superficialidade

Superficialidade, tragédias, educação, cidadania: forme sua frase

by Xila Damian

A superficialidade ignorante

Em meio às sucessivas e recentes tragédias ocorridas, tais como as de Brumadinho, da chuvarada do Rio, dos adolescentes no CT do Flamengo e, por que não, repentina morte do jornalista Boechat, impossível seguir adiante sem refletir sobre os fatos com a profundidade e a gravidade exigidas. Quer dizer, que eu penso serem exigidas.

Digo isso depois de, lamentavelmente, notar o desprezo de blogueiros, ditos “profissionais” e “educadores”, às estarrecedoras ocorrências que atingiram em cheio a sociedade brasileira. Encastelados em seu míope mundo virtual, mantiveram suas rotineiras publicações superficiais alheios à dolorosa realidade e auto-centrados no próprio umbigo.

Enquanto o país inteiro sofria a dor do outro e buscava traduzir as mensagens deixadas pelas tragédias ocasionadas pela irresponsabilidade humana, “educadores” exibiam alienação. Envaidecidos com auto imagens em fotos e vídeos, mantinham-se à parte dos acontecimentos.

Em vez de fazer jus à virtual “autoridade” outorgada, permaneceram espectadores superficiais de um mundo que clama profundidade. Lembro amargamente, então, de pesada frase comumente repetida por muitos em palestras, vídeos e mídias sociais: “Geração de adolescentes doentes.” Serão mesmo os jovens os doentes?

A superficialidade profissional

Não preciso dizer que foi o bastante para simplesmente abandona-los. E… sinceramente: tô nem aí se não faço falta pra eles. Eles não me fazem falta. Além de não agregar, atrapalham. Sua visibilidade, pelo contrário, retroalimenta a ignorância e os alça a “autoridades” na superficialidade que deseduca.

Em tempos de individualismo exacerbado, é neles que enxergo a tão falada “geração doente”. Diferente do que muitos “profissionais” dizem por aí, não são os adolescentes os ególatras: são os adultos, teoricamente maduros e supostamente conscientes que, narcisisticamente paralisados em frente ao espelho, se auto-contemplam desavergonhadamente.

Exatamente contra esse tipo de “profissional” iniciei o blog Minha Mãe É Um Saco!:  pra combater discursos superficiais sobre a adolescência; pra discutir a realidade nua e crua sem sentimentalismos mas com sentimentos reais, ainda que nem sempre louváveis; pra instigar pais ao raciocínio e opinião próprios; pra crescer como mãe de adolescente sem descuidar do meu dever de cidadã. Enfim, a contribuir individualmente (não individualista!) com aprendizados a partir de minhas e de tantas outras “tragédias” pessoais.  A ser melhor.

A superficialidade incapacita

Nunca tive a pretensão de ser simpática muito menos romântica sobre o tema porque sei do que falo. Saco! Eu vivi o que compartilho; discuto situações reais pra desmistificar o longo e prejudicial discurso superficial sobre adolescentes; contribuo com outros “sofredores” desejosos de mudanças factíveis.

Pra isso, provoco reflexões sobre os diversos temas relacionados ao mundo adolescente sem ignorar os do cotidiano. Antes de tudo, sou cidadã. Como tal, tragédias me impactam e me instigam a reflexões mais profundas que a superficialidade fútil. Infelizmente, o mesmo não acontece a todos.

Ainda que não seja o caso daqueles, manter-se sob holofotes vaidosos em momentos críticos como os últimos é, no mínimo, aviltante.  Enquanto seguidores os elegem autoridades no tema adolescência perpetuam a pior das ameaças à verdadeira cidadania: a cegueira ignorante dos rasos.  Espectadores, ignoram as “mensagens” exatamente quando o país mais precisa de cidadãos conscientes pra mudar.

A superficialidade emburrece

A habitual superficialidade atrapalha o desenvolvimento de senso crítico! Romantizar parentalidade e relacionamento com filho adolescente também! Atrapalha país que não aprende com os erros, pais carentes de efetiva ajuda e que, como eu, temem o presente-futuro de filho em uma nação egoísta e autocentrada. A vaidade e o individualismo, juntos, deseducam.

Ao massagear o próprio ego exibindo realizações pessoais como tema relevante em momento de dor alheia exibe ainda mais a falta de bom senso que reina no país. Ao lançar clichês bucólicos autocentrados em suas crias desrespeitam a dor de muitos que as perderam tragicamente por conta de nossa rasa consciência cidadã.

