Tema comum e reiteradamente negligenciado por pais. Ainda que seja encarado como “natural”, creia: ciúme do irmão adolescente pode ganhar proporção surpreendente quando simplesmente relevado e minimizado como “normal da fase”.
Quando o ciúme do irmão adolescente aparece
São irmãos, adolescentes e… só. Nada mais em comum. Apesar de água e vinho, desde pequenos os irmãos estabeleceram um vínculo saudável. Aí veio a adolescência e, como constatei, tudo muda. Surpreendentemente, também a relação dos dois em que o mais novo passou a sentir ciúme do irmão adolescente.
Normalmente surgem histórias de ciúme do irmão mais velho em relação ao eterno bebê da casa. Em casa, vivi o contrário: o mais novo constantemente inquieto com supostos favoritismos dados ao primogênito. Nem mesmo a proteção e o “desconto” recebidos durante seu crescimento o livrou do ciúme do irmão adolescente.
O típico ciúme do irmão adolescente
Sendo de família grande, vivi na pele as comparações entre os irmãos. Inevitavelmente havia o injustiçado que se sentia menos apreciado ou menos notado; quiçá admirado, caminho perigoso de se perceber menos digno de atenção e amor dos pais.
Ás vezes, este se torna o “rebelde” da casa e tudo vira motivo de reclamar da pouca atenção recebida até quando nem é o caso mas simplesmente a “percepção” disso Tento fugir das generalizações mas é fácil ver casos assim na adolescência quando inesperados rompantes de raiva e mau humor do dito injustiçado são frequentes. Apesar da camaradagem construída nos iniciais anos de convívio, foi assim com meus adolescentes: ciúme aparentemente “normal da fase”.
A diferença de idade dos dois não os afastou, no entanto. Pelo contrário: desde cedo conectados, o mais novo fazia parte do grupo do irmão mais velho. Como um “mascote”, conhecia todos, sabia das fofocas, saía junto e usufruía do “privilégio” de conviver com a turma dos mais velhos da escola.
Por isso não imaginei passar pela fase de ciúme do irmão adolescente notada a partir de um esbravejo prenunciando a briga naquele dia:
– Saco, mãe! Você sempre defende seu queridinho. Você mima ele demais!
O sentido rompante me pegou de surpresa. Queridinho? Mimo demais? De onde surgira esta ideia? – pensei até reconhecer o típico ciúme do irmão adolescente batendo à porta de minha casa… inesperadamente.
Para mudar o “normal da fase”
Viver o papel de mãe que tenta argumentar sobre ciúme de irmão adolescente foi novidade pra mim. Por mais que tentasse e reafirmasse igual amor aos dois, sempre me deparava com a pergunta que nunca calava em sua mente:
– De quem você gosta mais? Mas fala sério…
Repetia o ditado “a grama do vizinho sempre parece mais verde”, perfeitamente útil na explicação desta relação tão delicada… e recorrente nas famílias: somos enfim eternos insatisfeitos com o que temos – reflito um tanto envergonhada.
A tentativa de receber mais atenção e de ser acolhido ficava clara, expunha sua imaturidade emocional. Ao sentir-se ameaçado, tirado de sua zona de conforto, se fazia de vítima na expectativa de ser mais atendido em suas necessidades afetivas o que, invariavelmente me colocava em saia justa entre dar mais ou cobrar amadurecimento.
As diferenças começaram a saltar aos olhos: temperamento, personalidade e identidade mostraram a singularidade até então desapercebida na fase infantil. Enfim percebidas, compreendi a importância – e necessidade – de individualizar o tratamento dado a cada um.
Por tão óbvia, a constatação de que a transformação é individual e pessoal me constrangeu e me fez enxergar que meu amor precisa me capacitar a relacionamentos pessoais, inclusive – senão principalmente – com filhos.
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Conhecer as diferentes “dinâmicas” e suas características e necessidades pessoais me ajudaram a encontrar meios de “personalizar” o relacionamento com filhos. Trabalhoso e difícil mas condição necessária nas relações que prezamos e com filhos adolescentes, virou prioridade e trabalhar a empatia foi essencial para mudar esta história “normal da fase”.
Ciúme de irmão é sinal
Aceitar o outro como é mostra grande parte do amor que sinto pelo outro. Foi assim, reconhecendo o mais novo em suas carências até então desapercebidas, mudei: em vez de relevar proferindo frases feitas ou reagir menosprezando suas observações, acolhi silenciosamente as dicas displicentemente esbravejadas por filho em plena crise.
Passado o calor da emoção, me reaproximava e o abraçava com o consciente intuito de desarma-lo. Atenta à sua reação, dava-lhe a atenção reclamada com acolhimento dado à criança que sente falta de colo de mãe. A atitude surpreendentemente carinhosa lhe permitiu receber o que necessitava: amor individualizado.
Neste primeiro exercício (de muitos outros) de tolerância, aprendemos todos: ciúmes de irmão pode até ser “normal da fase” mas nunca deverá ser sinal inofensivo ou desprezível aos olhos dos pais. Cada um no seu papel, vivendo o desafio de aprender, crescer e se aprimorar na função que lhe é delegada. Sem generalizações; sem clichês… com atenção que cada um merece receber.
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