:
– Mãe, por que o governo tá uma bagunça?
– O que é globalização?
Como de esperar, as respostas perderam a simplicidade e objetividade de outrora e as quais filho gostava e entendia. Agora o nível era outro: demandava contextualização, lógica… e avaliação crítica o que definitivamente exigia muito do meu adolescente em fase de amadurecimento.
O que esperava ser apenas uma resposta descambava para uma palestra sobre o tema. Resultado disso: filho enfadado que, entre baforadas e resmungos, me repreendia impaciente com a falta de objetividade:
– Mãe, só te fiz uma pergunta! Dá pra responder?
A lição mudou
Fã de uma boa história, gosto de contextos. Portanto, objetividade nem sempre ser minha maior habilidade mas precisei aprender. Do contrário, perderia a chance de aprimorar a conexão com meu adolescente que ainda me buscava para sanar dúvidas.
Tornar o complexo simples foi lição difícil para mim. Perguntas curiosas – senão esdrúxulas ao pensamento comum me colocavam em saia justa com filho adolescente.
– Mãe, sabe por que malhadores encurtam os braços?
Sem saber responder – parte porque sequer entendi a pergunta – fingi curiosidade sobre o tema respondendo com outra pergunta a inusitada questão.
– Por quê???
– Porque usam muito peso e o músculo incha e, consequentemente, encurta. – explicou curto, direto e satisfeito de ter-me dado a lição do dia de como “só responder” uma pergunta.
Por uma digressão, naquele dia entendi sua nota baixa em história. De fato, frases curtas, objetivas evidenciavam a simplicidade de uma resposta incompleta ainda que aparentemente óbvia. A explicação me surpreendeu e, por isso, quis me aprofundar. E isso, definitivamente, não estava no plano dele.
– O que isso tem a ver com encurtar o braço? Não entendi.
Adotando mais uma vez a conhecida virada de olhos, retrucou impaciente:
– Aaaii, mãe! Tem sempre uma lição pra dar! Que saco!
Lição de mãe de adolescente
Adolescente não quer lição. Nem sempre – ou quase nunca? – deseja respostas que o force a pensar mais atentamente sobre temas, a princípio, apenas curiosos. Às vezes, suas perguntas são meio – não fim – de se mostrar capaz de também elucidar conhecimento… ainda que incompletos ou imperfeitos.
Filho cresceu e perguntar virou coisa do passado. Adolescente exercita respostas mesmo quando não as tem. Atenta à esta descoberta, passei então a dar ao meu a chance de participar da dinâmica de apresentar o mundo sem lição. De modo simples – à beira do surreal – hoje escuto descomprometido conhecimento de filho sobre temas que de nada ferem minhas “orientações”.
Pelo contrário: me ensinam que não preciso viver de lição tampouco de rusgas inúteis com filho adolescente mas conectada aproveitando cada interação como oportunidade única de troca imprescindível ao aprimoramento… de ambos.
Lição que, como mãe de adolescente, aprendi (con)vivendo de forma diferente do habitual.
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