imediatismo da adolescência

O imediatismo da adolescência: pais seguros, filhos maduros

by Xila Damian

Exercício de amadurecimento

Adolescente é imediatista. Como se não houvesse amanhã, quer tudo pra agora, de preferência já. A perspectiva adolescente é que seus interesses tem a urgência de uma tragédia. O imediatismo da adolescência requer habilidade dos pais de ensinar que o mundo não gira em torno de seu umbigo.

Frases como “me leva agora”, “já tá vindo?”, ” por que a demora?”, “preciso agora” eram frequentes. Não sei exatamente quando começou mas o filho adolescente esperava que atendesse suas necessidades imediatistas como uma prioridade inegociável e exclusivamente dele.

A adolescência é uma espécie de limbo: dividido entre a trabalhosa autonomia adolescente e a cômoda dependência infantil, meu filho reclamava meu suporte prá tudo. Quando não atendido prontamente, se ressentia. Com o tempo e as frustrações de não ter seus planos prontamente concretizados na hora que esperava, entendeu: conter o imediatismo da adolescência era exercício de amadurecimento.

Resistir dói

Segui uma rotina intensa de cuidar, brincar, entreter, antever, reconhecer e atender os desejos do filho-bebê como necessidades inadiáveis. A dependência de criança justificava o imediatismo daquela fase. Apesar da canseira, administrei a rotina priorizando a agenda do filho por razões óbvias: ele precisava de mim pra tudo.

A criança agora é adolescente e a dinâmica mudou. A agenda de cada um ganhou sua própria autonomia e responsabilidades. Nessa fase, em vez de atendê-lo a cada desejo/necessidade, hoje pondero e negocio; em vez de fazer, ele tenta primeiro, pensa em opções.

Não demorou e as reclamações começaram:

Saco, mãe! “Antigamente” você arrumava minhas roupas… – reclamava.

– Pô, mãe, dá um jeito aí no trabalho… vem me buscar agora… saco! – resmungava.

– Mãe, cê tá onde?  Já saiu?  Tô te esperando faz um tempão! – queixava-se.

Resistir ao imediatismo da adolescência foi doloroso. Os mimos comuns da fase infantil agora se tornariam permissivos ao seu desenvolvimento. Precisava lutar contra a tentação de atendê-lo a cada pedido prontamente;  precisava incentivar não só a autonomia mas também o respeito aos limites do outro. Os “mimos”, portanto, se restringiram a momentos especiais e ele percebeu.

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Vencendo o imediatismo da adolescência

Minha “súbita” mudança de comportamento forçou a barra do filho adolescente. Inseguro de tomar a dianteira das situações, o filho se vitimava  e esperava solução imediata aos seus problemas. Essa manobra não era boa. Por isso, antes que se tornasse um jogo de manipulação e poder, arrisquei nova estratégia: a de dividir minha própria experiência em perder mimos e ganhar autonomia.

Um exemplo prático que lembro, foi quando:

1- Em momento descontraído, sem anúncios do tipo “quero conversar com você” ou lição sobre “a importância de considerar o outro”, contei-lhe uma situação vivida. “Lembro uma vez que a vovó demorou pra me buscar na escola porque estava em uma reunião… Fiquei fula da vida por ter sido a última a ir embora. Foi muito ruim sobrar…”, confidenciei.

Compartilhando uma situação de espera e a consequente irritação e impaciência, demonstrei que a frustração de não ser atendida na hora que queria não era privilégio dele mas de todos.

2- O filho logo reagiu comentando sua própria história, reconhecendo a situação: “Igual aquele dia em que voltei do inglês com uma garota da turma que mal conhecia porque você tinha dentista. Morri de vergonha. Fiquei p. da vida contigo…podia ter marcado outro horário, né?”

3- Atenta, não caí na cilada de me justificar nem de ponderar. Continuei: “Claro que lembro! Hoje vocês até conversam, né? Eu, já tive que pegar ônibus pra voltar pra casa. Lembro que senti o maior medo… mas aprendi a pegar ônibus. Desde aquele dia, não dependi mais da vovó pra me buscar. Até gostei depois.”

Fingindo se importar, retrucou:

– É… foi-se o tempo que você me buscava, né, mãe?

– Nada como ser adolescente né, filho? – respondi fazendo graça.

Em vez de reagir com acusações e reclamações, rimos.

Rimos da “desgraça” do desencontro; uma atitude prática (e trabalhosa) de vencer o permissivo imediatismo da adolescência. Em outros tempos, essa história seria de cobranças, acusações, vitimização e culpa. Hoje, é de busca por saídas por autonomia; o filho adolescente está amadurecendo.

A saudade que fica

A adolescência é fase de mudanças para filhos… e pais. A criança dependente se torna filho adolescente; é hora de tentar buscar soluções para seus problemas cotidianos com autonomia; é hora de dar asas para filho exercitar o comando de sua vida.

Pais seguros de seu papel desenvolvem filhos maduros. Nessa dinâmica, me restam cada vez menos ocasiões para mimá-lo. É quando que, como que mordendo a língua, lamento baixinho: “ai… que saudade do meu bebê!”

Leituras sugeridas:  Incentivar filho adolescente a buscar autonomia , Educar filho adolescente é empinar pipa,

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