Adolescente e consumo: “Mãe, olha esse tênis! É muito maneiro… Tô precisando urgente de um novo, o meu tá sinistro…” blá, blá, blá.
Começou a relação entre meu adolescente e consumo, chegou na fase da vaidade, do gosto pelas marcas e de adotar a loja preferida.
Ainda que não esteja exatamente “precisando” de algo, lá está ele descobrindo (e ME apresentando) diariamente os lançamentos da internet. Sim porque, como deve ter notado, já foi o tempo das propagandas de TV por onde éramos capturadas facilmente pelas tentações consumistas de desejos não atendidos. Hoje, está tudo ao alcance de um simples toque, quase uma versão atualizada da lâmpada de Alladin (será que eles lembram dessa história?).
Incrível a capacidade que tem de formular o discurso mediante a descoberta. Nada muito elaborado não… “Mãe, olha isso! EXATAMENTE o que tô precisando: essa calça!” Quando me busca pela casa em tom de quem descobriu um novo planeta, a cilada está armada: “Olha que site maneiro (limitação de vocabulário, acredite!) que encontrei!” Em seguida, discorre um verdadeiro monólogo sobre a marca, patrocinados (há sempre algum ídolo vinculado), lojas até chegar ao item escolhido (se por sorte não for mais de um) o qual não pode mais viver sem.
Enquanto esse filme acontece, penso intrigada: “por que ele ainda não decorou as benditas fórmulas de matemática? Como não consegue saber todas as capitais do mundo? Qual a dificuldade de relatar os principais fatos da história?” É a prova que preciso para pegar no pé em relação aos estudos… Afinal, iniciativa de pesquisar, ler, entender, memorizar, aprender sobre isso, ele tem. O mesmo não acontece para os estudos!
Já caí no erro de responder à sua abordagem com tais considerações e foi um desastre!
NÃO faça! Mudei a tática e, hoje, respondo com falso interesse: “Mostre! Deixa eu ver.” o que surtiu um efeito (momentâneo) de esperança. A empolgação e confiança aumentam exponencialmente a ponto de encorajá-lo à cartada final: ” Compra prá mim?” fazendo aquela carinha pidona e sedutora do Gato de Botas… Que tentação!!!
Calejada e atenta ao “canto da sereia”, volto à realidade em segundos respondendo: “Filho, você…” e interrompida abruptamente (como sempre acontece) ele diz: “Tá, já sei! Vai dizer que não preciso, que é caro… blá, blá, blá. Mãe, você é um saco!” E sai magoado, resmungando, fulo da vida. Mesmo sendo uma vontade do adolescente e consumo “desnecessário” consciente, eles se chateiam.
Deixo a poeira baixar me perguntando (novamente) intrigada se sou assim tão óbvia e repetitiva… Começo a pensar que somos todos: eu e ele!
Aproveite nossa página do Facebook e compartilhe mais experiências: Clique aqui!
Semana seguinte, em viagem a trabalho, retorno para casa com um presente “com a cara” do meu adolescente o qual achei por acaso durante minha hora de folga. Cheguei em casa e logo o chamei animada fazendo estardalhaço com a surpresa a qual abriu e, com sorriso aberto e olhos brilhantes, gritou animado: “Mãe, que maneiro (ô palavrinha coringa, fala sério!)! Tava mesmo precisando (!) deste tênis!! Você não tem noção… Show! Valeu!”
Fácil perceber que, não importa o momento, meu adolescente-gato-de-botas está sempre “precisando” de algo; nessa relação entre adolescente e consumo, difícil é resistir e provar que a recompensa de quem sabe esperar tem o gosto especial da surpresa que torna o momento muito mais saboroso. E disso sim, todos nós precisamos!
No Comments