O paralisante medo da solidão
A solidão me assusta. Passei a ter medo da solidão quando me vi sozinha tomando as rédeas da família. Forçada pelas circunstâncias e decidida a levar adiante o projeto familiar tão amorosamente construído, me vi tomada pelo medo da solidão.
Sem saída, me ajustei à nova condição: afinal, o medo impediria meu projeto de seguir adiante. Paralisar seria a morte em vida e meu projeto era muito bom pra ser simplesmente aniquilado pelo medo da solidão. Mas… o que fazer? O medo me espreitava a todo instante: nas novas situações e nas decisões. Era nesses momentos que nos deparávamos e, sem saber o que fazer, me assustava e paralisava.
Dizem que medo é alerta de segurança: nos impede da impetuosidade, de nos lançarmos ao desconhecido. Deduzo, então, que, se mal dosada, essa proteção pode também nos tornar reféns de uma vida inativa e desperdiçada. Ora, se projetos demandam ação e, por vezes, ousadia para enfrentar o desconhecido, o que fazer com o paralisante medo da solidão que tanto me assustava a cada etapa da vida? Projetos não sobrevivem à paralisia; pelo contrário, simplesmente morrem… e viram fantasma.
Desmistificando o fantasma
Inúmeras situações me deixaram entre a paralisia e a ação. A escolha de “sobreviver” e seguir com o projeto de formar adultos saudáveis para o mundo me exigiu encarar, antes, o medo da solidão. Em princípio, a forçada autonomia me causava auto piedade. A solidão pesava, sentia-me incompetente e infeliz de continuar o projeto, então, sozinha.
Vivi meus fantasmas e, ao mesmo tempo, quis desistir. Porém, forças maiores me sacudiam em momentos cruciais de decisão: desde a escolha de nova escola, nova casa até o novo emprego, a nova carreira. Sempre o novo, o novo… a todo o tempo, o desconhecido me cutucava lembrando baixinho: “Seu projeto pode vingar! Só não paralise! Antes de tudo, aja… mesmo com medo!”
Primeiro, agi a contragosto, por pura obrigação. Depois passei a encarar o fundo do poço: agi por sobrevivência. O medo da solidão, à espreita, continuava me assustando. Porém, a cada nova situação, minha atitude de encará-lo desmistificava seu poder. Até que um dia, em vez do susto, desejei conscientemente vencê-lo: o medo da solidão se dissipou.
Fantasma criado, projetos impedidos
Quando filho decidiu alçar voo solo e buscar realizar seus planos preciosamente arquitetados, revivi o medo da solidão. Depois do susto e da angústia, ressurgi inspirada por aquela ousadia adolescente nutrida por anos. Como que revivendo aquela cutucada, escutei o desconhecido me dizer novamente “novos projetos de vida por vir pra você.”
Se por um lado o vácuo de sua ausência me deixa saudades e, por vezes confesso, me deprime, também me sacode para a realidade de toda mãe: daqui pra frente, sou cada vez mais eu comigo mesma. E isso pode vir a ser um novo (e bom!) projeto se bem arquitetado tal qual os outros tantos já realizados.
Formar adultos saudáveis é projeto vitalício pra mães mas também sei que de esforço decrescente a cada novo ciclo. Inversamente proporcional, minha vida que a cada etapa, demanda esforço crescente de viver novos projetos. Por isso mesmo, alimentar fantasmas não ajudam. Não só atrapalham como impedem meus projetos de vingar.
Fantasma vencido, sigo realizando
O medo da solidão vivido no passado é, enfim, fantasma vencido. Tal qual etapas de um jogo, passei de fase, segui adiante, agi pra realizar projetos. Enquanto os concluía, descobria que a razão de meu medo não era a solidão mas o fantasma da dependência emocional de outros. Inesperadamente me redescobri.
Livre da paralisia tóxica que me impedia de realizar projetos, não sou mais refém do outro pra viver. Por isso, apoiar filho em seu voo solo foi uma decisão mais fácil (apesar de angustiante). Afinal, a vida é nada mais que uma historia feita de projetos que demandam ação o tempo todo; injusto impedi-lo de escrever a sua.
Medo da solidão? Ainda que continue à espreita, agora conheço suas artimanhas. Surpreendentemente, já não me assusto mais; sigo realizando meus projetos e, assim, continuo escrevendo a minha historia também.
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[…] – Não consigo mais conversar com o Fred. Sempre com a Carol, enfiados no quarto pra comer, estudar, dormir… Falamos o trivial. Não consigo desenvolver uma conversa, saber como está sua vida, a escola… tudo lhe parece enfadonho. Já falei pra ele: minha casa não é hotel! Pior é que, depois, me senti mal pelo que disse. Fala pra mim: tô exagerando? […]