censura na bienal

Censura na Bienal: entre super herois e vilões, uma sociedade imatura

by Xila Damian

Muito além do conteúdo homoafetivo

A recente censura na Bienal gerou polêmica proporcional a qualquer outra atitude capaz de cercear o direito de escolha do cidadão. O recolhimento dos exemplares de HQ dos Vingadores por seu conteúdo homoafetivo é, no mínimo, notória tentativa de usurpar meu direito de escolher o que ler e pensar.

Mais motivada por discutir a censura do que o conteúdo da tal revista lanço luz, então, sobre questões mais profundas e preocupantes. Assim pergunto: quão vigilantes estamos às reais ameaças de um mundo plural e complexo? Quão competentes somos em distinguir super heróis de vilões? Quão maduros estamos pra combater “vingadores” disfarçados de super heróis que frequentemente atentam contra nosso direito de escolher até o que ler?

Por fim, e não menos importante: como pais de adolescentes, que adultos estamos formando para o mundo? De que forma estamos efetivamente contribuindo para uma sociedade melhor?

A face ardilosa da censura na Bienal enfim revelada

A censura na Bienal, pra mim, foi mais do que atitude homofóbica e atentado à democracia. Ainda que por si só bastassem pra indignar qualquer cidadão com um mínimo de senso crítico, foi clara disposição de usurpar meu direito constitucional e inegociável de cidadania.

Acreditar que a censura na Bienal seja atitude digna de super herói defensor de famílias vulneráveis ao maligno é compactuar com a ideia acintosa de nossa incompetência em formar cidadãos. Afinal, se somos incapazes de avaliar e escolher por nós mesmos o que ler, quiçá educar filho e escolher governantes!

A aviltante atitude antidemocrática tomada pelo prefeito revelou a face ardilosa de governante autocrata e totalmente desalinhado com as expectativas da população que dirige. Uma população plural e ávida por mudanças que a amadureça como sociedade; uma sociedade que urge seres pensantes para o mundo.

Um mundo formado por adultos conscientes, maduros e também autônomos; por cidadãos com senso crítico para decidir e assumir suas escolhas; por jovens aptos tanto a exercitar a democracia arduamente conquistada quanto a defende-la quando atacada como ocorreu no episódio de censura na Bienal.

Não discuto sua opinião sobre relações homoafetivas. Em vez disso, te incito e alerto sobre ameaça maior: a de perdermos o foco da missão de formar adulto melhor para o mundo. A censura na Bienal não pode nos afastar do dever de educar filho para ser protagonista de sua vida. Portanto, atentemos ao verdadeiro vilão dessa historia. Decerto não é o conteúdo homoafetivo.

Uma sociedade afrontada pelo desrespeito à diversidade

Apoiar a censura na Bienal é respaldar dependência patriarcal; é perpetuar sociedade imatura e incompetente de si mesma; é chancelar Estado pretensioso e, além de tudo, preconceituoso; é validar o roubo das rédeas de nossa vida. É, enfim, impedir o amadurecimento de uma sociedade já deveras atrasada.

A atitude intervencionista e homofóbica do prefeito mostra uma sociedade afrontada por decisões achincalhantes que nos privam de amadurecer socialmente. Ainda: que mascaram graves deficiências de uma população plural desrespeitada em seus direitos individuais.

A censura na Bienal é, em suma, determinação inadmissível a uma democracia. Especialmente quando o super herói disfarçado tenta impingir suas crenças pessoais sobre uma população muito mais múltipla do que seu limitado mundo. Sua subliminar mensagem de que necessito dele pra garantir e exercer minha cidadania é simplesmente aviltante. Definitivamente, não preciso.

Por uma sociedade madura e competente pra escolher

Não sou nem crio filhos pra serem vítimas de super heróis justiceiros. Pelo contrário: formo protagonistas de uma sociedade plural e, a priori, democrática. Pra isso, fomento senso crítico em filho e me mantenho alerta.  Afinal, ameaças como a censura na Bienal provam a perigosa astúcia dos falsos super heróis: além de apontar falsos vilões, levantam falsas ameaças com base em critérios pessoais e preconceituosos.

Não temo ser “abduzida” pelo mal de revistas de conteúdo homoafetivo mas os pretensiosos representantes da população travestidos de super heróis. Estes mesmos que surpreendentemente desvirtuam direitos constitucionais fundamentais a uma sociedade madura com o vil intuito de abduzir o meu, o seu, o nosso livre arbítrio.

Portanto, pais de adolescentes, vigiemos: formar adultos melhores para o mundo demanda coragem e determinação; não de super heróis vingadores mas de indivíduos autônomos e pensantes; de cidadãos capazes de escolher desde a leitura de uma revista de conteúdo homoafetivo até o representante de uma sociedade plural e complexa. É hora de amadurecermos.

Leituras relacionadas: Politicamente correto insiste em me convencer a não mudar, Desapego de filho adolescente, Adolescente polêmico

No Comments

Leave a Reply