O Exemplo distorcido de beleza traz danos irreparáveis ao adolescente
Festas de fim de ano nos traz quilinhos a mais. Somos privilegiados de contar com a chance de reunir a família ao redor de uma ceia abastada e, salvo exceções, calórica. Nunca imaginei, porém, que a bonança da mesa farta poderia se tornar uma cilada para jovens que sofrem de distúrbios alimentares.
Neste período de festas (e férias), o cardápio e rotina da família mudam. Comidas pouco usuais e quase sempre calóricas, horários trocados e estendidos contribuem para “sairmos da linha” e ganharmos aquelas gordurinhas temidas e queimadas durante o ano.
Na busca pelo corpo perfeito e magro, adolescentes (especialmente as meninas) buscam incessantemente o padrão de beleza apregoado por seus modelos de perfeição. Não importa como, a meta é perder peso. A referência adotada pode ser desde beldades do mundo artístico como as nem tão beldades assim como como eu e você, por exemplo. O padrão de beleza distorcido é quem ditará as regras.
Involuntariamente, mães obcecadas pelo padrão de beleza perfeito podem dar subsídios para sua adolescente desenvolver distúrbios alimentares. O exemplo distorcido dentro de casa torna filha adolescente suscetível à anorexia, bulimia e, até, ao suicídio. A busca incessante do corpo perfeito pode trazer danos irreparáveis à vida do adolescente (e dos pais) que cai na armadilha sem perceber.
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Adolescentes com distúrbios alimentares sofrem danos quase sempre irreversíveis
Há exatos dois anos, não via aquela amiga com quem cresci. Vaidade foi sua marca registrada. Invejava sua disciplina e os cuidados pessoais que a tornavam a garota “perfeita”. Não fossemos amigas, a odiaria por ser tão perfeita.
Passada a boa surpresa do reencontro, a mudança visual era notória: acima do peso usual, semblante triste, olheiras, cabelo pouco cuidado. Aquela mulher alegre e de silhueta impecável se tornara uma lembrança distante apesar do curto intervalo de tempo afastadas.
Relembramos as boas memórias de uma juventude saudável, feliz e “invejável”, disse-lhe sem rodeios. Um tímido sorriso surgiu em seu rosto; dois anos antes e no mesmo período de festas, seu drama começou:
– Naquele ano, depois de viver as festas de fim de ano com a habitual fartura dos encontros em família, vivi em casa a dor de ver a Ana definhar. Para eliminar o peso ganho naquele período, iniciamos uma dieta juntas. Ao contrário de mim, ela continuou a dieta escondida e passou a sofrer de distúrbios alimentares – confidenciou-me.
Assustada com a história, não consegui dizer-lhe nada. Continuou:
– Meu exemplo de busca pelo corpo perfeito foi distorcido. Influenciada por mim, minha filha adolescente desenvolveu a anorexia e bulimia; se achava gorda, “fora dos padrões de beleza” que eu mesma seguia. Não sabia o mal que estava causando à minha própria filha dentro de casa.
E concluiu…
– Perdi o prazer de preparar e comer as belas ceias de Natal. Hoje, representam culpa e medo. Tudo ficou sem graça. Nunca pensei que as festas se tornariam um saco prá mim!
Confusa e sem saber o que dizer, a abracei em silêncio.
Pagando o preço alto de cair na armadilha da dieta Pós-Festas
Sempre gostei das festas de fim-de-ano: reunir e celebrar em família incluía comer junto. Sim, o período de festas é um álibi poderoso para “sair da linha” e “enfiar o pé na jaca” se é que me entende. Isso se estende ao filho adolescente que, além de tudo, está de férias!
A ocasião é especial porque, além das festas, não há compromisso com nada. O que importa é experimentar novos sabores, viver novas experiências, sair dos “padrões” e da rotina. O período é de alegria e descontração.
Pensar que viver este período pode influenciar filha adolescente a desenvolver distúrbios alimentares é assustador. Imaginar que o exemplo de pais de adolescente pode ser erroneamente percebido e adotado pelos filhos é aterrorizante.
Aquela amiga, de fato, sempre foi vaidosa mas longe de ser uma obcecada por padrões de beleza. Adotou para si hábitos saudáveis desde a adolescência mas nunca demonstrou dedicação exagerada que justificasse a terrível doença que vivia.
De uma percepção errada, sua adolescente tornou-se obcecada pela beleza perfeita usando sua mãe como espelho. Não mediu esforços para buscá-la e caiu na armadilha da dieta pós-fim-de ano. Pagou um preço alto por isso e estou certa de que a mãe pensa o mesmo.
O verdadeiro desejo das famílias nas festas de fim de ano
Escutar aquela história mexeu comigo. Me dei conta da vulnerabilidade de nossos adolescentes e a imensa responsabilidade de sermos exemplo para os filhos. A possibilidade de uma interpretação distorcida da realidade também nos deixa vulneráveis como pais: não basta falar; é preciso dialogar e reforçar idéias, minimizar possíveis distorções.
Educar filho adolescente em um mundo tão exigente e “fazedor” de celebridades perfeitas e mulheres irretocáveis exige ainda maior atenção sobre a interpretação distorcida da beleza a todo custo: ciladas cujos danos irreversíveis são, muitas vezes, um caminho sem volta.
Que as festas de fim de ano sejam oportunidade de encontros em família, descobertas de novos sabores e experiências saudáveis. Que vivamos a alegria do convívio familiar e o privilégio da mesa farta sem culpa ou medo. Não será este o desejo de todas as famílias nas Festas de Fim de Ano?
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