Enquanto as tragédias mandam mensagens para a mudança e o mundo grita por ações que efetivamente contribuam para melhorar a vida senão de todos, da maioria, tais “profissionais educadores”  prestam o desserviço de  emburrecer sua larga audiência já tão pouco educada.

“Deu ruim”

O país precisa de indivíduos conscientes e educados para o bem comum. Somos nós os responsáveis por esse mundo superficial. Não, não culpe Deus pelas tragédias: tudo é fruto de nossas decisões e atitudes. Enquanto nos eximirmos de encarar os fatos e nos abstermos das discussões da vida real como ela é, permaneceremos engrossando a lista de sucessivas tragédias em vez de problemas comuns a uma nação dita “normal”.

Mudar exige coragem pra tocar na ferida, pra discutir abertamente problemas, pra encarar o fundo do poço e, acima de tudo, aprender a fazer diferente porque o método atual “deu ruim”. Cidadania demanda educação, formal e informal, pela diversidade e troca de experiências, pela argumentação, ponderação e profundidade porque, o que sabemos hoje, infelizmente, não está dando certo.

Precisamos viver uma nova realidade. Pra isso, precisamos tirar lições das tragédias que nos atingem. A todos! Precisamos aprender com conteúdo que agregue conhecimento e promova desenvolvimento que nos capacite como cidadãos porque como somos hoje, infelizmente, não está bastando. Tá ruim… demais!

A superficialidade envergonha

Em vez disso, cunhamos o egocêntrico e o seguimos cegamente; elevamos a vaidade alheia a inesgotáveis medidas de individualismo; transformamos a sociedade em nichos narcisistas de autopromoção que nada contribuem com uma sociedade melhor. Pelo contrário: a torna ainda mais doente.

Ativos “reclamadores” de direitos, propositadamente ignoram seus deveres; se eximem da árdua tarefa de crescer na adversidade como a das tragédias, por exemplo. Usurpam o holofote do que realmente importa e, colocando-o sobre si, assumem a versão infantil e rasa que nem adolescentes são capazes de assumir. Pra completar, a audiência aplaude.

Enquanto temas essenciais e quase sempre difíceis, como tragédias e adolescência, forem tratados com a essa superficialidade continuaremos espectadores individualistas de uma sociedade doente, caótica, formada por adultos manipuláveis, moralmente frágeis e vergonhosamente passivos.

Ação e mudança

Diferente do que muitos pensam, “não viemos a passeio” mas pra aprender e contribuir com a sociedade da qual participamos e regemos. Gostando ou não, é nosso dever nos indignar com a parcimônia, irresponsabilidade e preguiça do outro de se manter na superfície de questões críticas como as atuais.

Precisamos cumprir com nosso papel individual de educar filho (e seguidores!) com a profundidade que tragédias como as vividas exigem. Em vez disso, muitos optam pela popularidade individualista, sucumbem ao populismo e arrastam consigo legiões de cegos deseducados. O populismo já provou sua permissividade há muito tempo; os clichês sobre adolescência, maternidade e cidadania idem!

Precisamos mudar urgentemente atitudes, comportamentos, ideias e opiniões; enxergar e, principalmente, agir diferente. Agir com ética, responsabilidade, respeito, trabalho, seriedade e bom senso. Ser efetivamente compassivos com a totalidade que sofre, comprometidos com a responsabilidade de educar, inclusive como influenciadores digitais.

A verdade nua e crua

Não sei você mas desejo país melhor que o de hoje. Pra isso, educar é fundamental, o  primeiro passo pra formar indivíduos pensantes e conscientes de seu papel na sociedade. Não podemos ser espectadores. Pelo contrário: precisamos ser agentes de mudança.

Podemos ser e fazer melhor! Sei porque consegui fazer melhor quando me indignei com a superficialidade e me aprofundei pra aprender em meio ao caos de tragédias pessoais. Enquanto a vida nos oferece oportunidades diárias de reflexão, as tragédias nos impõem mensagens claras pra agir, mudar e transformar, inclusive uma nação.

Diante de tantas, o mínimo que podemos (e devemos!) fazer, portanto,  é nos aprofundarmos para contribuirmos com uma sociedade consciente. A verdade nua e crua é que precisamos ser melhores. Como disse, não estou aqui para ser simpática mas pra te instigar a enxergar diferente e ser melhor.  É profundidade demais?

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