Disturbios alimentares

Distúrbios alimentares na adolescência

by Xila Damian

O Exemplo distorcido de beleza traz danos irreparáveis ao adolescente

Festas de fim de ano nos traz quilinhos a mais.  Somos privilegiados de contar com a chance de reunir a família ao redor de uma ceia abastada e, salvo exceções, calórica.  Nunca imaginei, porém, que a bonança da mesa farta poderia se tornar uma cilada para jovens que sofrem de distúrbios alimentares.

Neste período de festas (e férias), o cardápio e rotina da família mudam.  Comidas pouco usuais e quase sempre calóricas, horários trocados e estendidos contribuem para “sairmos da linha” e ganharmos aquelas gordurinhas temidas e queimadas durante o ano.

Na busca pelo corpo perfeito e magro, adolescentes (especialmente as meninas) buscam incessantemente o padrão de beleza apregoado por seus modelos de perfeição.  Não importa como, a meta é perder peso.  A referência adotada pode ser desde beldades do mundo artístico como as nem tão beldades assim como como eu e você, por exemplo.  O padrão de beleza distorcido é quem ditará as regras.

Involuntariamente, mães obcecadas pelo padrão de beleza perfeito podem dar subsídios para sua adolescente desenvolver distúrbios alimentares.  O exemplo distorcido dentro de casa torna filha adolescente suscetível à anorexia, bulimia e, até, ao suicídio. A busca incessante do corpo perfeito pode trazer danos irreparáveis à vida do adolescente (e dos pais) que cai na armadilha sem perceber.

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Adolescentes com distúrbios alimentares sofrem danos quase sempre irreversíveis

Há exatos dois anos, não via aquela amiga com quem cresci. Vaidade foi sua marca registrada.  Invejava sua disciplina e os cuidados pessoais que a tornavam a garota “perfeita”.  Não fossemos amigas, a odiaria por ser tão perfeita.

Passada a boa surpresa do reencontro, a mudança visual era notória: acima do peso usual, semblante triste, olheiras, cabelo pouco cuidado.  Aquela mulher alegre e de silhueta impecável se tornara uma lembrança distante apesar do curto intervalo de tempo afastadas.

Relembramos as boas memórias de uma juventude saudável, feliz e “invejável”, disse-lhe sem rodeios.  Um tímido sorriso surgiu em seu rosto; dois anos antes e no mesmo período de festas, seu drama começou:

– Naquele ano, depois de viver as festas de fim de ano com a habitual fartura dos encontros em família, vivi em casa a dor de ver a Ana definhar.  Para eliminar o peso ganho naquele período, iniciamos uma dieta juntas.  Ao contrário de mim, ela continuou a dieta escondida e passou a sofrer de distúrbios alimentares – confidenciou-me.

Assustada com a história, não consegui dizer-lhe nada.  Continuou:

– Meu exemplo de busca pelo corpo perfeito foi distorcido. Influenciada por mim, minha filha adolescente desenvolveu a anorexia e bulimia; se achava gorda, “fora dos padrões de beleza” que eu mesma seguia.  Não sabia o mal que estava causando à minha própria filha dentro de casa.

E concluiu…

– Perdi o prazer de preparar e comer as belas ceias de Natal.  Hoje, representam culpa e  medo.  Tudo ficou sem graça.  Nunca pensei que as festas se tornariam um saco prá mim!

Confusa e sem saber o que dizer, a abracei em silêncio.

Pagando o preço alto de cair na armadilha da dieta Pós-Festas

Sempre gostei das festas de fim-de-ano: reunir e celebrar em família incluía comer junto.  Sim, o período de festas é um álibi poderoso para “sair da linha” e “enfiar o pé na jaca” se é que me entende. Isso se estende ao filho adolescente que, além de tudo, está de férias!

A ocasião é especial porque, além das festas, não há compromisso com nada.  O que importa é experimentar novos sabores, viver novas experiências, sair dos “padrões” e da rotina. O período é de alegria e descontração.

Pensar que viver este período pode influenciar filha adolescente a desenvolver distúrbios alimentares é assustador.  Imaginar que o exemplo de pais de adolescente pode ser erroneamente percebido e adotado pelos filhos é aterrorizante.

Aquela amiga, de fato, sempre foi vaidosa mas longe de ser uma obcecada por padrões de beleza.  Adotou para si hábitos saudáveis desde a adolescência mas nunca demonstrou dedicação exagerada que justificasse a terrível doença que vivia.

De uma percepção errada,  sua adolescente tornou-se obcecada pela beleza perfeita usando sua mãe como espelho. Não mediu esforços para buscá-la e caiu na armadilha da dieta pós-fim-de ano.  Pagou um preço alto por isso e estou certa de que a mãe pensa o mesmo.

O verdadeiro desejo das famílias nas festas de fim de ano

Escutar aquela história mexeu comigo.  Me dei conta da vulnerabilidade de nossos adolescentes e a imensa responsabilidade de sermos exemplo para os filhos.  A possibilidade de uma interpretação distorcida da realidade também nos deixa vulneráveis como pais: não basta falar; é preciso dialogar e reforçar idéias, minimizar possíveis distorções.

Educar filho adolescente em um mundo tão exigente e “fazedor” de celebridades perfeitas e mulheres irretocáveis exige ainda maior atenção sobre a interpretação distorcida da beleza a todo custo: ciladas cujos danos irreversíveis são, muitas vezes, um caminho sem volta.

Que as festas de fim de ano sejam oportunidade de encontros em família, descobertas de novos sabores e experiências saudáveis.  Que vivamos a alegria do convívio familiar e o privilégio da mesa farta sem culpa ou medo.  Não será este o desejo de todas as famílias nas Festas de Fim de Ano?

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