Lidando com procrastinação na adolescência
Procrastinar significa adiar, postergar, deixar para depois. Isso me lembra muito as frases corriqueiras de filho adolescente:
– Mãe, daqui a pouco eu faço!
A procrastinação na adolescência parece uma doença. Como viroses comumente diagnosticadas na infância, por um tempo lidei com a procrastinação na adolescência como que com uma das mais persistentes: com muita, muita paciência esperando que simplesmente passasse.
No entanto, a prática mostrou meu erro. A cilada do “depois eu faço” não é uma virose, é uma realidade adolescente. Para combatê-la, precisava ser determinada. Primeiro, focando no objetivo certo que é fazer o filho cumprir com sua tarefa. Segundo, entendendo que a genética é um complicador desta dinâmica e, ainda assim, passível de ser configurada de outra forma.
Que mãe nunca?
Perdi a conta das vezes que discuti com filho pelo banho não tomado, o lixo não trocado, o passeio com cachorro perdido, a arrumação da cama pendente. Como se não bastassem as constantes cobranças de tarefas não cumpridas, eu mesma acabava por fazê-las. Não sem, antes, discutir muito.
Assim era a dinâmica: pedido, respostas procrastinadoras, reclamação, discussão, conflito… eu fazendo. Dia seguinte, tudo de novo. Irritada e antevendo a cena como um “deja vu“, caía na mesma cilada das discussões fora de foco e da tarefa, mais uma vez, pendente. Como resultado, humores alterados, discussões sem nexo, cansaço, sentimento de impotência e injustiça e tarefa sobrando… pra mim.
– Saco, mãe! Já disse que daqui a pouco eu vou! – respondia ele.
Com o intuito aparente de adiar, filho na verdade se livrava da tarefa. Enquanto adiava o máximo que conseguia, me vencia pelo cansaço. Admito: desconhecia a estratégia certa para demovê-lo daquele quadro crítico de procrastinação na adolescência. Por certo erro meu mas… quem nunca?
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O mundo “explode” mas não por causa dele
Naturalmente procrastinamos tarefas indesejadas. Acontece com todo mundo e, até certo ponto, é normal. Porém, a procrastinação na adolescência parece superar a tolerância dos pais: afinal, quem nunca sofreu ao fazer filho adolescente cumprir tarefas indesejadas?
A procrastinação na adolescência é uma habilidade quase insuperável. Ainda que não seja habilidade exclusiva de adolescentes, parece ser superior nesta fase da vida. Constatar o fato na prática, me causou muitos surtos de impaciência e desequilíbrio emocional.
Enquanto o mundo gira e cumprimos nossos deveres diários, filho adolescente espera a “vontade bater” para fazer o mesmo. Desnecessário dizer que a tal “vontade” nunca chega. Assim, quando o mundo explode, ele se espanta e, apesar de intacto e até se sentindo “injustiçado”, retruca.
– Que exagero, mãe! Já tava indo!
Combatendo a procrastinação
Especialistas defendem que procrastinação na adolescência, além de ser diferenciadamente superior a dos adultos, é também diferente entre meninas e meninos. Ainda que hábeis procrastinadores na adolescência, elas cumprem a obrigação um dado momento para se livrarem da cobrança; eles, ao contrário, empurram com a barriga o quanto possível na expectativa de vencer os pais no duelo. Por certo, uma questão quase genética.
Diante desta curiosa tese e sendo mãe de meninos, pensei comigo:
– Tô ferrada!
Certo dia, como habitualmente fazia, lhe cobrei o passeio com o cachorro ao que respondeu como de costume:
– Daqui a pouco eu vou, mãe.
Naquela ocasião, a tese da genética, de alguma forma, até aliviou minha ansiedade mas não serviu de justificativa para lidar com a procrastinação na adolescência de filho. Precisei, então, usar aquele conhecimento para mudar a estratégia e, consequentemente, o resultado daquela dinâmica improdutiva.
Assim, passei a me manter firme na realização da tarefa sem dar margem a discussões inúteis que me desviavam do objetivo de vê-la cumprida. Em vez de cair na cilada das discussões pouco – na maioria das vezes, nada – objetivas, permaneci na frente do filho até que saísse da inércia:
– Tô esperando…
– Ai, mãe, já disse… tô indo! Não precisa ficar aí parada me olhando! Já vou!
– Ok, tô esperando… Preciso que vá agora.
– Tá bom, tá bom!! Não pode esperar! Tudo tem que ser na sua hora! Que saco! – e saiu com o cachorro.
Cada um fazendo sua parte
Superar a procrastinação na adolescência do filho continua sendo um exercício cansativo para mim e, sem dúvida, para muitos pais. Se por um lado mudar é difícil (e ainda cansativo) por outro, traz resultados efetivos: mesmo contrariado, hoje filho adia menos as tarefas indesejadas e, efeito cascata, vivemos menos conflitos, diria, desnecessários.
Portanto, se você vive o mesmo com seu filho, sugiro experimentar nova estratégia. Com conhecimento de causa, aprendi que o adolescente pode até dominar a arte de procrastinar mas não é invencível.
Talvez, sem querer, filho tenha descoberto que a estratégia feminina de se livrar da obrigação o liberta mais rápido de minha amolação. Talvez não: seja mesmo uma questão de genética com a qual mães precisam aprender a lidar com mais conhecimento de causa. Não importa o que motivou a mudança mas o fato de, finalmente, cada um fazer a sua parte… sem procrastinação.
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4 Comments
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Goatei da dica, vou aderir incansavelmente.
Obrigada!
Legal, Jackeline! Boa sorte e… disposição! 😉😀