Como denunciar quando até adulto é conivente
É assustadora a onda de denúncias que assistimos nos últimos meses sobre assédio sexual. Casos envolvendo celebridades e renomados profissionais de diferentes segmentos chocam o mundo diariamente. Sob uma avalanche de relatos repugnantes e inimagináveis, descubro nossa vulnerabilidade como adultos; que dirá filho adolescente.
Diante dos casos semanalmente divulgados, me sinto cada vez mais aterrorizada não “só” pelo fato em si que embrulha o estômago de qualquer um mentalmente são; sinto igual repulsa dos “coadjuvantes” que, cientes da nojenta prática, se abstêm, lavam as mãos, fingem não saber: não fazem nada.
Em todos os casos de assédio sexual, me intrigava a incapacidade da vítima pedir ajuda. Não concebia a idéia de manter-me calada se vivesse tamanha violência. As justificativas de medo e vergonha não me convenciam. O mais recente caso de assédio sexual praticado no meio da ginástica artística brasileira me chamou maior atenção por um detalhe: a conivência de um terceiro personagem.
Se até o adulto, maduro, renomado, reconhecido, profissional, da área, supostamente responsável por seus alunos atletas, medalhista, famoso ciente da violência não foi capaz de delatar o abusador e apoiar seus jovens “potenciais” como esperar que a vítima vulnerável, imatura, adolescente, desconhecida, amadora, assustada e violentada se sinta capaz de fazê-lo?
Diante desse quadro Injusto, me convenci: não faltam motivos para as jovens vítimas sofrerem sozinhas. Sofrer a violência e ainda ter que encarar suas consequências já é um fardo demasiadamente pesado para um adolescente que não consegue pedir (nem receber) ajuda.
Falhas de caráter irreparáveis
O mais recente escândalo de assédio sexual contra adolescentes cometido pelo conhecido treinador brasileiro de ginástica artística foi mais um dos inúmeros e estarrecedores casos descobertos nos últimos tempos. O choque de tamanha violência se arrastar por tanto tempo bem diante do nariz de tanta gente me fez estremecer.
Pensar que aconteciam em clube “celeiro de atletas”, com treinador “descobridor de talentos” e adolescentes “promissores atletas” prova que assédio sexual acontece em qualquer lugar, independente de raça, sexo, condição social ou financeira. Ninguém está livre de viver essa violência, muito menos filho adolescente.
Não bastava a apavorante história si. A repulsa foi ainda maior ao entender que o igualmente reconhecido e famoso treinador de ginastas olímpicos herdou algumas das vítimas ciente das ocorrências praticadas pelo colega de profissão. Sem nada fazer ainda tripudiou sobre os jovens.
É escandaloso, repugnante, vergonhoso e, mais que tudo, aviltante descobrir que personalidades de nosso mundo “moderno e desenvolvido” demonstrem tamanho desrespeito ao ser humano. É assustador notar a desfaçatez que profissionais “referência” de nossos adolescentes usem máscaras tão impiedosas para esconder suas falhas mais perigosas e irreparáveis de caráter.
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Motivos explicitamente óbvios
Acompanhando a notícia junto de filho adolescente, lancei-lhe minha curiosidade de anos:
– Não entendo porquê a vítima de assédio sexual não pede ajuda a alguém! – comentei indignada.
Visivelmente sensível à notícia, respondeu:
– Saco, mãe! Pensa! O cara vai encontrar o abusador todo dia! Vai ter que provar o que tá falando e não sabe como! Tem vergonha, medo… você viu o outro treinador? Mesmo sabendo, não fez nada! Imagina o abusado!!!
Sua resposta foi duramente esclarecedora. Os fatos, por si só, justificavam o medo e a vergonha da vítima; os motivos explicitamente óbvios me calaram de vez. Minha curiosidade se dissipou. No lugar, ficou só o pesar, a angústia, a dor daqueles jovens vulneráveis, indefesos, assustados e… violentados.
Assédio Sexual: A realidade dura e simples
Mesmo alertando meu filho sobre situações dúbias, comportamentos inaceitáveis e atitudes indefensáveis,sinto cada vez mais a vulnerabilidade da adolescência nos rondar. Essa realidade ameaçadora me limita a orientar, ensinar, alertar contínua e incansavelmente filho adolescente; a acompanhar e participar ativamente de sua vida como tentativa de minimizar riscos, inclusive o de conivencias.
Discutir notícias diárias ajuda. Me pautar em situações, fatos, ocorrências do mundo real primeiro suscitam monólogos cansativos. Depois, se tornam “fóruns” de discussão que ampliam exponencialmente a capacidade de diferenciar o certo do errado com fatos reais. Reforçam valores morais e éticos essenciais.
A violência do “treinador-abusador” junto com a conivência (e o sarcasmo!) do “treinador-herdeiro” evidenciam a carência ética e moral a qual estamos sujeitos. Mais que títulos, medalhas e status, precisamos de indivíduos mentalmente sãos.
A longa e cruel prática exercida sobre aqueles jovens me mostrou uma realidade dura de tão simples: em um mundo de abusadores e coniventes perigosamente disfarçados de “exemplo”, “potenciais atletas” continuam sendo os mesmos frágeis e vulneráveis adolescentes carentes de ajuda.
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