Traduzir filho adolescente conecta. Traduzir o meu me tornou contadora de histórias: tudo virou história pra contar.
Sempre encontrava aquela amiga no salão de beleza. Certa vez, extravasou sobre o filho:
– Nunca pensei que as situações vividas com adolescente poderiam virar historias pra contar. É sempre tão difícil conversar com filho adolescente! Tudo é tirado a fórceps. E pior: sai diferente do esperado! As frases curtas e diretas são verdadeiros enigmas pra mim. Quando fala uma coisa, entendo outra. Às vezes, penso falar língua diferente da dele; é irritante! Estou sempre tentando traduzir filho adolescente!
Entendia aquela mãe: já senti o mesmo. E, como ela, também não sabia quão inútil era reclamar em vez de mudar a história. Primeiro, adolescentes tem natural dificuldade de se fazer entender. Involuntariamente, se comunica mal e, como nós, também se frustram com isso.
Portanto, antes de reclamar, lembre-se: traduzir filho adolescente é jogo de quebra cabeça a ser montado… por mães interessadas em se conectar.
A decisão de mudar
Desconheço outro meio de se comunicar senão na prática. Sei, contudo, que o exercício é especialmente difícil pra mães de adolescente. Não só pelo estranhamento da língua do adolescente mas também pelo natural distanciamento de pais e filhos nessa fase. O que já era difícil fica ainda mais complicado; se conectar com filho adolescente vira desafio de montar quebra-cabeça.
Com efeito, as respostas curtas e diretas de filho davam sinais claros da adolescência recém-chegada. Situações cotidianas facilmente viravam conflitos, fruto da má comunicação que gradualmente aumentava. Cansada de repetir histórias e reclamações sobre a língua do adolescente, preferi mudar. Definitivamente, esperar a fase passar não era mais opção de saída.
A história que se repete
Desejava me conectar com filho adolescente. Pra isso, precisei mudar. Determinada, então, comecei a traduzir filho adolescente. As respostas imprecisas de filho adolescente frequentemente me intrigavam. Por mais que mudasse a forma de perguntar, suas respostas saíam quase que automática e invariavelmente curtas e objetivas.
Notei, então: nem sempre o que dizia era realmente o que parecia. Certo dia, tentei saber mais sobre a festa:
– Me conta: como foi a festa ontem?
– Boa.
– Mas… e o lugar, era bacana? E os shows? – insisti.
– Legal, mãe! Que saco! Que mais quer saber? – respondeu irritado.
Tal qual aquela mãe, minhas conversas com filho também acabavam… antes mesmo de começar.
História difícil de contar
Depois, lendo no meu quarto, filho bateu levemente à porta e disse:
– Mãe, pode falar? Queria te contar uma coisa… nada demais não! Se não puder agora, falamos depois!
Não apenas deixei o livro como atentamente fixei o olhar nele. Primeiro porque o raro momento de conexão com filho adolescente merecia toda atenção possível. Segundo porque sabia, no fundo, que o “nada importante”, dito por filho adolescente, significa exatamente o oposto.
Então, fingindo tranquilidade, esperei que começasse o jogo de quebra-cabeça:
– Sabe a festa?
– Sei… – limitei-me a responder apesar de, intimamente, gritar “conta logo!”
– Pois é, fiquei com a Dani. Sabe… trocamos um beijo… – confidenciou timidamente.
Entre surpresa e aliviada, me deixei levar pelo entusiasmo. Certa de ter lhe conquistado a confiança fui repentinamente traída pelo desejo de saber mais:
– Sééério? Que novidade é essa? Conta mais!
– Saco, mãe! Mais o quê? Só isso! Falei que não era nada importante, pô! – resmungou deixando o quarto.
Pensando bem, traduzir filho adolescente é bem mais difícil que montar quebra-cabeça… ou contar histórias.
O quebra-cabeça
Por mais complicado que seja, traduzir filho adolescente é possível… desde que saibamos fazer nossa parte. Por exemplo, intuitivamente, já sabia que o “nada importante” era seu modo de minimizar algo que lhe importava mas que não queria demonstrar. Como essa, outras frases ditas por adolescentes também dizem o contrário do que parecem.
A dificuldade adolescente de articular pensamento, emoção e fala, na maioria das vezes, compromete a comunicação e acaba por frustrar sua tentativa de diálogo. Por isso suas respostas curtas e diretas: lhes são possibilidades mais seguras.
A prática, contudo, pode acusar o contrario também. Por exemplo: “bem” é uma palavra curta e aparentemente direta mas capaz de esconder problemas e inquietações que filho adolescente não sabe dividir. Vinda de filho adolescente, esta palavra ganha diferentes significados. “Como foi na prova de física?”, perguntava. “Bem”, e a nota mostrava o contrário. Portanto, por trás de um “bem” adolescente, pode haver alertas úteis a pais.
“Mal” é outra palavra curta e, a principio, direta. Porém, dita por adolescente, ganha diferentes sentidos. Pode ter conotação, de fato, ruim; mas também não tão ruim. Pode ser sinal de problema ou não. Enfim, pode ser o que parece mas também não ser. Mas, com certeza, é um “obrigado por perguntar; não sei como falar mas se puder me escutar…”
Por essas e outras, traduzir filho adolescente é desafio de quebra cabeça: e como tal, demanda dos pais, antes de tudo, paciência. Do contrário, desistimos antes mesmo de começar.
Desafio muito maior
Para o adolescente, frases curtas e diretas é meio de poupar esforço e frustrações por não se fazer entender. Por isso, não me irrito mais com frases curtas e diretas de filho adolescente. Em vez disso, as enxergo como oportunidade de ajudar filho a montar o quebra-cabeça da comunicação.
Traduzir filho adolescente pode, de fato, irritar. Montar quebra-cabeça, idem. Tudo depende de paciência disponível pra superar os desafios do exercício. Pensando bem, traduzir filho adolescente é muito mais difícil que montar quebra cabeça… e proporcionalmente muito mais instigante. Também, por que não seria? Conectar com filho adolescente é desafio fundamental na formação de adulto melhor para o mundo! Ou será que nem isso você entendeu?
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[…] as intempestivas mudanças de humor, o distanciamento repentino, a introspecção solitária, a negatividade assustadora, a irritação despropositada, a crítica ácida, a reatividade desproporcional. Mãe de adolescente perdoa a alergia aos pais! […]