amiga de filho adolescente

Não sou amiga de filho adolescente

by Xila Damian

Perco o amigo mas filho, não

Conheço pais que se intitulam amigos de filho adolescente; conheço mães que querem e se orgulham de se tratarem como amiga de filho adolescente. O título “amiga de filho adolescente” me intriga:  Será que não querer/ser amiga do meu filho é problema?

Tenho poucos e leais amigos, homens e mulheres, o que pra mim é um privilégio. Com eles, confidencio segredos, troco percepções e também mostro meu pior. O apoio e a aceitação são mútuos mas também nos cutucamos imbuídos no desejo de despertar o melhor do outro… ou o que pensamos ser melhor do outro.

Portanto, sabemos que entre a amizade e a crítica, a repreensão pode minar e até acabar a mais antiga amizade. Não importa quão saudável a relação seja, o que tenho com filho adolescente é – e a meu ver, deve ser – diferente do que entendo ser amizade.

Fecho com filho para o que der e vier e, diferente dos amigos, tento lhe dar a segurança do amor incondicional e do apoio irrestrito, especialmente nos momentos críticos em que tenho vontade de chutar tudo para o alto e ele, para longe.

Por isso, não tenho a pretensão de ser sua amiga e, sinceramente, creio que ele também não. Na vida real e prática entre mãe e filho adolescente, descobri que há assuntos e situações em que não preciso  – nem devo – viver como amiga.

Mãe, preciso antes de tudo,  assegurar-me no papel de educadora e uma espécie de “facilitadora” de filho principalmente nos momentos de decisões impopulares. Descobri que, independente da circunstância, posso perder o amigo mas filho, nunca.

A confiança de não ser amiga de filho

Não hesito em afirmar: sempre fui mãe presente na vida de filho.  Nem o ritmo frenético do trabalho serviu de bengala para delegar responsabilidades  – e prazeres – maternais a terceiros. Vivi cada fase de desenvolvimento de filhos com muito prazer e participação ativa.

A relação foi de crescente parceria e reforçou a ideia de estar no caminho certo para um vínculo sólido com filhos. Na adolescência do primogênito, contudo, muita coisa mudou. Dentre as mudanças, filho passou a preferir e facilmente me trocar pela companhia dos amigos.

Por um tempo, temi que o tal vínculo não fosse tão forte assim como pensava; que a “amizade” construída bastaria para nos manter unidos em programas, atividades e interesses comuns. Então a fase mudou e, com ela, filho e os papéis de cada um.

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Não sou amiga; ainda bem

Meu adolescente passou a querer privacidade, a nutrir segredos, a viver situações e experiências pessoais sem minha participação e até conhecimento:

– Mãe, você não vai ao show comigo, né?  Vou com a galera… nada a ver você ir com a gente. – disse ele.

– Pô, é aquela banda que a gente ama! Por que não? A gente descobriu o som juntos, lembra? – recorri com um mix de nostálgico apego.

Saco, mãe!  Porque vou com meus amigos! Nada a ver você ir com a gente. Se você for, fique longe da gente, ok? – sentenciou sem dó nem piedade.

Era hora de ampliar horizontes, alçar vôo, construir novos vínculos de amizade, de amor e de parceria.  A vida ampliou sobremaneira e, para formar sua identidade, era preciso expandir as relações para além da família e experimentar o novo.

De repente, a confiança e intimidade mostraram a face da liberdade de falar franca e abertamente o que pensa sem melindres e total aceitação o que, entre amigos, talvez seja menos possível e entre pais e filho, mais factível e sem margem de aceitar programas juntos. A ríspida resposta curiosamente não me abalou e chego a crer que, no caso de amigos, facilmente se desfaleceria.

Cada um no seu papel

Enxergo a segurança parental como alicerce fundamental à relação entre pais e filhos. Filho precisa notar e também sentir pais conscientes, antes de tudo, do seu papel de educadores, responsáveis e apoiadores. Isso não significa impedimento a vínculos saudáveis com filho; apenas diferencia – e clarifica – papéis que, na prática, colabora com a formação de um adulto seguro e emocionalmente estável.

Assumido o meu, restou-me brincar com a situação e, sem ressentimentos (mesmo!), lhe responder:

– Então tá; bom show, filho! Juízo, hein?!

Amiga não; sou mãe

Definitivamente, não sou  – nem penso que deva ser – amiga de filho adolescente.  Deixo a outros atores do mundo adolescente a chance de criar tal vínculo e escrever esta história que, construída com amigos leais, pode até lhe render algum grau de apoio com limites. No que cabe a mim, assumo meu papel de mãe que, a meu ver, é por si só desafiadora o bastante para querer se misturar com outros secundários.

Leia, também, outros artigos que falam das mudanças nas relações com adolescente: Transformação adolescente, O quartel adolescenteBeeeeeijo, mãe!

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