bisbilhotice

Qual a medida certa entre bisbilhotice e segurança de filho adolescente no mundo virtual?

by Xila Damian

Confiança à prova de tecnologia

Privacidade na adolescência é um tema que divide opinião de mães.  Algumas a favor, outras terminantemente contra, todas buscam o caminho do difícil equilíbrio.  A medida certa da bisbilhotice em nome da segurança de filho, de fato, é mais um novo desafio imposto a mães de adolescente na era digital.  Lamentavelmente, ainda não encontrei.

A tecnologia promoveu grandes avanços e, junto, trouxe novos problemas.  Ainda não tivemos tempo suficiente para aprender a equilibrar o uso dos recursos de monitoramento em favor próprio para prevenir filhos das ameaças do mundo virtual. Por isso, equilibrar a privacidade e a segurança de filho se tornou ainda mais difícil hoje.

Independente da novidades digitais, a adolescência continua sendo a fase em que filhos formam sua identidade.  Contar com um local só seu, com sua cara (e bagunça), onde se sinta seguro para pensar, curtir, refletir e fazer o que bem entende é construir seu espaço de privacidade físico.  O virtual, é outra história.

Aprendi a respeitar seu território físico. Segura de respeitar sua privacidade, me enrolei quando, em nome de sua segurança, passei a bisbilhotar seu celular.  Descoberta, filho adolescente perdeu a confiança em mim, o que nem os recursos tecnológicos mais modernos foram capazes de devolver.  Tive que mudar.

Bisbilhotice não é infantil, é desrespeitoso

Aproveitava o sono do filho para acessar seu celular e ler mensagens trocadas com a turma. Logo me deparei com a conversa com a namorada.  Curiosa, lia as mensagens de amor e pensava: “Que fofo.”  Movida pela bisbilhotice, repetia o ritual à espreita em noites alternadas.

Surpresa com a seriedade da conversa, o jovem casal discutia por escrito; outro grupo denunciava os planos de matar a aula de física ; outro, comentava a fofoca do dia. Os diferentes temas do mundo adolescente me prenderam por um tempo. Dormi preocupada com a intensa e despudorada dinâmica digital de registrar tudo o que se discute.

Passei a acessar seu celular toda noite. Acreditava que monitorando suas conversas, assegurava sua segurança até que, uma noite, fui barrada… pelo equipamento. Uma mensagem automática de segurança me impediu de seguir com a bisbilhotice.

Dia seguinte, recebo a mensagem:

– Mãe, você entrou no meu celular ontem?

– Endoidou? Claro que não! – fingindo espanto.

– Por que, então, tenho uma foto sua com a cara estampada na tela com data de ontem? Saco, mãe!  Bisbilhotando minha vida! – esbravejou.

Desconcertada feito “criança com a boca na botija”, fiquei inerte. Envergonhada, apelei a discursos evasivos, desculpas esfarrapadas que de nada adiantaram. Invadir sua privacidade não foi infantil, foi desrespeitoso.

Recuperando a confiança

O comportamento do filho mudou comigo: não descuidava do celular, falava baixinho com os amigos, digitava mensagens à espreita, desbloqueava a tela longe de mim. A falta de confiança era notória e nada que eu dissesse adiantava para reconquistá-la.

A preocupação com a segurança de filho não justificava minha bisbilhotice. Desconhecendo minhas boas intenções, resistia aos meus cuidados até quando realmente necessários. Cada vez mais, me afastava do meu objetivo; precisava mostrar meu arrependimento com atitude.

Conversar aberta e honestamente foi a saída.  Assumi e reconheci os erros de ter feito escondido, sem seu conhecimento, consentimento e motivos claros.  Visivelmente envergonhada do erro, filho baixou a guarda, o que me possibilitou orientá-lo sobre segurança, razão de todo aquele imbróglio.  Mostrar minha vulnerabilidade e humildade me devolveu o crédito perdido.

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Ainda buscando a medida certa

A bisbilhotice é desonesta e traz consequências negativas. Não importa o motivo, o respeito à privacidade (física e virtual) é um valor importante a praticar e sobre o qual ainda tenho muito a aprender. Comecei abandonando a bisbilhotice;  ganhei mais trabalho prá encontrar meios melhores de manter filho seguro.

Tornei-me sua “amiga” nas redes sociais.  Presente na vida real e virtual, hoje tento conversar abertamente sobre o que quero e preciso saber. Às vezes falo sozinha, outras não. A tecnologia é mesmo incrível, mas me desafia diariamente a descobrir a medida certa entre o respeito à privacidade de filho adolescente e sua segurança. Enquanto não descubro, continuo tentando… na base da confiança.

Leituras sugeridas:  O quartel adolescente, Adolescentes nas redes sociais, Educação dos adolescentes digitais

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