A missão de formar outro ser
Quando nasce um bebê, nascem pais orgulhosos de filho. Afinal, a “cria” é a concretização de sua maior realização. Invadidos por uma mistura de medo e alegria, pais vivem a desafiadora função de serem responsáveis por outro indivíduo dedicados a darem seu melhor.
Ainda que assustados, não medem esforços para desempenhar a função com esmero aprendendo na prática e, no começo, também na teoria. Assim, cada avanço do bebê é celebrado como feitos dignos de Oscar e, entre sorrisos e choros prontamente correspondidos e atendidos, pais confortam e suprem suas necessidades de forma natural e, por vezes, até prazerosas.
Na adolescência, contudo, toda esta disposição e iniciativa parecem se esvair. Talvez porque o bebê tenha “sumido” e, no lugar dele, um “desconhecido” tomado o lugar, como alguns dizem. Fato é que a dinâmica muda e os conflitos surgem. Pais orgulhosos de filho então vão se tornando intolerantes e desinteressados das novas necessidades afloradas pela fase.
A missão de formar novo indivíduo, no entanto, continua valendo. Tanto quanto antes, filho continua precisando de pais comprometidos em ajuda-lo a viver a fase de transformação com igual dedicação e interesse. Para tanto, não há outra saída senão continuarmos aprendendo a sermos pais… agora de adolescente.
Onde estão os pais orgulhosos
Quando mãe de bebê, fui narcisisticamente amorosa: me embevecia com seus feitos e me admirava com a incrível evolução daquele pequeno ser. Sempre atenta, me desdobrava em cuidados e em energia extra mesmo depois de estafantes dias de trabalho. Decifrar, atender e participar das necessidades e da evolução de filho não era dever; era amor.
Pais orgulhosos de filho não medem esforços para atender seus desejos (até os mais silenciosos) e cerca-lo de cuidados. Como super-heróis, desenvolvem habilidades um dia inimagináveis. Nem a mais exaustiva rotina torna a missão de formar outro ser menos inspirador. Pelo contrário: formam perseverantes pais orgulhosos de filho.
Então chega a adolescência e, sem aviso prévio, pais orgulhosos de filho mudam para pais intolerantes… e perdidos. Nem as profecias sobre a difícil fase parecem nos precaver da da queda de disposição e interesse por seu mundo. De repente a dinâmica, antes cansativa mas instigante, fica penosa e sem graça.
Pais nessa fase não querem aprender mais nada. Oniscientes, esperam obediência irrestrita. Intolerantes, desconhecem o processo de transformação pelo qual filho passa. Autoritários exigem autoridade na luta infrutífera de manter a dinâmica de outrora. Cansados, esquecem os motivos pelos quais foram um dia pais orgulhosos de filho.
Pais mudam porque não mudam quando filho muda
Um dia, o pai desabafou:
– Ele não me ouve! Quando mando fazer uma coisa, me enfrenta; Está sempre querendo discutir tudo, saber o porquê de tudo! Que saco! Só quero que me obedeça! Onde foi parar aquele garoto bom, parceiro que me escutava e me atendia? Depois, quando algo dá errado, quer minha ajuda! Pra isso, eu sirvo, né?
Reconheci naquele pai o que um dia vivi com filho. Suas palavras refletiam a angústia de não saber mais como lidar com filho então adolescente. Na fase de (in)tensa transformação, filho não mais repetia os passos do pai. Dava novos, tentava outros, fazia diferente, argumentava, questionava, experimentava outros caminhos enquanto pai… se ressentia de toda esta mudança.
Pais sucumbidos
A adolescência é mesmo fase desafiadora; para todos. A exaustiva – e rica – dinâmica da infância é gradualmente substituída por um mau relacionamento com filho adolescente graças a um cansaço crônico e interesse morno sobre o novo ser em formação.
À medida que o tempo passa, pais orgulhosos de filho passam a ser pais cansados e desinteressados. Entre o desejo bucólico e a responsabilidade realista, pais se perdem da missão, sucumbem ao desconhecimento sobre a fase e, enfim, paralisam.
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Pais orgulhosos de filho
O trabalho sempre será exaustivo mas também compensador. Humanos que somos precisamos nos entender eternos aprendizes e, assim sendo, crescer e nos aprimorar continuamente também como pais e mães.
Independente da fase – e das expectativas em relação a filho – haverá sempre motivos para se fazer (re)nascer pais orgulhosos. O que nos falta são olhos para enxerga-los além da superfície e continuar nos maravilhando com o dom de sermos pais e mães… também de adolescente.
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