crítica adolescente

Adolescente “meu malvado favorito”

by Xila Damian

Atire a primeira pedra quem nunca passou pela impiedosa crítica adolescente. No auge de suas certezas absolutas, ele se sente capaz de julgar a mãe com a mais alta régua perfeccionista. Sem hesitar, expõe seus “defeitos” de uma forma naturalmente simples e direta. Ampliando a lente para uma característica até então (quase) imperceptível de sua personalidade.

“Crítica adolescente “Mãe, você fala muito!””

Mãe, você fala muito!”, comentou ele certo dia; de fato, falo (e quem me conhece sabe); Mas falo porque tenho opinião, porque quero trocar idéias, porque penso, porque sou curiosa.. Na verdade, falo porque gosto, mas não daria esse mole pra ele me retrucar tão facilmente.

Contrariada, decidi intimamente, contudo, que “evoluiria” eliminando ao menos este item de minha “lista de imperfeições” que repetidamente surgia da boca de “meu adolescente favorito” e sua crítica adolescente. Passei, portanto, a me policiar e a economizar nas palavras… ao menos, quando perto dele.

Confesso que não sem antes buscar fatos que comprovassem o comentário. A partir de relatos de mães de adolescentes, de leituras de especialistas, de terapeutas, de psicólogos, de estórias de amigos adolescentes do meu adolescente (ufa!), que descobri não ser a única mãe a falar muito e… sofrer crítica adolescente por isso! Um certo consolo me atingiu.

Mãe, você fala muito e alto. Dá prá te escutar de longe!”

Tá, falo muito, quer dizer, falava muito (graças ao seu comentário, evoluí, não notou?); agora… alto!?? Bem, particularmente acho uma tremenda falta de educação falar alto e se “meu adolescente favorito” notou isso. Devo corrigir a tal falha imediatamente; afinal, me considero educada o bastante para não cometer um erro básico como este. Decidi intima (e novamente) evoluir mais um pouco e baixar alguns graus do meu timbre de voz como uma espécie de “ajuste de som”… ao menos, quando perto dele.

Confesso que não sem antes atentar para a forma como falo e notar que havia adotado um timbre mais alto não por acaso, mas quando passei a ter que contra-argumentar REPETIDAMENTE os constantes questionamentos do “meu adolescente favorito” às tarefas básicas do dia-a-dia. Mas, isso não importa neste momento.

Mãe, você fala muito, alto e… sei lá! Precisa falar desse jeito?”  Hãm????? O que quer dizer com “desse jeito”? Será que falo outra língua, outro dialeto? A esta altura, minha auto-estima, em vias de rolar ladeira abaixo (e minha paciência rolar garganta acima), foi salva por um lapso de sabedoria adquirida com o contínuo exercício em busca da evolução:  aceitei a crítica (sim, depois de tudo isso, é crítica SIM!) nua e crua em silêncio (que se dane a evolução!) e,  surpreendentemente, doeu e cansou menos do que eu imaginava!

Diante do alerta subconsciente, interrompi este atalho minado a tempo de evitar uma discussão sem nexo com quem agora se tornou “meu adolescente malvado favorito”.

Escolhi o silêncio (Deus sabe o esforço!) para cuidar do irremediável: da  interminável lista de “defeitos” que ainda estaria por vir, independente da correção de cada uma delas (até porque não é este o objetivo, lembrei em tempo). E foi neste breve (e penoso) silêncio que,  contando até 10 (acho que 20, na verdade), o novo comentário surgiu quando ainda contava dezenove: “Mãe, você respira esquisito...”

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É, há situações que mais vale perder a batalha em nome de simplesmente amar “meu adolescente malvado favorito”. Até porque a estrada da evolução está só começando e é mesmo interminável.

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