Novo ciclo de vida de filho adolescente é pra ser bem vivido

Novo ciclo de vida começa

Concluído ensino médio, feito vestibular, filho comunica seu novo ciclo de vida:

– Mãe, tô indo pra São Paulo. Vou participar do campeonato de game e, tudo dando certo, a equipe alça vôo mais altos…

Estupefata (não lembro de outra palavra pra descrever minha reação), lembro de responder só:

– Como assim? O que cê tá falando?

– Saco, mãe! Lembra? Conversamos sobre isso e acordamos que o vestibular seria o tal “plano B” que falamos pra esse ano. Aconteceu o plano A: só isso!

Pirei. Tomada por um turbilhão de emoções, a mente e o corpo chiaram: “Parem o mundo! Quero descer”, pensei atordoada. De fato, fizemos aquele acordo; só não contava que o tempo passaria tão rápido. “Como então lidar com o novo ciclo de vida… dos dois?”, me perguntei intimamente perturbada.

Renovação para todos

Ainda que adolescente, filho estava decidido: viveria novo ciclo de vida realizando os planos cuidadosamente cultivados nos últimos anos. Ainda que mãe, sofri por não mais poder impedi-lo como antes: agora é “de maior” e faz planos próprios.

De fato, o acordo selado trazia essa possibilidade. A opção, inicialmente pouco factível, virou realidade. Protegida pelo auto-engano, me esquivei de me preparar pra ela e, então, me restou sofrer.

Mais um ciclo e, mais uma vez, sou invadida pelo medo do desconhecido. Um medo diferente mas, ainda assim, medo. Se antes temia a aparente prostração e insegurança de filho adolescente diante do mundo, agora temo o contrário: sua ousadia de buscar exatamente o que me aflige, ou seja, o desconhecido.

Influenciada por mídia e especialistas que insistem em demonizar a geração atual, enxergava filho pouco decidido e o rotulava de inseguro e sem perspectivas. Na verdade, o decifrava mal e até o subestimava.

Surpreendida com a determinação de concretizar o plano intima e pacientemente nutrido por anos, me surpreendo com seu desejo de vôo solo angustiada: não será hora de também me renovar?

A lente inspiradora

Passei dias atormentada com a notícia: se já ressentia a falta do meu “chaveirinho” de todas as horas nos últimos anos, como seria agora realmente longe dele?

A sensação era de perda, como se “o mundo” o estivesse roubando de mim. Dividi o sentimento com outra mãe que logo me contou sua experiência:

– Amiga, quando filho decidiu morar sozinho pra estudar fora, senti o mesmo: medo e angústia. Me perguntava como o mundo (“de novo, o mundo”, pensei) o trataria e vice-versa. Pela primeira vez enxerguei o rapaz que havia se tornado sem eu perceber. Me assustei também! Filho sempre será nossa criança e quando nos deparamos com novos ciclos, nos assustamos. Trate de encarar de outra forma: a vida é de ciclos pra todos, inclusive pra você! Se mudar sua lente, enxergará novas possibilidades pra você também. E isso, não tem preço… se bem vivido.

Seu relato me inspirou. De fato, precisava mudar minha lente (“de novo?” pensei). Passados dias de angústia digerindo a insegurança da solidão e vendo filho se jogar para o mundo, absorvi o impacto da notícia e mudei a lente efetivamente.

Novo ciclo de vida é chance de crescer, desenvolver, aprimorar… de se renovar. Inspirada pelas novas perspectivas de filho, criei minhas próprias metas e passei a buscá-las com a mesma determinação. De fato, ciclos de vida são para todos; precisava aproveitar mais esse.

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Bem vivido, não tem preço

Nesse novo ciclo de vida de filho adolescente descobri o quanto posso e devo planejar e realizar também. Cultivar novas aspirações me nutre a alma, dá sentido à existência e renova meu propósito de viver uma vida bem vivida.

Reenergizada, vivo o novo ciclo agradecida: se antes vivia longe de filho estando tão perto, dessa vez, vivo a nova fase junto dele ainda que longe. Cada novo ciclo de vida de filho me angustia; mas aprendi a trocar a lente e enxergar oportunidades… E isso, bem vivido, não tem preço.

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